Capítulo 6

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"Eles dizem que se você sonhar com uma coisa mais de uma vez, essa coisa se torna realidade. — Aurora, A bela Adormecida"

Como folhas ao vento, os dias foram se passando cada vez mais rápidos para os seres da Corte Papoula.

Pelo menos três ou quatro vezes por dia, Yanna se sentava em algum dos bancos espalhados pela floresta primaveril, com a cabeça apoiada no encosto enquanto recuperava o fôlego e se perguntava no que havia se metido. Cuidar da Princesa Aura nunca havia sido uma tarefa tão trabalhosa e a explicação poderia se resumir em quatro pequenas palavras: O Festival da Colheita. 

O Festival da Colheita nada mais era que uma festividade anual, onde cada uma das cortes compartilhava o que havia de melhor em suas terras. A Fértil Corte Dália distribuía alimentos para todos os cidadãos de Alexandrita, as frutas e legumes colhidos sempre estavam mais vividos nessa época do ano. A graciosa Corte Amarílis trazia pinturas, instrumentos e artesanatos, além de belíssimas apresentações enquanto a Corte Papoula, onde estavam, distribuiam suas milagrosas poções, sejam elas para cura, fertilidade ou apenas para embelezar cada vez mais os cidadãos. A festividade era basicamente uma troca de tudo que as cortes tinham de melhor.

E nem era preciso dizer o quão empolgada a jovem Aura estava. A garota andava pela Corte Papoula durante todo o dia, ajudando quem ela pudesse ajudar, conversando com quem pudesse conversar e enlouquecendo Yanna. 

— Anne, vá com calma! — Exclamou Yanna, horrorizada ao reencontrar a princesa, que agora ela fingia ser uma amiga de infância chamada Anne, carregando diversos frascos repletos de um líquido azul fluorescente, que borbulhava de forma suspeita. A garota envolvia os muitos frascos nos braços de forma precária e cambaleava tentando mantê-los longe do chão. — Em nome de todos os deuses, que diabos você está fazendo?

Aura pareceu aliviada quando Yanna recolheu boa parte dos frascos e ajudou-a levá-los para uma enorme cesta bem na entrada da árvore onde as duas estavam residindo. 

— Preciso levar essas poções do sono para Lady Ivyna. — Ela explicou. — Mas tenho que ser rápida ou vou perder as lições de cura da Adda!

— Vá com calma, furacãozinho! — Yanna riu, tomando a pesada cesta das mãos de Aura. — Eu levo pra você.

Dito isso, as duas caminharam pela trilha florida da floresta em direção ao vilarejo onde Ivyna agora as aguardava. Aura seria a responsável por entregar os frascos pra ela e rapidamente voltaria para a floresta primaveril; não era muito seguro ficar no vilarejo central quando se é uma princesa fugitiva. 

A garota deu mais dois passos até sentir sua visão se tornar turva e teve de se escorar em uma das várias árvores que estava no meio do caminho, a fim de manter o equilíbrio, enquanto respirava fundo repetidas vezes e tentava fazer com que seus sentidos voltassem. A princesa Aura diante de sua situação engoliu em seco, era isso que Male queria dizer quando proferiu aquela maldição sobre definhar até a morte, seu corpo se tornava mais fraco a cada ano, a cada mês... E toda aquela agitação e correria, era demais para um corpo tão debilitado como o dela aguentar.

 Ela fechou os olhos, respirando lentamente. Não. Aqueles estavam sendo os melhores dias de sua vida, ela não ia deixar que nada estragasse isso. 

— Anne está tudo bem? — Yanna ao virar a cabeça para trás e perceber que a princesa agora não lhe seguia mais, exclamou assustada — Aconteceu algo?

A garota puxou o ar lentamente antes de olhar para a ruiva e sorri levemente.

— Nada que já não tenha acontecido antes. — Ela endireitou o corpo outra vez, antes de prosseguir — Já me sinto melhor, vamos continuar.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now