Capítulo 60

234 41 629
                                    

"Lendas são lições, elas carregam a verdade" — Elinor, Valente



Um calor agradável envolvia o corpo de Aura enquanto Maegi agitava suas mãos ao redor de seu corpo. A bruxa não chegava a tocá-la, suas mãos giravam, centímetros acima de sua pele, mas Aura podia sentir seus movimentos, como o beijo de um fantasma.

A energia, o calor acolhedor, exalava das mãos repletas de anéis enquanto as pulseiras tilintavam alegremente.

Maegi ordenou que ela mantivesse os olhos fechados enquanto realizava seus procedimentos, então a fada permaneceu no escuro dos próprios pensamentos. Ela estava ciente do sofá macio abaixo deseue corpo e dos murmúrios de Maegi em uma língua antiga.

De algum lugar atrás de si, Aura sabia que Morgan estava presente. Não podia vê-lo, mas podia ouvir o som oco de suas botas contra o chão de pedra, andando em círculos. Ela sorriu ao imaginar a expressão preocupada que provavelmente reinava no rosto de seu amado. Suas sobrancelhas arqueadas e boca retraída enquanto alguns fios de cabelo deslizavam teimosamente para diante de seus olhos.

Tão lindo...

— Abra a boca, querida. — Ela ouviu a voz de Maegi, enquanto uma mão envolvia seu maxilar. Aura obedeceu e, antes que pudesse perguntar o motivo, algo pequeno e áspero foi depositado sobre sua língua. — Agora mastigue pelo máximo de tempo que puder.

Aura obedeceu novamente. Quando seus dentes apertaram a superfície crocante do que, pelo gosto, parecia ser uma raíz ou algum tipo de casca, Aura não estava preparada para a sensação entorpecente que se espalhou por seus membros.

A princesa derreteu sobre seu assento. Ela não se sentia sonolenta, ou algo do tipo, mas cada mísero pedaço de seu corpo parecia mole, relaxado.

A dor, que ainda ardia em sua cabeça, parecia um pouco mais fraca a cada mordida. O sulco gosmento que se espalhava por seus lábios fazia o interior de sua boca formigar e Aura não podia deixar de se perguntar o que era aquilo.

Um suspiro de contentamento deixou os lábios da princesa enquanto ela apoiava a cabeça contra o encosto do sofá, seu mastigar se tornava mais lento. Depois de horas e horas sendo açoitada pela dor horrenda, um pouco de alívio parecia a melhor coisa do mundo.

— O que foi, raio de sol? — Aura pode ouvir os passos de Morgan se aproximando e sua mão forte pousando em seu ombro, mas ela se sentia confortável demais para responder. — O que você deu para ela?!

— Não rosne para mim, garoto. — Ela ouviu a voz desdenhosa de Maegi, cada vez mais distante em sua mente. — É apenas uma erva de Qhantt, vai fazê-la relaxar um pouco e aliviará as dores. É difícil de conseguir, então mostre algum respeito.

— Obrigado... — Se Aura tivesse alguma força, teria rido do tom contrariado de seu daemon.

— O entorpecente perderá o efeito assim que ela parar de mastigar, mas a dor será afastada. — Maegi explicou e Aura deixou escapar um bocejo. — Vamos querida, cuspa aqui.

Mesmo que sua vontade fosse apenas se enrolar em uma bola e dormir para sempre naquele sofá, Aura abriu os olhos, piscando algumas vezes para se acostumar com a luz.

Maegi tinha seu rosto próximo o suficiente para que Aura visse cada detalhe de seu rosto estóico e tinha um pequeno pote sobre as mãos, onde Aura rapidamente cuspiu a pequena raiz.

Assim que ela o fez, Maegi girou o pote entre as mãos e, com um clarão ardente, o fez desaparecer.

— Como se sente? — A bruxa perguntou.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now