Capítulo 14

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"As cartas! As cartas!
Vamos, peguem três
Vou abrir as portas do futuro a vocês!
Você, meu rapaz, é de muito longe daqui
E vem de duas linhagens reais, eu vi!"-  Dr. Facillier, A princesa e o sapo


Morgan encontrava-se sentado sobre a grama, com as pernas estendidas e com as costas apoiadas contra uma árvore de tamanho surpreendentemente normal, enquanto lia um livro de capa verde, feito com folhas amarelas que o rapaz desconhecia a origem. As folhas eram tão antigas, finas e frágeis, que Morgan passava cada página com desgastante lentidão, segurando-a apenas com a ponta dos dedos.

A brisa gélida balançava seu casaco feito de folhas secas, mesmo que o sol já começasse a brilhar no Horizonte. Sua atenção no momento estava estritamente ligada ao livreto.

— Regra Número 329, "Viver sempre em perfeita harmonia." — Morgan estreitou os olhos em desgosto, ao perceber o quanto aquilo era ainda mais ridículo sendo dito em voz alta. — Que imbecilidade, como se uma população inteira fosse capaz de estar em harmonia o tempo todo! — Ele suspirou em desgosto, fechando o livro com certa grosseria, espalhando alguns suaves grãos de pólen.

Quando Eredor lhe entregou esse livro, não imaginou a tamanha tortura que seria para lê-lo. Talvez fosse por esse motivo que o deixou de lado em seus primeiros dias na Corte Papoula. E foi pelo descaso que sentia no momento, que não notou a repentina aproximação da garota de longos cabelos loiros.

— Morgan... — ela o chamou, notando a irritabilidade na feição do rapaz, e que pareceu se dissolver em sua presença. — Podemos conversar?

Por alguns segundos ele pareceu sem fala, dividido em duas opções, mas por fim, optou pela mais fácil.

— Eu... Estou meio ocupado... —  ele tentou se explicar erguendo o livro, mas foi interrompido por um arquejo impaciente.

— Oh por favor, você não quer ler essa droga de livro — a garota tomou o livro das mãos dele, com certa brutalidade, fazendo ele arregalar os olhos com descrença.

— Anne, eu...

— "Anne"... — ela resmungou com chateação, cruzando os braços. — Me pergunto o que aconteceu com o tal "Raio de sol."

— Como? — Morgan exclamou com perplexidade. Anne estava claramente furiosa. Não a fúria que ele já havia presenciado uma outra vez, aquela que quase podia queimá-lo fisicamente, mas uma ira gélida de quem tenta se conter. — O que foi?

— Por que está me evitando? — ela perguntou, descruzando os braços para levá-los a cintura.

— Eu não... — Morgan se preparou para rebater, mas ao ver os brilhantes olhos de Anne se estreitando com ainda mais ira, Morgan se impediu. — Eu só preciso de espaço.

— Espaço? — Toda a postura de Aura pareceu, não relaxar, mas apenas deixar a tensão se esvair aos poucos, ao notar que realmente havia um motivo por trás.

— Sim, eu..  Err... Olha, eu não quero falar sobre isso, tá? — Ele tentou, desviando-se do olhar que o perfurava como um belo par de adagas.

— Ah não? — Aura chiou, inconformada. — Ótimo! Mas lembre-se disso quando eu for embora e nunca mais te procurar!

— Não! — Morgan exclamou ao vê-la se virar para ir e, antes que pudesse pensar devidamente, agarrou-a pelo pulso. Ele não podia deixá-la ir, não assim. — Espere, por favor.

Ela, a contragosto, se virou na direção dele com uma expressão cética. Eles se encararam, dominados pelo silêncio pesado, antes da garota erguer as sobrancelhas em um questionamento mudo.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now