Ela é uma camicase

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❝ Don't Think Twice, It's All Right❞ part/11

Está muito frio. Ela teve insónia, e agora se localiza sentada na calçada de sua casa, encolhida agarrando o casaco. Há uma ventania que faz as folhas alaranjadas do outono, formarem um espiral, girando pela a rua.

Kiara observa a esquina aguardando o castanho.

A noite assim que seus olhos se fecham fantasmas escondidos nos armários saem para os seus pesadelos e, assim que seus olhos se abrem eles voltam para os armários.

Por isso a insônia, não é porque não consegue dormir. Mas, porque não quer ver as assombrações rodeando por sua cabeça, a fazendo refém de seus medos.

Um latido de cachorro a metros da casa fazia o silencio e o redemoinho de folhas, um clima caótico de um bairro normal, de todos os bairros da cidade.

É desanimador ficar sentada sobre a calçada na espera ansiosa, do seu cavaleiro de armadura dourada. Seus pés estão inquietos, batendo-os contra o chão como uma especie de aceleração temporal. Quanto mais frenética as batidas, mais o tempo corria. Um passatempo ilusório, e distrativo.

O monstro de quatro rodas cromadas provoca ruptura nas folhas, que as esvoaçam. Em segundos o Cadillac está diante da garota. Ela fica de pé, vendo Jason saltar do carro e ir calmamente ao encontro dela.

⎯ Aqui está! ⎯ Ele entrega a vizinha um pacotinho de plástico, onde há sangue coletado pelo algodão, e lacrado perfeitamente.

Kiara abre um sorriso satisfeito, mas que se desmancha ao ver uma marca roxa acima do nariz dele. A única marca que há, e ela apesar de pequena ganha grande enfasê no meio dos dois olhos castanhos de Jason.

Como ele conseguiria sangue de Devan?

Não seria pedindo educadamente. Ele aparenta austeridade, e um desconforto em ter que olhar para a vizinha. Algo nela o encomoda.

⎯ Você entrou em uma briga? ⎯ diz aturdida, aproximando apreensivamente dele, levando as mãos na direção do garoto.

⎯ Não toque em mim!⎯ rosnou em pungência, afastando-se da garota, antes que mãos dela pudessem alcançar-lo.

Ela parou anestesiada pela ação incomum do garoto. A face dele é insondavel. Não sabe se ele está com mais nojo ou irá, é uma mistura indiferente que ela nunca viu nele.

Não é a mesma coisa de quando ele lembrou de sua mãe.

⎯ Você tem o que quer. ⎯ Ele falou seco, acenando para o pacote. Insubmisso, e colérico.

⎯ Não precisava se machucar por causa de...⎯ começava ela pacificamente, pronunciando cada palavra ténue. Mas, Jason fungou interrompendo em um risinho aspero, e inflexivel.

⎯ Precisava, sim. ⎯ disse ele, brandindo a cabeça convencido. ⎯ Porque você não se importa se eu tenha me machucado, ou não. Sempre tenho que fazer exatamente o que você quer...estou cansado de ser usado para sua realização vingativa, de ser menosprezado pela sua face desdenhosa. Você diz que as pessoas não se importa com você, mas você se importa com elas?

A amargura o faz parecer amedrontador, fazendo uma sombra negra pairar sobre sua cabeça, e o ar ser mais denso. A Palavras dele são firmes, que faz com que ela se sinta ferida por elas. Ele nunca forá tão maldoso com as palavras quanto agora.

Sem Cores, Sem DoresWhere stories live. Discover now