Capítulo V

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O preto é a cor do cabelo do meu verdadeiro amor
Seu rosto tão suave e maravilhoso
Os olhos mais puros
E as mãos mais fortes
Eu amo o chão onde ele está. ⎯ Trecho da música "Black is the color of my true love's hair" da cantora Nina Simone.

Kiara Anderson batia a porta do armário, propagando um barulho estrodoso, em conjunto com as vozes dos outros vagantes.

Das trevas em uma aglomeração rochosa, Jason e seus colegas do time, surgiam com onipotência. Com seus casacos pretos de hóquei, sorrindo e cumprimentando as pessoas com gestos.

Os olhos exóticos dele possam sobre a garota, ela está paralisada escostada em seu armário o encarando também. A marca roxa contiua entre os olhos dele, passando a sua imagem perigosa. Ela sente a dose da culpa se remoendo em seu peito.

Nunca se sentiu tão inferior ao castanho quanto naquele instante. Ela direciona a sua visão para o chão, ainda sentindo a vibração dele te encarar. Kiara rompe por entre a multidão, e foge para o mais longe que pode do garoto.

                               ***

Ele está diante das redes que separa ambas as partes da quadra em duas, sacou o cigarro da caixa, e do mesmo bolso, arrancou um isqueiro preto com detalhes brancos.

O cigarro pendia em seus lábios, ardente numa chama avermelhada. Seus olhos estão distantes encarando a escuridão, como se houvesse algo além da escuridão, que arrastava sobre o fim da tarde.

Está tão cercado pelo desalento que não se deu conta que, uma garota agudamente livida explorava pela quadra, poucos centímetros atrás dele.

Jason tragava profundamente, e soltava a fumaça espessar, largando uma marca enevoada que se esvaia no ar.

A imagem da garota flamejante se materializar ao seu lado. Ele não desviou o seu olhar do foco, apenas a notou de modo tangencial.

⎯ Ainda tem cigarros? ⎯ perguntou ela, amistosamente.
Ele levou a mão no bolso roboticamente, retirando o isqueiro e um cigarro.

⎯ Obrigada ⎯ ela esfregou o polegar e o dedo médio na sobrancelha, acendendo o cigarro e entregando o isqueiro para o garoto, que enfiara no bolso. Ela o olhou de soslaio, abriu os lábios para dizer, mas a insegurança fez duvida do realmente falar, ao ver a expressão distante do garoto.

A cicatriz acima do nariz fez ela sentir um remorso outra vez.
Agora os dois dispensavam uma nevoa pelo alento, anestesiado o silencio entre suspiros, ambos impregnados pela fumaça.

Kiara tossiu forte, inalando demasiadamente a fumaça. Esse era sinal de que não devia encher seus pulmões, de modo tão cruel com a nicotina.

⎯ Como você está? ⎯ Ela não perguntara por educação, realmente gostaria de saber se ele estava bem.

Para a garota, Jason Resten está anormal, nunca passou tanto tempo, sem que ele a cumprimentasse com uma piadinha infantil. Entretanto, ele está insondável.

⎯ Bem.⎯ respondeu sobriamente, olhando para o horizonte, sem nenhuma manifestação de espirito em si.

Ela tentou novamente o arrancar para um diálogo.

⎯ Quer conversar sobre alguma coisa que...⎯ Tentou ela.

⎯ Não, eu não quero conversar. ⎯ Ele interrompeu ríspido, esquivando-se do diálogo. Ainda fitando a escuridão que se estendia, e dando uma tragada no cigarro.

Ela consentiu, dissolvendo as palavras duras dele.

Jason estava a afastando, a evitando, criando uma muralha invisível em torno deles.

Sem Cores, Sem DoresWhere stories live. Discover now