Fim premeditado

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A promotoria havia ligado às quatro da tarde para Dereck Anderson, mal podia acreditar que a filha mais nova orquestrou uma barganha para um suicídio assistido.

As reuniões familiares estão mais constantes, dois dias antes ele teve uma discursão tremenda com a esposa e a filha do meio sobre um vídeo pornográfico, e agora mais uma vez a filha mais nova com outra de suas refutações suicidas.

Sarah Anderson foi a única que talvez não o tenha o feito querer ter exercido reparos na criação. Ele convocou a filha e outra vez a esposa, e discutiram novamente sobre o comportamento da jovem. Quem sabe devesse assinar o pedido, é o que uma voz aconselha na sua mente.

⎯ Kiara não sabe o que está fazendo, em nenhuma das tentativas, e muito menos nesta. ⎯ Articulou ele a esposa, quando a garota saiu pela porta do escritório bufando revoltada.

Dereck Anderson berra para que a governanta abra a porta do carro e direciona a filha desmaiada no banco de trás, os portões da casa abrem e os pneus do automóvel ressoam no asfalto.

A mulher nas escadas da varanda cruza os braços, e perfura as mãos com as garras, notando o carro com a governanta, a filha e o marido sumirem nas ruas.

Kiara teve duas overdoses no mês, depois de tomar doses propositais desregradas de comprimidos. Trancou o seu quarto na segunda vez, tendo em mente que na primeira cometerá o erro de deixa-la aberta, facilitando o acesso ao socorro. Tomou doses a mais que na primeira, desta vez não teria chance.

A sonolência a conduzia ao seu fim premeditado, uma onda delicada e incessante pairava sobre o seu corpo e os seus pensamentos eram filtrados e anestesiados de maneira que sua mente se tornava alva.

Estava calma, e os pensamentos oscilantes mórbidos e obscuro eram extinguidos, até mesmo a voz que ficava esgueirando por seus ouvidos a dizendo coisas horrendas. Sua mãe, suas irmãs, sua doença, as dores não haveria mais importância. As cores desapareciam das coisas, tudo se tornou suportável.

Agnes com as franjas deferidas sobre os olhos, e as roupas justas no corpo corria pelo corredor, uma das copias da chave do quarto da garota presas nas mãos. O homem nervoso batendo os punhos na porta branca exasperadamente, buscando por alguma resposta da filha.

Assim que o murro de madeira que o impedia se abre, ele encontra a filha deitada sobre a cama, sem nenhuma resposta de vida. Ele já sabia que aquilo poderia ocorrer novamente, mas não em menos de uma semana dela ter saído do pronto-socorro.

Fizeram a segunda lavagem estomacal na garota, e indicaram levar para Ala psiquiátrica do hospital, e Dereck voltou a recusar, mesmo depois da mulher o amesquinhar sobre o assunto. Kiara não merecia ser acorrentada em uma cama por mais anos, isso só a deixaria mais deprimida.

⎯ Foi a terceira tentativa.⎯ Ela passa o dedo na marca vertical no pulso. Ela o viu notar a cicatriz no antebraço dela algumas vezes, é sempre muito rápido. Jason volta a olhar a marca e depois para os olhos dela. ⎯ Foram cinco tentativas, e ainda estou viva.

Não há importância em confessar, não restará mais nada dela daqui a algumas semanas. Jamais teve oportunidade de falar sobre os suicídios com alguém, e não é obrigatório falar a Jason. Mas, se sente confortável, talvez seja as pessoas ou o lugar que sugerem ser aprazível, ou o modo que o castanho a olhar que a torna suscetível a revelações intimas.

⎯ É algo ruim não morrer? ⎯ Ambos seus cotovelos estão sobre a mesa, seus braços tensos, como se em um momento não suportassem e pendessem.

A natureza da pergunta dele parecia ser retorica, pois, ela apenas ficou rígida sobre a cadeira e alheada. Os traços sóbrios de sua face, e o movimentos contidos de seu corpo, diz que a menina está em um transe.

⎯ São muitos pensamentos e emoções, são um turbilhão de situações fragmentadas que se tornam uma. Uma junção de todas as dores. ⎯ Ela fala baixo e compassadamente, as palavras parecem desenroscar de sua boca sem consentimento. E o estado de transe ainda a cerca. ⎯ É repentino, embora você tenha esses desejos suicidas e pensamentos já rodeando em sua cabeça. Você fica dopada de fúria, e angustia, e uma força sobrenatural quer que isso acabe. Então, você faz.

⎯ Bloqueia seus pensamentos conscientes contrários ao suicídio, e se joga de uma varanda. ⎯ Respondeu ele.

⎯ Todos temos que sofrer de alguma forma, e é um sofrimento ilimitado. E eu talvez seja fraca por determinar um limite no meu sofrimento, e decidi não o suportar. ⎯ Diz a flamejante, sentindo uma sensação vaga administra-la.⎯ Eu não quero mais viver, não quero mais sentir dor ou medo. Quero parar de ser martirizada pelos meus pensamentos, e quero parar de envenenar essa doença.

⎯ Não precisa se matar, há outras formas de lidar com isso.⎯ Aconselha o castanho, ele diz de um jeito que transparecia ver as coisas com pragmatismo. Esse tipo de reação sempre a aborrecia, eles não conseguiam sentir o que ela sente, apenas enxergam o que querem.

⎯ O que você sabe sobre dor? ⎯ Enfrentou a garota flamejante, o nevoeiro dos olhos dela posou sobre ele. Transfigurou-se para a impenetrável Kiara Anderson. Lá está o início de um conflito, do qual Jason se renderia.

⎯ Coitadinho, sua mãe o abandonou? ⎯ Ela faz um beicinho para teatralizar a tristeza dele. Continuando ríspida.⎯ A minha mãe me abandonou assim que descobriu que eu tinha câncer, as minhas irmãs também. Chorei por quase dois anos inteiro em um quarto de hospital, houve dias que não suportava abrir os olhos.

⎯ Me sedavam dia após dia, enquanto maquinas anunciavam o meu funeral. ⎯ Os lábios dela repuxam em articular cada frase, e o fuzila com aqueles olhos cheio de amargura e rancor. ⎯ Eu não vou... passar por isso de novo. Lutei para não rasgar os meus pulsos com navalha, eu lutei, mas eu não conseguir. Não tinha ninguém, eu não tinha absolutamente ninguém.

Jason fica calado sondando a face dela, ele ver lágrimas brotarem dos olhos frios da garota. Ela o culpa, e o garoto não sabe ao certo em quê. Doia nele vê-la daquele modo, sentiase quase tão amargurado que a flamejante.

Kiara se assusta ao sentir os dedos quentes dele, limpar as lágrimas que rasgavam seu rosto. Foi uma reação inesperada, e dócil. Ela queria muito o abraçar agora e apenas chorar. Seu coração apertava tão forte e incessante. Poderia ordenar para ele fazer aquilo, mas sabe que se pedisse, ele também o faria sem reclamar.

Kiara fica anestesiada, usufruindo do calor dele. Ela fecha os olhos, esperando que ele não veja as lágrimas ainda descerem dos olhos dela. Mas ela sabe que é ela quem não o ver a face dele. Aquilo era melhor que qualquer outra droga que haviam a dado, a sensação de não estar sozinha a aquecendo.

Sem Cores, Sem DoresWhere stories live. Discover now