Capítulo 22

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"Eu tentei fugir
Não queria ver
Mas o nosso amor
É o que me faz viver "—
Kovu, Rei Leão 2

Enquanto percorria aquele caminho, Morgan sentia-se fraquejar em certos momentos, por pouco não cedendo e voltando atrás. Depois de ter destruído tudo que havia naquela pequena casa de madeira, a raiva esvaziou de seu corpo, sobrando apenas a dor, a pior das dores. A sensação de vazio, como um buraco latejante em seu peito, deixando-o quase fora de si. 

As lágrimas, que haviam escorrido para fora de seus olhos contra sua vontade, não haviam sido suficiente para aplacar sua tristeza. Gritar, quebrar coisas e chorar... Nada daquilo havia sido suficiente para diminuir sua dor, apenas aumentar sua humilhação e infelicidade quando se viu sozinho, no escuro, envolto a pedaços de móveis quebrados. Ele se sentiu miserável, como a anos não se sentia. 

Quando chegou no último degrau da escada feita de ramos, pensou em voltar para trás, mas não o fez, continuou seu caminho e assim que chegou ao seu destino, seu corpo travou, imóvel.

Uma nova onda de fogos preencheu o céu da madrugada, trazendo muitas cores e barulhos. E talvez essa fosse a razão pelo qual ela não notou ter companhia. Anne... Não, Aura. Mas ainda sim, Anne.

Assim que os fogos cessaram, a loirinha tirou as mãos da escora feita por ramos e virou-se, como se preparasse para partir. Mas então ela o viu.

O ser de Ametista sentiu sua garganta secar diante da bela visão, ela estava ainda mais linda, mas de uma forma diferente. A curta saia feita de girassóis ressaltaram suas belas curvas; Descansando sobre os cabelos havia uma coroa de flores e a blusa com encantadores girassóis lhe enfeitando, deixava a mostra uma grande parte  do corpo da garota e Morgan sentiu vontade de tocá-la. Com aquelas roupas, ela parecia uma florzinha. O contraste dos cabelos loiros, olhos âmbar e vestes amarelas, tornavam ela o próprio sol. O seu raio de sol.

Ele lutou consigo mesmo para que conseguisse desviar seus olhos do corpo dela, e quando olhou nos belíssimos olhos âmbar da menina, viu alguns resquícios de tristeza ali, inevitavelmente sentiu-se um ser feérico horrível.

— Eu... Creio que esteja atrasado — Morgan disse, desconcertado. Não sabia como reagir diante de Aura, não Anne.

— Eu diria que está imensamente atrasado — ela sorriu, não da forma que sempre sorria, com os olhos, porém mesmo diante daquela situação, ela tentava sorrir. — Devo presumir que você seja a noiva da ocasião — outra vez ela sorriu, mas Morgan não.

Aura percebeu que, por algum motivo, ele parecia  triste. Seus olhos verdes tinha uma sombra de dor,  a ponta de seu nariz estava avermelhado e ela pensou em perguntar se Morgan se sentia bem, mas no momento, não sabia nem mesmo se ele lhe diria, ou o que representava para ele.

— Vestindo preto? Não estou nada surpresa — Aura perguntou se atentando a esse fato em uma outra tentativa de dissipar com toda a tensão daquele momento. Observou com atenção as roupas negras e a capa também escura e arroxeada do rapaz, neste dia ele parecia ainda mais ameaçador. — Espero que saiba que preto significa remissão.

— Eu tenho muito pelo que me redimir — ele disse, com um sorriso que não alcançava os olhos. E Aura deixou que um arquejo de alívio escapasse de seus lábios.

O  sorriso de Morgan era fraco e doloroso, diante da tentativa dela de agir como se ele não tivesse feito nada errado, e havia feito, iria deixá-la, fugir como um covarde. Mas não foi capaz. Aquilo era doloroso demais. Ele não podia, simplesmente não conseguia partir. 

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaKde žijí příběhy. Začni objevovat