Capítulo IV

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Parte 1: E não adianta acender sua luz
A luz que eu nunca conheci
Estou do lado escuro da estrada
Mas eu gostaria que houvesse algo que você pudesse fazer ou dizer
Que pudesse me fazer mudar de ideia e ficar
Mas de qualquer jeito, nunca fomos de muita conversa
Então não pense duas vezes, está tudo bem. ⎯ Trecho da música "Don't Think Twice, It's All Right" do cantor Bob Dylan.

"Como se sente quanto a isso?" essa pergunta a fazia ter uma cólera. Mas, quando ditas por Dr. Waldo fazia se autoquestionar.

Kiara ia pelo menos duas vezes ao mês no psicólogo. Depois de um tempo, ela começara a dá atenção a Dr. Waldo, e notara que o homem de pele parda e cabelos caramelizados nas pontas, não tentava a compreender a rebeldia dela, ou tentará a mudar.

Ele não se importava se ela possuía uma doença se alastrando pelas suas células, ou se ela queria se matar.

Não direi o que deve fazer, Kiara. A decisão é somente sua, não posso simplesmente dizer que não deve se matar, porque você tem motivos suficientes para se jogar de um penhasco. O suicídio é como aquela saída mais próxima, precisa escolher qual saída você quer, embora as coisas te empurrem contra elas. Precisa saber se adaptar aos seus sentimentos. A verdadeira felicidade não surge de coisas extraordinárias e grandes, mas de coisas inesperadas, pequenas e insignificantes.

Mesmo sabendo que aquilo era uma forma de psicologia reversa, ela acreditava que era a coisa mais sábia que ouvira o Dr. Waldo dizer.

Ela estar debruçada sobre a janela do Cadillac sorrindo para o alento, e a brisa gelada caminha pela sua face, e seus cabelos flamejantes dançavam vibrantes. As folhas alaranjadas do outono despencavam das árvores, formando um tapete vermelho pela a rua.

A garota flamejante movia os lábios gesticulando "Why'd You Only Call Me When You're High?" era a música que tocava na rádio naquele instante.

Brandia a cabeça conforme as batidas da música.

Pequenas e insignificantes? Uma vingança era suficientemente pequena e insignificante, para que ela se sentisse feliz?

De alguma forma ela estava feliz com a sua vingança. Mais algumas folhas cairão e o outono chegará ao fim. Não precisará tomar mais morfina, e ser sondada por dezenas de agulhas, ou sugar o ar de galões de oxigênio. Não vai ter mais dor, não mais. Sem câncer, sem quimio, sem litros de medicamentos. Sem mais teatro, sem mais roteiros e família narcisista.

Ela não terá com que se importar, porque até o fim do outono nem mais vida a restará circulando pelas veias, a não ser o veneno da eutanásia.

Crueldade?

As cenas da escola aparecem em sua cabeça. Ao cruzar pelas portas duplas da entrada escolar, e iniciar sua jornada comunal pela extensão, seus olhos notam pelas paredes dos corredores os posters com o rosto de Virginia rasgado ao meio, e mais a diante pôsteres rabiscados com referências sexuais. Ela para entre o tumultuoso corredor, e fixa seus olhos no poster.

Aquele devia ser um pesadelo para a irmã do meio. Todos já sabiam e comentavam. Até fizeram um post no "Bossylisten" sobre o assunto. Haviam colocado vários preservativos no armário da castanha, e escreveram a famosa ironia que Jason teria recitado "Virgin?".

Ela merece a vingança, é o que Kiara pensa ao lembra da irmã rindo pelo nariz, enquanto ela está tendo uma hemorragia.

Virginia não voltaria mais para aquela instituição, agora todos sabiam quem era realmente a figura de santidade dissimulada.

Sem Cores, Sem DoresWhere stories live. Discover now