Capítulo 78

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"Enquanto viver neste oceano, obedecerá às minhas ordens!"— Rei Tritão, A Pequena Sereia

Phillipe, com o semblante coberto por receio, observava a mão de Aura deslizar sobre um papel branco, preenchendo-o com sua perfeita caligrafia. Sua atenção era dividida para a carta que Aura escrevia e para seu estado terrivelmente debilitado. Sentada sobre a cadeira, em frente a escrivaninha de seu quarto, Phillipe temeu que ela desmaiasse a qualquer minuto, mas nada parecia capaz de fazê-la parar.

A cada vez que a respiração dela parecia falha, ou a cada vez que seu corpo se afundava sobre a poltrona, o lorde sentia seu coração gelar.

Ele nunca havia visto ela tão debilitada.

— Aura, por favor, tenho certeza que isso pode ser feito em outro momento. — Ele não sabia ao certo o que Aura fazia, mas sabia que nada valia a sua saúde física.

— Eu preciso... — A voz da princesa era tão frágil quanto uma gota de orvalho. — Isso precisa ser feito agora.

— Mas...

— É muito importante, Phillipe. — Ela o cortou, sem nunca tirar os olhos do papel.

Resignado, Phillipe apenas esperou, olhando atentamente para a princesa, temendo que ela caísse desacordada a qualquer momento.

A pena deslizou pelo pergaminho como um floreio antes de Aura soltá-la, correndo seus olhos uma última vez pelo papel, antes de fechar a carta, selando-a com cera verde e carimbando a cera com um carimbo do emblema de Alexandrita.

— Phillipe, eu preciso que você faça algo por mim. — Ela murmurou, sua voz mal saindo, frágil como um botão de rosa. — Se meu pai não revelar a verdade até se passar uma semana após minha morte, quero que leve essa carta para Florean. Posso confiar que você fará isso?

Phillipe correu seus olhos da carta que era estendida para si para o rosto pálido e claramente doloroso de Aura repentinamente, antes de soltar um suspiro.

— Eu farei isso. — Ele declarou, pegando a carta nas mãos e a depositando cuidadosamente no bolso.

Se seu eu de meses atrás visse suas ações, ele certamente não sobreviveria ao choque, o jovem lorde pensou, levemente irônico, ao guardar a carta no bolso.

— Eu... — Aura começou, prestes a dizer mais alguma coisa, mas antes que ela pudesse de fato, ela cambaleou na cadeira, oscilante.

Como uma marionete que perdeu suas cordas, o corpo de Aura tombou para o lado. Phillipe gritou ao se abaixar para pegá-la antes que atingisse o chão, observando com horror a forma como filetes de sangue escorriam do canto de seus lábios.

Phillipe sentia-se tremer enquanto tentava se erguer de pé e carregar Aura ao mesmo tempo. É quase como se ela tivesse lutado contra o desmaio apenas para terminar essa maldita carta! O rapaz pensou, nervoso.

Repentinamente, o contorno da carta contra seu bolso pareceu pesar o peso de todo o mundo.

E, talvez, ela pesasse.

Os dias passaram tão rápidos quanto gotas de chuva se desprendendo do céu, e o estado de Aura não podia ser pior.

A princesa passava a maior parte do tempo desacordada, pálida e frágil como um pequeno broto, murmurando em seu sono, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto, quase sempre contorcido de dor. Nos breves momentos em que Aura abria seus olhos, eles estavam nublados e sem foco, enquanto ela continuava a murmurar incoerências. Todos podiam ver a forma como ela perdeu peso, seus ossos se tornando mais aparentes e suas roupas cada vez mais largas. Sua pele ardia em febre e nenhuma poção parecia aliviar seu estado.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now