Capítulo 42

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Pocahontas olhe para mim, eu preferiria morrer amanhã a viver cem anos sem te conhecer. - John Smith, Pocahontas.


Mesmo que não houvesse ninguém além de Eileen e Lyones o acompanhando, Morgan se sentia como se milhares de olhos estivessem fixados em si, o vigiando, revirando cada canto de sua alma. 

O Grande Salão do castelo de Alhena, a Senhora da corte Geminius, era um dos lugares mais sombrios e misteriosos que Morgan já colocou seus pés. 

O Castelo se encontrava no topo da mais alta montanha de Geminius. Tão alto que, ao se aproximar das janelas, Morgan podia ver que estavam bem acima das nuvens. Apesar da elegante decoração, com grandes sofás vermelhos e lustres repletos de cristais, as paredes, o teto e o chão eram de um tom profundo de negro, dando a Morgan a impressão de que tudo estava flutuando em meio à um grande vazio. 

Uma enorme lareira ornava o salão, tão grande que Morgan sabia que poderia ficar de pé em seu interior com facilidade, mas não havia fogo algum, ressaltando o frio de gelar os ossos dentro daquele castelo infernal. 

Mais cedo naquela manhã, Bell havia lhe dito que ela e Collin encontrariam a Senhora durante a noite e o convidou para acompanhá-los. Morgan tentou lutar contra a esperança que nascia timidamente em seu peito, como um tímido raminho nascendo entre pedras, mas era difícil ao ver a confiança estampada no rosto da garota.  

Havia sido uma longa jornada até ali. O caminho íngreme e tortuoso havia espalhado pequenos cortes e ferimentos leves em todos. As asas dos daemons presentes, assim como as delicadas asas de fada de Collin, não eram tão eficientes no frio congelante do topo das montanhas e Collin choramingou por todo o caminho. Bell não havia sido exatamente gentil com ele por isso. 

A dupla havia entrado nos aposentos da bruxa, primeiro. Collin lhes desejou "boa sorte" E Bell piscou um olho, antes que finalmente sumissem pelos corredores escuros. 

Morgan deixou o sofá, com passadas firmes, e se sentou no parapeito da janela, bloqueando boa parte da única fonte de luz do ambiente. 

Ele olhou para fora, ignorando as vozes de Eileen e Lyones atrás de si, enquanto observava o céu arroxeado, tão escuro que beirava ao preto, onde a enorme lua dançava acima de sua cabeça, resplandecente. 

Nenhuma das nuvens se aproximava da grande lua, deixando-a livre para dominar os céus como uma grande rainha inalcançável. Ele fechou os olhos, lembrando-se de como se sentira exatamente daquela forma sobre Aura naquela manhã. Inalcançável.

A interação dos dois havia sido frígida, quase inexistente, desde a briga. A forma como ela o olhara, quando o viu chegando da caçada da Quimera, parecia gravada em sua retina. 

— Tem um espaço para mim? — Ele olhou para o lado, vendo Eileen de pé diante de si. 

A bruxa não estava melhor que ele. Suas roupas estavam repletas de pequenos rasgos e haviam folhas em seu cabelo, no entanto, ela estava sorrindo. 

Morgan se moveu um pouco para o lado, deixando que ela se sentasse com ele, na borda da janela. 

— O que foi? — Ele murmurou, voltando seus olhos para a lua. Sabia bem que a aproximação sorrateira da bruxa não era um bom sinal. 

— Eu queria sair de perto de Lyon um pouco — disse ela, balançando os pés no ar. — Os pedaços da quimera que vocês caçaram estão fedendo muito. 

Morgan ergueu uma sobrancelha para ela, enquanto esperava que ela parasse de enrolar. A expressão receosa da garota se intensificou e ela soltou um longo suspiro. 

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant