Capítulo 30

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“Mesmo sem querer, a vida te ensina que você se importar com as pessoas não é motivo suficiente para que elas também se importem com você.”— A Pequena Sereia


Florean, deitado entre os confortáveis cobertores de sua cama, recusava-se a levantar. As cortinas avermelhadas do quarto permaneciam fechadas, impedindo que o sol brilhasse do lado de dentro, mantendo o príncipe na penumbra. Ele sabia que era o futuro rei e como tal, tinha suas obrigações, mas naquele momento sentia-se tão incapaz e infeliz que nada, nem mesmo a sombra de seus deveres reais pesando sobre seus ombros, foi capaz de movê-lo de sua posição encolhida sob os lençóis.

Ele esperou e, por algum momento, chegou a cogitar a possibilidade de Siren o responder, mas ela não o respondeu. Era compreensível, ele pensou, pois realmente a entendia. Porém isso não impedia seu coração de arder como o inferno contra seu peito, tornando difícil até mesmo respirar. Na verdade, ainda estava surpreso pelos efeitos que a sereia andava causando sobre ele.

Ele tinha a total ciência do que fizera. E estaria mentindo se dissesse que não havia fugido. Havia fugido sim, foi um covarde que tratou ela da pior forma possível. Se sentia miserável por tê-la feito chorar, mais de uma vez. 

Infelizmente não podia apagar o que já foi feito, não podia apagar o mal que causou a ela e nem mesmo o fato dela ter se sentido como uma diversão, mas queria tanto a chance de recomeçar que tal desejo parecia queimar fisicamente sua pele.

Floren apertou os olhos, que agora estavam marejados, sentindo sua garganta arder como nunca. A imagem dos cabelos desorganizados da princesa, dos lindos olhos queimando como ouro derretido, as mãos cobertas por tinta e o sorriso radiante… Tudo girava em sua mente repetidas vezes, o deixando ainda mais aflito. E pensar que ela era tão interessante, tão cheia de vida que em poucos anos provavelmente estaria noiva, feliz e sem nem mesmo se lembrar do ex namorado ausente e estúpido.

Florean escutou o som da porta sendo aberta bruscamente, mas nem mesmo se deu ao trabalho de olhar quem era o responsável por invadir sua privacidade. Permaneceu ali, enfiado no meio dos cobertores e torcendo pra quem quer que fosse, sumisse o mais rápido possível.

— Acorde, princesa adormecida — Primrose gracejou, arrancando a coberta do corpo do irmão em um puxão violento.

— Prim, você disse que seria sutil — Fault suspirou em descontentamento.

Florean não precisava olhar na direção do irmão para saber que ele estava logo atrás de Primrose, praticamente empoleirado em seu ombro.

— Oh! Não existe príncipe mais sutil que eu — Primrose respondeu com ironia. Preparando-se para derrubar o mais velho da cama. Florean nunca se atrasava. Mas se arrependeu no mesmo instante quando viu os olhos avermelhados do irmão.

Quando foi que viu Florean chorar mais de duas vezes no mesmo mês?!  Primrose pensou, chocado. Oh sim... Nunca!

— Florean...? — Exclamou Primrose, com a coberta nos braços e sem saber o que fazer.

— Por favor Prim, eu quero ficar sozinho — ele choramingou, usando o travesseiro para cobrir o rosto.

— Florean, nós só queríamos... — Começou Fault, sentando ao lado do irmão, portando um semblante preocupado.

— Eu sei — Florean cortou o loiro. Era óbvio que os dois se preocupariam, Florean nunca dormia até tão tarde, sempre os acordava, e naquele dia o ruivo nem ao menos apareceu para o desjejum. — Só preciso de alguns minutos.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now