Capítulo 65

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"O que eu mais desejo ter
É alguém pra me entender." — Bela, a Bela e a Fera.

Cansados pela terrível noite de Lua de Sangue, Morgan e Aura dormiram boa parte do dia seguinte, acordando apenas quando Serpens os chamou, do lado de fora de sua tenda.

O príncipe se desculpou, parecendo muito culpado por ter se perdido de Morgan em meio a Lua de Sangue. Seus olhos carmesim pareciam tão cheios de desespero que nem mesmo Morgan se sentiu irritado. O casal trocou um olhar meio sério, onde concordaram mutuamente em não contar ao príncipe nada do que havia acontecido na noite anterior, para não fazê-lo se sentir pior. Serpens parecia à beira das lágrimas quando Aura o abraçou, dizendo que tudo estava bem.

Quando todos se acalmaram, Serpens disse ao casal que havia enfim conversado com Styx, a senhora da corte Sagittarius, e que a senhora havia concordado em encontrá-los para levá-los até a possível cura. O príncipe fez questão de ressaltar o quão sigiloso era tal método, e que apenas a família real de Ametista e a Senhora da corte Sagittarius tinham acesso a tal lugar.

— Ela é uma das poucas nobres do reino corajosa o suficiente para demonstrar o desprezo que sente pela minha família abertamente. — Disse o príncipe, dando de ombros. — Então não foi difícil convencê-la a não contar sobre isso aos meus pais. Agora vamos, temos que estar no lago antes do pôr do sol.

Então o trio se viu caminhando pela floresta de Sagittarius. Serpens estava um passo à frente, andando com confiança por entre as árvores cristalizadas, Morgan e Aura o seguiam obedientemente alguns passos atrás.

Mesmo se recuperando da tragédia do dia anterior, a floresta continuava belíssima. Aura se viu perdida no brilho das árvores polvilhadas de cristais, nas folhas brilhantes... Tudo era tão belo e exótico que Aura demorou alguns segundos para perceber que Morgan a olhava com genuína atenção.

— O que foi, Mor?

— Raio de Sol, nós podemos conversar sobre... Bem... — Morgan se mexeu desconfortavelmente enquanto andava. — Aquilo?

Aura franziu as sobrancelhas, demorando um pouco para compreender do que Morgan falava, mas quando o fez, franziu as sobrancelhas. Philipe.

— Pensei que não iria querer voltar nesse assunto — Ela murmurou, lembrando-se bem do quão incomodado Morgan ficava com o assunto.  — Você tem certeza?

— Sim, eu fui um pouco... Orgulhoso. — Morgan desviou os olhos para o chão.

— Um pouco? — Aura riu.

— Certo... Muito orgulhoso. — Morgan suspirou.

Aura sorriu, afagando a mão de Morgan, envolvida na sua. Era tão doce vê-lo admitindo seus erros e, ao menos, parecendo disposto a entender o lado dela.

— Eu sei que você pode não ter uma boa impressão de Phillipe e não o julgo por isso. — Disse Aura, sinceramente. — Mas eu... Eu sei que no fundo, Phillipe é uma boa pessoa. Ele só está perdido.

— Perdido? — Desdenhou Morgan, com uma expressão de desconfiança.

— É... — Aura suspirou, seus pensamentos voando como folhas, enquanto ela se lembrava de sua infância, quando não passava de uma menininha alegre, sempre em busca de encrencas.

Aura sabia que não devia estar fazendo isso.

Primrose havia lhe dito várias e várias vezes para que ela não ficasse muito perto do filho de lorde Gordon, mas Aura não pôde se conter. Phillipe era a única outra criança no castelo. Com quem mais ela deveria brincar, se não ele?

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora