Capítulo 82

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"Ao menos eu posso ver você...
Uma última vez" — Fera, A Bela e a Fera

Morgan sentia o desespero alastrar por todo seu corpo, enquanto, em sua forma híbrida, ele voava o mais desajeitado possível, vez ou outra se agarrando em galhos, que pareciam querer arrastá-lo para longe.

Pétalas de todas as cores voavam pelo ar, sendo arrastadas pelo vento e batendo repetidas vezes em seu rosto, fazendo Morgan ter que agitar-se para limpar sua visão.

Enquanto voava, suas feridas se abriam. A dor que se alastrava por seu corpo parecia insignificante, mas a forma como suas asas pareciam rígidas, pouco dispostas a cooperar com seu corpo ferido o faziam tremer de ódio. O sangue escorria, pingando pelo céu como uma chuva carmesim em seu rastro.

Não podia ser tarde demais.

Havia descoberto que Aura ainda estava viva, apenas para perdê-la? Não podia acontecer.

Ele reconheceu o jardim de flores gigantes quanto teve que desviar seu corpo de uma tulipa enorme e então, ainda no ar, Morgan a viu.

Pequenas criaturas coloridas voavam ao seu redor, iluminando seu rosto pálido com as mais variadas cores e parecia tão frágil, seu corpo bambeando levemente. Parecia um esforço terrível manter-se de pé, mas pelo pequeno sorriso em seus lábios, valia a pena.

Repentinamente, o corpo de Aura quase cedeu sobre o chão coberto por pétalas, mas antes que isso fosse feito, Morgan fechou suas asas, despencando-se do ar e voando até ela, segurando-a antes que atingisse o chão e envolvendo-a em seus braços.

Ele apertou seu raio de sol contra si, mal ousando acreditar que finalmente estava sentindo-a, tocando-a, mergulhando-se em seu cheiro. E que não era tarde demais.

— Mor... — Aura sussurrou, levando seus dedos delicados a lateral do rosto do daemon em um toque quase fantasma. — É você...

— Raio de sol. — Morgan sorriu em meio às lágrimas sentindo a mão da fada tremer contra sua pele.

— Você está ferido... — Ela murmurou, levando os dedos ao corte profundo em seu pescoço, que parecia ter voltado a sangrar.

— Não se preocupe comigo. — implorou, vendo a forma como seus lábios pareciam pálidos e secos. — Eu tenho tanto a te dizer.

Morgan disse sem conter as lágrimas. Dias sem saber se ela estava viva, dias achando que nunca a veria mais, dias se culpando, odiando a si mesmo...

— Shh... — Aura pediu, tocando os lábios dele com os dedos. — Preciso que me ouça primeiro.

Ele assentiu, apertando a princesa em seus braços.

— Por favor, não quero que se culpe, nem por um segundo. — Morgan mordeu os lábios, contendo-se para não refutar — Siga em frente, Mor, mais do que qualquer um, você merece ser feliz.

— Sem você?— Ele meio bufou, meio soluçou. — Nunca!

— Sempre impaciente... — Aura sorriu.

Morgan sentia seu peito partir em pedacinhos. Aquele não podia ser o último sorriso dela. Não! Não podia aceitar isso.

Aura o tocou no rosto com o polegar, acariciando-o. Os olhos dele tão verdes e intensos estavam cobertos por lágrimas e um medo desesperador. Talvez medo de lidar com tanta dor. Ela sentiu uma pontada em seu peito ao pensar que nunca mais veria aqueles olhos tão lindos.

E isso pareceu trazer a força que Aura precisava para prosseguir a conversa.

— Morgan, ou Male, acho que não importa na verdade... — Os dedos deslizaram para os fios negros que cobriam seu olho esquerdo. — Estar com você é mais do que eu poderia pedir, é como um sinal de bom presságio mesmo diante do caos. Como um arco-íris, surgindo após a chuva e preenchendo o mundo com suas cores, cores que nunca vi.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now