Capítulo 84

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"Brilha linda flor, teu poder venceu
Trás de volta já o que uma vez foi meu." — Rapunzel

Depois de seu feito, Faut já previa que alguma consequência cairia sobre ele, mas nunca, nem em seus piores pesadelos pensou que seu pai o jogaria em uma masmorra suja, menos ainda com a aprovação de seu irmão, Florean. Claro, Primrose havia protestado, mas que poder de fala tinha o segundo príncipe contra o rei e o príncipe herdeiro?

No fundo, o terceiro Príncipe sabia que aquilo era apenas um truque de seu pai para assustá-lo e que logo o libertariam, mas isso não diminuía o gosto amargo da decepção.

Ali, naquele lugar mofado, sem poder se comunicar com Eileen, devido a grade encantada para repelir magia, ele era inútil. O único conforto que tinha era que, em poucas horas, os amigos de Morgan invadiriam a cela de Eredor, e salvariam o elfo. Tudo precisava ser feito antes do julgamento, quando os olhos de todos os guardas estariam no elfo e no daemon.

Mas, o que o príncipe não sabia era que, enquanto ele era jogado na cela, o julgamento estava sendo adiantado.

E começaria em breve.

O Tribunal Real de Alexandrita, onde eram realizados os julgamentos do reino, era um lugar intimidante.

Era um grande salão ovalado, sua estrutura erguida em vidro era similar a do castelo, mas não haviam flores crescendo em suas colunas, apenas hera.

Fileiras de assentos, preenchidos pelos mais variados feéricos, estavam distribuídos em quatro andares, que afunilam-se como uma arquibancada, deixando em seu centro um grande espaço circular, com dois pares de algemas presos ao chão, esperando pelos prisioneiros.

O rei Florence, assim como seus filhos, o príncipe Florean e o príncipe Primrose estavam parados alguns metros à frente das algemas, em um silêncio fúnebre, que se contrastava de maneira grotesca contra a balbúrdia da multidão.

Quando as portas duplas do tribunal foram abertas, todos se silenciaram como um só. Nem um único sussurro era ouvido enquanto dois pares de guardas arrastavam os prisioneiros até o centro, obrigando-os a cair de joelhos, para que algemas pudessem ser fixadas em seus pulsos, tornozelos e pescoço.

Abrindo os braços, o rei se voltou para a multidão enquanto anunciava: — Que comece o julgamento.

Uma chuva de urros, vaias e ofensas gritadas fizeram o chão tremer. Os feéricos batiam os pés, as mãos, fazendo o máximo de barulho que pudessem.

Morgan guiou seus olhos para Eredor, ajoelhado ao seu lado. O elfo tinha a cabeça baixa, com seus ombros pendendo miseravelmente para a frente, mal suportando seu próprio peso. Ele parecia tão humilhado, tão derrotado, que o daemon não pôde deixar de pensar que ele parecia mais jovem do que realmente era. Como uma criança perdida, desiludida e sem qualquer esperança.

Já Morgan não se sentia mal ouvindo todas aquelas vaias e insultos, afinal, o daemon não sentia que merecia nada melhor. Ele encontraria seu fim ali e apenas conseguia desejar que tudo acabasse logo.

Ele só podia implorar para qualquer divindade que pudesse ouvi-lo, que ele encontrasse seu raio de sol logo. Onde quer que ela estivesse, ele desejava ser merecedor pelo menos de estar com ela.

— Diante de vocês, temos aqui a criatura daemon Male, também conhecido como Morgan. — Florence continuou a discursar, mas Florean tomou a dianteira, dando alguns passos para frente, parando bem a frente de Morgan.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ