Capítulo 61

239 41 637
                                    

Se está feliz, por que parece tão triste?" — Timão, Rei Leão 3



Aura sentiu seu corpo afundar no colchão, encurralada entre braços fortes e musculosos. Como havia terminado naquela situação? Não sabia ao certo... Para ela aquilo seria apenas um beijinho inocente. Pelo visto Morgan, que agora tinha em seus olhos um brilho felino, não pensava da mesma forma. Um suspiro de contentamento saiu de sua boca enquanto reprimia um gemido ao ter lábios habilidosos percorrendo seu pescoço, seu decote e então seu lóbulo.

Como queria aquilo...

Por um momento, ela deixou se levar. Tocando a pele quente do daemon, que arrepiava com seu contato, puxando-o de encontro a seu corpo.

Tão perfeito...

Então, um rastro de racionalidade a atingiu, tão fino quanto fio de cabelo, fazendo Aura lembrar-se de que aquilo estava longe de ser o que havia planejado para aquela madrugada.

Ela afastou-se de Morgan lentamente, desvinculando de seu contato.

— O que houve? — Ele indagou com a voz rouca, cessando o movimento de sua mão que antes, estava afoita para invadir a curta camisola que a fada usava. — Você não…? — Então ele pareceu se dar conta de algo, seu rosto se colorindo com um vermelho suave. — Me desculpe, eu...

O daemon afastou-se desnorteado, mantendo-se sobre os joelhos em cima da cama, enquanto descia a blusa para que cobrisse sua ereção.

Aura cerrou os lábios tentando não rir, mas foi inútil diante da expressão assustada de Morgan, da forma como parecia se contorcer de vergonha, tentando ajeitar os fios bagunçados com mãos trêmulas. Ele apertou os olhos, resmungando algo que soou como: "Seu imbecil, impulsivo".

Erguendo-se para que estreitasse a distância entre eles, Aura tocou a bochecha do rapaz com a ponta do nariz, antes de dizer: — Não é que eu não queira, Mor... — ela o sentiu relaxar com o contato. — É que tenho outros planos para nós essa noite.

Sorrindo, afastou-se do rapaz, descendo da cama e começando a se despir, conteve a vontade de rir audivelmente quando o viu desviar os olhos com rapidez, mordendo os lábios com força.

Aura vestiu uma calça, de um pano um pouco mais grosso do que o tecido de cetim que costumava usar, pegando um casaco grosso do guarda roupa de Morgan e vestindo-o também. Precisava de algo quente o suficiente para aguentar o frio intenso e oscilante de Ametista.

Enquanto amarrava o cadarço das botinhas escuras que agora usava, arqueou as sobrancelhas ao ver que Morgan ainda estava agachado sobre a cama, completamente imóvel.

— Não vai se vestir?

O daemon, que ainda parecia perdido, piscou os olhos algumas vezes, tentando encontrar sua voz.

— Vamos sair? — Assim que Aura assentiu, ele indagou com ainda mais confusão estampada em sua face — Não está tarde demais para isso?

— Eu tenho uma resposta para você, e ela está te esperando perto do lago com águas escuras.

Morgan não parecia menos confuso naquele instante, no entanto, a resposta o fez, ao menos se mover e começar a se agasalhar.


A brisa agradável de outrora deu lugar a um vento gélido, que cortava como navalha. Aura podia sentir suas bochechas coradas, açoitadas pelo frio, mas a noite estava bela demais para que ela se preocupasse verdadeiramente com isso.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now