Capítulo 67

207 39 380
                                    


"É inquebrável, é... quebrou." — Aladdin

Como flocos de neve ao sol, Yanna pode sentir sua fúria derretendo lentamente com as horas que se passaram.

Depois de tudo que ouviu de Eileen e se fosse honesta, honesta de verdade, Yanna admitiria que podia entender as atitudes de Morgan. Deuses! Se fosse sincera, ela diria que provavelmente teria feito pior no lugar do daemon. Era difícil acreditar que tudo não passava de uma louca coincidência, mas depois de tudo que viu e viveu, nem mesmo ela podia acreditar que o amor de Morgan era falso.

Ele amava Aura e faria o possível e o impossível por ela. Filha de Florence ou não.

Mas a neve derrete deixando poças. Yanna não pôde deixar de reter uma mágoa latente, um grande buraco em seu coração, ao pensar que Eden sabia de tudo aquilo.

Ela o amava. Yanna jamais se permitiu usar tais palavras, mas ela sabia que o amava. Não o amor fraternal que ela se acostumou a ter por Aura, Eredor e Ivyna. Não o carinho que acostumou a sentir por Eileen. Era amor, puro e latente, ardendo em seu peito como um vulcão em erupção.

E ela não podia odiar mais.

Ela chorou. Durante horas a fio, embolada nos cobertores fofos de Eileen, Yanna afundou o rosto contra a superfície macia dos travesseiros e desejou se sufocar. Ela sabia que não podia, não tinha a menor possibilidade de deixar Aura, mas tudo o que ela queria naquele momento era desaparecer.

Eden, aquele que a fez ver o mundo de uma forma que ela jamais imaginou ser possível. Aquele que a fez rir como ninguém antes. Aquele que a salvou do próprio pai.

Yanna nunca cogitou a possibilidade de Eden mentir para ela. Irritá-la? Sim, com certeza. Tirá-la do sério? Como ninguém. Mas engana-la...? A imagem mental parecia fora de esquadro.

Agora, com todas aquelas verdades escancaradas em seu rosto, Yanna não conseguia ver Eden com os mesmos olhos. E aquilo doía mais do que ela pensou ser possível.

A guerreira sabia que Eden era família para Morgan. Ela podia entender a lealdade por trás da mentira. Mas isso não fazia doer menos.

Com os pensamentos em turbilhão, Yanna sentiu a boca seca como um deserto e se deu conta de como o tempo havia passado. Decidindo que não poderia se esconder para sempre, ela se levantou, sentindo os olhos pinicando inchados e a cabeça doendo.

Eu preciso de água. E comer algo seria bom também. Pensou Yanna miseravelmente, enquanto se direcionava para a porta do quarto. 

Quando Yanna se viu de pé no corredor, toda sua coragem de sair e encarar o mundo se esvaiu entre seus dedos.

Eden estava ali, sentado contra o chão de pedra, com as costas na parede e abraçando os próprios joelhos. Seu rosto estava apoiado nas pernas e ele parecia estar dormindo ali a algum tempo. Quando Yanna saiu, a porta se abriu com um rangido alto, acordando-o.

— Yanna..? — Ele murmurou, erguendo o rosto amassado de sono. Seus cabelos estavam uma bagunça e seus olhos de ouro estavam avermelhados. Ele se levantou em um pulo ao vê-la.

— Eu... — Yanna pigarreou. Ela desejou que seu coração parasse de doer tanto. — Eu não quero falar com você.

— Foi o que Eileen disse. — Eden murmurou, seus olhos caindo para encarar o chão. — Eu vou deixar você em paz, só queria ter certeza de que você está bem.

Yanna não respondeu, desviando os olhos para a parede. Bem? Ela definitivamente não estava bem.

Vendo aquilo como uma óbvia recusa, Eden assentiu lentamente, se afastando pelos corredores.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now