Capítulo 21

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Mas até mesmo os dias mais luminosos, podem ser escurecidos por uma tempestade misteriosa.”— A Pequena Sereia: A História de Ariel

Morgan entrou, um pouco hesitante na pequena casinha. Era a menor que ele havia visitado até então. Não havia um espaço dedicado a culinária, era apenas um pequeno quarto, com a cama em formato de flor, roupeiros, uma penteadeira, uma poltrona e o sofá, que havia sido palco da discussão anterior. O lar era localizado acima de outras duas casinhas, como um terceiro andar. 

Essa era a casa que Lady Ivyna havia disponibilizado para Eileen, após a volta do exaustivo passeio na corte Amarílis. A garota havia dito que precisava de um quarto só para si, afinal não queria incomodar Anne e Yanna quando precisasse praticar magia. Morgan sabia que aquilo não passava de uma desculpa, mas ele e Eileen estavam se desentendendo demais, impedindo que ele se sentisse à vontade para pressioná-la em busca de respostas. 

O rapaz a encontrou lendo seu grimório, deitada no tapete, com os longos cabelos negros espalhados pelo chão em caracóis. Sua pele negra era destacada por um conjunto de exuberantes roupas vermelho sangue, que deixavam todo o seu colo e barriga à mostra, mas havia um lenço roxo prendendo seus cabelos. Duas cores. Aquilo fez Morgan rir. 

— Isso é trapaça, sabia? — Ele questionou, sem que pudesse se conter. 

Ela o olhou por cima do livro e um pequeno sorriso desenhou em seus lábios. 

— Vermelho deseja a liberdade... — Eileen comentou e aquilo foi suficiente para fazê-lo entender a escolha. Morgan conhecia as lutas e traumas da bruxa melhor que qualquer um. — Mas roxo é magia, e quem seria eu sem a minha? 

— Entendo... — sorriu, sentando-se no chão ao lado dela. 

— Mas você me surpreendeu — ela comentou e Morgan jogou a cabeça para trás, rindo alto. Ele vestia uma camisa amarela, a cor berrante destacava-se do tradicional guarda-roupa preto, cinza e roxo do rapaz. — Deixe-me adivinhar, idéia de Anne?

— Eu ouvi falar que algumas pessoas usam roupas iguais, para continuarem juntas no ano seguinte — o rapaz explicou timidamente. — Você ainda está brava comigo?

— Eu sempre estou brava com você — ela suspirou, dando de ombros. — Ao mesmo tempo, nunca consigo ficar brava com você. É complicado. 

Morgan sorriu de leve, pegando o grimório das mãos de Eileen, para que ela o olhasse com mais atenção. 

— Eu preciso de ajuda.

— Sou toda ouvidos — disse Eileen, divertindo-se em vê-lo se contorcer em timidez atípica. — Diga-me. 

— Eu queria dar uma flor para Anne. Ouvi dizer que é uma tradição para pessoas... pessoas... — Eileen mordeu o lábio para não rir, ela sabia que palavra o amigo queria usar, mas não tinha coragem. — Pessoas que gostam muito de alguém, elas dão uma flor para a outra pessoa colocar no pulso. Eu tentei achar uma flor que combinasse com ela mas são todas iguais, com cheiros irritantes e cores fortes! 

— Oh Morgan! — Exclamou Eileen, gargalhando ao vê-lo se queixar. — Vamos, vou te ajudar a escolher uma que a agrade. 

A dupla de amigos deixou a casinha, caminhando lado a lado por entre as inúmeras pessoas até uma pequena barraca, onde uma senhorinha distribuía as flores para o festival. Ainda era uma surpresa para eles que tudo ali fosse oferecido sem precisar de um pagamento. 

Eileen correu seus olhos por cada flor, pensando em Anne, até que achou o que queria. 

Segurando a flor pelo caule, Eileen usou-a para fazer cócegas no rosto de Morgan, que a olhou impaciente, antes de pegar a flor. 

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now