Capítulo 73

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"A vida não é justa, não é mesmo?" — Scar, Rei Leão.

Mesmo quando o príncipe Fault conseguiu, arduamente, convencer o príncipe Florean de que Phillipe não tinha nada a ver com seu encontro com Aura, a desconfiança ainda brilhava nos olhos de lorde Gordon sempre que ele olhava para seu filho.

Dito isso, havia sido realmente difícil para o rapaz sair de seu quarto no dia seguinte. Para onde quer que ele fosse, dezenas de olhos acompanhavam seus movimentos a serviço de Gordon.

Foi um alívio para ele quando seu pai necessitou de mais guardas que o usual para acompanhá-lo até Papoula, com o rei, pois Phillipe finalmente pode ir e vir livremente.

Após passar um bom tempo na companhia de Slyter, o jovem decidiu ir até Aura. Ele jamais admitiria, mas gostava da amizade recém adquirida com a princesa. Longe das pressões externas, longe de possíveis contratos políticos, casamentos arranjados ou qualquer bobagem.

Quando ele entrou no quarto, Aura estava sentada na janela, com as pernas para fora, cantarolando uma canção estranha. Era uma melodia lenta e sedutora que, Phillipe notou, parecia estrangeira.

Ela não parecia bem, não se parecia com a bolinha de energia e felicidade que ele se lembrava de sua infância, mas parecia um pouco melhor. Certamente a visita de Fault teve seu efeito.

— Sabe, você pode cair daí. — Phillipe comentou, se aproximando.

— Eu posso voar. — Ela rebateu, virando-se para ele com um pequeno sorriso, batendo levemente suas asas. — Eu não pude te agradecer por trazer Fault até mim. Obrigada, Phillipe.

— Deuses, seu irmão já me agradeceu o suficiente por gerações. — Ele revirou os olhos. — Mas não sei porque pareceu tão surpresa, eu prometi que faria.

— Você poderia ter se metido em problemas por isso. — Ela lembrou.

Não mais do que já tenho. Ele pensou, com uma risada irônica ao se lembrar de sua discussão com seu pai: — Não pense muito nisso. Eu prometi e cumpri, fim da história.

Aura assentiu lentamente, embora ainda sorrisse, uma tristeza profunda ainda sombreava a luz de seus olhos.

— Então... — Ele chamou, não suportando olhar para aquela escuridão por muito tempo. — O que você quer fazer?

— O que?

— Ora, eu cedi meu tempo e esforço para vir até aqui te entreter. — Ele exclamou dramaticamente, fazendo-a revirar os olhos. — Não vou ficar aqui apenas olhando para seu rosto triste.

— Bom... — Aura correu os olhos pelo quarto, como se procurasse por algo. Seus olhos pararam em uma gaveta, e ele quase pode ver a idéia se formando em seu rosto. — E se você desenhasse algo para mim?

— Você ainda se lembra, não é? — Ele meio riu, meio suspirou. — Certo, certo. Onde tem papel?

Aura pareceu surpresa com sua concordância imediata mas, se fosse sincero, faziam meses que Phillipe não punha as mãos em um pergaminho.

— O que? — Ele riu, vendo-a o olhar com desconfiança enquanto ia até a gaveta para lhe passar o pergaminho, tinta e pena.

— Eu não esperava que aceitasse tão rápido.

— Eu vim aqui com a missão de agraciá-la com minha honorável presença. — Ele disse, empinando o nariz enquanto fingia não vê-la revirar os olhos. — E não é sempre que tenho a oportunidade de pintar algo, somente você e... Um amigo sabem sobre isso.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora