Capítulo 90

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"Missão de princesa
Que não pode descansar
É servir a sua pátria, seu papel desempenhar
As esperanças do povo, não decepcionar jamais
O que pediríamos mais?" — Ting-Ting, Mulan 2

O vapor causado pela água dançava no ar em pequenas espirais diante dos olhos de Morgan.

A banheira de madeira era grande e confortável, a água envolvia Morgan como um abraço quente, mas nem mesmo isso servia como consolo para o daemon.

Aura deveria estar ali com ele. Seus cabelos dourados deveriam estar escorrendo por suas costas nuas em direção a água como ouro líquido. Ela deveria estar sorrindo para ele, provavelmente zombando de seu desconforto diante de toda a pompa da vida em um castelo.

Ele não deveria estar sozinho. Mas ele estava, e nem mesmo a água quente era capaz de expulsar o frio que o envolvia. Ele levou as mãos em concha para a agua, enchendo-as para então despejar sobre seu cabelo.

A água escorreu pelas mechas escuras. Morgan não se deixava perder as esperanças. Seu sol havia se posto, mas não havia se apagado. Ainda havia a esperança de um novo amanhecer, onde Aura voltaria a brilhar e aquecer sua vida. Ele tinha que acreditar.

Se ele pudesse se lembrar... Morgan praguejou para si mesmo, desejando bater a cabeça contra a parede até que as respostas viessem. Ele não o fez, entretanto.

O daemon sabia que era apenas uma das consequências da maldição que ele não pudesse se lembrar de como reverte-la, mas não podia deixar de lutar contra a própria mente em tentativa. Ele tinha que lembrar...

Morgan deixou o corpo deslizar pela banheira, afundando-se na água e sentindo-a envolvê-lo por completo. Submerso, ele deixou-se perder em lembranças. A risada de Aura, o brilho de seus olhos, os traços delicados de seu rosto, sua bondade, gentileza...

Seus pulmões arderam em um pedido desesperado por ar e Morgan se impulsionou para cima, deixando o ar gelado picar seu rosto aquecido pela água. Em alguns momentos ele pensava em como seria se ele não retornasse para cima, se ele deixasse seu pulmão ser tomado pela água. Ele a encontraria então?

A resposta era óbvia. Não, ele não encontraria. Pois Aura ainda estava ali, dormindo, mas viva. A saudade apertou em seu peito, deixando-o quase fora de si. Haviam se passado quantos dias sem ela? Sem ouvir sua voz? Se recusou a contar, pois se contasse enlouqueceria de vez.

E no momento, ele precisava se manter forte. Ele precisava manter a esperança intacta. Ele precisava acreditar pelos dois, já que ela não estava ali para motivá-los. Até mesmo em dias como esse, quando ele se sentia nada menos que um nada, merecedor de seu destino cruel. Até mesmo nos dias que sua esperança parecia uma vela em meio ao frio intenso de turmalina.

Ele não podia desistir.

— Eu vou te trazer de volta. — Ele sussurrou, tocando a aliança em seu dedo.

Quando a manhã chegou, Siren se sentia exausta. Nem mesmo poderia dizer que despertou, já que não havia pregado os olhos por nem um minuto sequer. Um turbilhão de pensamentos percorria sua mente, trazendo consigo a insônia. Ela estava nervosa, confusa e aflita. Perdida entre o que deveria e o que queria fazer, mas quando a manhã veio, uma decisão veio junto consigo. Siren havia decidido que não queria e nem poderia adiar o inadiável. Faltava muito pouco para seu casamento, casamento este que ela teria gosto em não comparecer. Entretanto, lorde Seanus merecia a verdade, e Siren sabia bem disso.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now