Capítulo 69

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"Eu sempre achei
Que minha vida
poderia ser como uma fantasia
Cada dia uma aventura
Uma nova emoção
Terá sido só... Ilusão" — Cinderella 3

Morgan não colocou muitas coisas em sua mala. Apenas atirou algumas peças de roupa de qualquer jeito para dentro da bolsa e a fechou, aproveitando seu recém adquirido tempo livre para observar seu raio de sol arrumando cuidadosamente suas roupas dentro da própria bolsa.

Os modos de alguém da realeza eram algo que Morgan pensava odiar, até Aura aparecer em sua vida. O daemon costumava achar dolorosamente irritante a forma como eles raramente usavam o dedo mindinho para tocar nas coisas, além de sua postura insuportavelmente reta e gestos fluídos demais. Mas Aura tinha o dom de fazer tudo aquilo de forma adorável, parecendo tão fofa que Morgan tinha dificuldade em se impedir de beijá-la a cada segundo.

A graciosidade com a qual a fada dobrava suas roupas, meticulosamente, antes de empilhá-las era hipnotizante. Ele pôde ouvi-la cantarolar uma música lenta enquanto trabalhava.

— Você vai continuar me encarando? — Ela perguntou, virando-se para ele com ambas as mãos na cintura e um sorriso brincalhão.

— O que posso dizer? — Morgan ofereceu um sorriso atrevido. — Eu fui agraciado com a esposa mais bela de todos os reinos. Por que eu não deveria encará-la?

Aura não respondeu, apenas revirou os olhos enquanto ria e voltava-se para sua arrumação.

O sorriso de Morgan morreu quando a princesa se abaixou para colocar seus vestidos dobrados dentro da bolsa e todo o seu corpo tencionou. Ela ficou imóvel alguns instantes, antes de deixar os vestidos caírem no chão de qualquer jeito.

— Vou pegar minhas coisas no banheiro. — Aura avisou, com a voz rígida, sem olhar para trás.

Quando Aura se afastou em direção a porta do banheiro, Morgan franziu as sobrancelhas para seu andar. Ela parecia cambaleante, apoiando-se na parede para obter sustentação.

Antes que Morgan pudesse correr atrás dela, uma pequena explosão de luz verde brilhante o fez pular. Surgindo em meio a luz, uma pequena carta estava enrolada com uma fita verde sobre sua cama, trazendo consigo um aroma suave de flores.

— Eredor...? — Morgan murmurou para si mesmo pegando o pergaminho, incapaz de imaginar alguém, além do elfo, que lhe mandaria uma carta.

Mas antes que Morgan pudesse desenrolá-lo, um baque estrondoso vindo do banheiro fez o daemon se alarmar.

— Aura! — Ele gritou preocupado, enfiando a carta bruscamente no bolso enquanto corria em direção ao som.

Quando Morgan irrompeu pela porta do banheiro, Aura estava caída no chão. Sua pele tinha leve tom esverdeado enquanto filetes de sangue escorriam por sua boca. Ela agarrava os lados da cabeça, enquanto choramingava baixinho.

— Aura! — Ele gritou, caindo sobre os próprios joelhos para pegá-la.

— M-mor... — Ela murmurou, claramente trêmula de dor, permitindo que Morgan passasse seus braços firmemente ao redor de seu corpo.

Seus olhos cor de âmbar pareciam um tanto sem foco e ela balbuciou mais alguma coisa, que Morgan não foi capaz de entender.

Sem esperar mais, Morgan a ergueu nos braços o mais lentamente que podia. O daemon era capaz de sentir o coração acelerado da fada martelando contra seu peito em batidas erráticas e fracas. No fundo de sua mente, uma vozinha desdenhosa lhe lembrava a forma como ele prometeu que ela definharia até a morte. Você está feliz agora? Ela está definhando, do jeito que prometeu.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora