Capítulo 20

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" Enquanto há romance entre os dois
Desastres vão chegar." - Timão, O rei Leão

Aura havia se despertado com os sons dos pássaros e também das Pixies, que voavam e tagarelavam do lado de fora da janela de madeira, decorada por uma nova e graciosa cortina feita de flores entrelaçadas. Aura olhou para todos os lados da pequena casinha da árvore a procura de Yanna, mas a guarda costas não estava em lugar algum,não naquele momento. O que significava que Yanna havia acordado mais cedo que ela, algo que quase nunca acontecia. Talvez fosse a primeira vez.

Pelo visto, seu corpo havia se esgotado devido a semana intensa, e por isso, dormiu mais do que deveria.

Observou com um certo desânimo uma pequena Pixie voar até a janela aberta e dar duas, quase inaudíveis batidinhas na parte amadeirada, acenando e sorrindo para a princesa, que logo as retribuiu com um sorriso frágil.

Pixies eram criaturas puras, sua pele verde e delicada brilhava suavemente, suas pequenas asinhas eram como folhas batendo ao vento, enquanto seus cabelos de pétalas, enrolavam-se para cima, formando uma rosa. Haviam pequenas folhas brotando em sua pele também. Caberia perfeitamente dentro de um bolso. Elas conseguiam ver através da aura das pessoas, e mesmo que tivessem reconhecido a princesa por isso, nunca seriam capazes de falar, pois se comunicavam em uma língua própria, que apenas elas compreendiam. Diziam que encontrar uma pixie era sinônimo de boa sorte, pois as pequeninas eram criaturas raras, que viviam pouquíssimo, as poucas que se encontravam, tinham um certo apreço pela corte Papoula. Mas até elas viveriam mais que Aura.

O nascimento delas era marcado pelo festival do florescer, justamente aquele que ocorria a cada 18 anos, o último havia sido no nascimento de Aura e no fatídico dia da morte da Rainha da Primavera, por isso o reino consideravam a princesa um presente divino, ela havia nascido em um dia especial. E o próximo aconteceria justamente no dia de sua morte. Um evento no qual Aura desejava presenciar em seus últimos momentos. Todos diziam que era lindo, deslumbrante e raro.

A princesa encolheu-se sobre os cobertores afastando tais pensamentos, não queria sair da casinha, não hoje. Estava confusa, fraca, perdida e completamente envergonhada. Primeiramente havia entendido tudo errado e saltou como uma desesperada em cima de Morgan, mas naquele momento o queria tanto, seus lábios pareciam tão convidativos e também... Nunca havia experimentado aquilo, aqueles sentimentos e queria que fosse com Morgan...Afinal, estava morrendo, não podia se dar ao luxo de ficar procrastinando acontecimentos. Não havia fugido justamente pelo desejo de viver novas sensações?

Que grande tola eu sou, Pensou Aura, resmungando para si mesma, ainda debaixo dos cobertores. Não era ela dizendo que não estava apaixonada? que era impossível apaixonar-se por alguém tão rápido? Como havia sido tola, mas também, o que deveria pensar quando Morgan lhe dizia palavras tão gentis e o quanto pensava nela?!

A princesa nem mesmo conseguiu concluir seus pensamentos, pois logo a porta foi aberta de arranco e alguém caminhou em passos firmes até ela, puxando a coberta que lhe envolvia.

Aura olhou para a pessoa, era impossível não reconhecer aqueles cabelos ruivos como fogo e olhos azuis tão sérios, mais sérios que o normal... Yanna.

- Precisamos conversar - ela cruzou os braços, sua postura estava tensa e rígida - Espero que esteja melhor hoje - Aura pode notar que ao dizer essa frase, o olhar de Yanna continha uma certa preocupação, ainda que mostrasse intensa frustração.

A garota assentiu, como se garantisse que estava tudo bem, mas franziu as sobrancelhas, tentando se lembrar de quando havia dito para a ruiva que não estava se sentindo bem. Quando não conseguiu encontrar uma resposta, supôs que Yanna devia ter adivinhado, devido ao excesso de tempo que passou no quarto. E a frustração devia ser por isso, ela havia comentado com Aura algumas vezes que o mal estar que acompanhava a maldição havia sumido. Mas agora elas estavam mais do cientes de que a maldição permanecia intacta.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now