Capítulo 85

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"Quem é o monstro? E o homem quem é?" — O Corcunda de Notre-Dame

Tudo que Florean mais queria nas últimas horas era ouvir aquelas palavras da boca do daemon que tanto odiava, mas naquele momento, tudo parecia tão controverso e confuso.

Ele podia sentir a dor e a desolação que veio daquela pequena palavra. Se não fosse por isso, os olhos opacos e sem vida do daemon o confundiriam.

Olhos tão iguais aos seus, quando viu sua irmãzinha morta...

Não havia relutância ali, nem medo ou qualquer vestígio de que aquele ser queria sair com vida do julgamento. Tudo parecia uma enorme tentativa de abraçar a morte o mais rápido possível.

Por que parecia que a morte de sua irmã também era a morte daquele homem?

— Eu sou o único culpado. Eredor também foi manipulado por mim, eu o usei, assim como usei Aura por um motivo maior. — A voz rouca do daemon e baixa, tentava transparecer alguma frieza.

Florean teria tremido de ódio, teria avançado sobre o daemon e exigido sua morte. Mas aquilo não soava como verdade. Nada parecia verdadeiro naquele momento. Antes, Florean queria apenas alguém para culpar, queria apenas a cabeça de Male em uma bandeja. Agora ele queria a verdade.

Ele já havia perdido tudo mesmo.

Voltou seus olhos para Eredor. O elfo tinha a expressão banhada em tristeza, olhando miseravelmente para Morgan, mas ao sentir-se observado, voltou toda sua atenção para o príncipe.

— E quanto a você, Eredor? — Florean começou, determinado a extrair a verdade. — Você é acusado de conspiração, de ajudar Male a tirar minha irmã, sua princesa, de seu reino e levá-la para longe de qualquer auxílio. Isso é traição. Você nega as acusações?

— Eu sinto muito, vossa majestade, mas acredito que essa história está muito além de nós. — Começou Eredor, toda a tristeza se esvaindo em sua determinação. — Essa história começou muito antes da princesa Aura ser amaldiçoada. Existem coisas, meu rapaz, que deveriam vir a conhecimento antes que qualquer um possa ser julgado. Eu...

— Você está tentando nos enganar! — Gritou Florence, furiosamente. — Está tentando livrar você e esse monstro da morte certa. Não queremos suas palavras vazias, Eredor, queremos a resposta. Você se declara culpado?

— Inocente! — O elfo respondeu, fazendo todas as dezenas de telespectadores exclamaram em choque. — Aquele que é o verdadeiro culpado, aquele que deveria estar aqui, sendo julgado por seus crimes é você, Florence. Está tentando me calar assim como fez com Fault, seu próprio filho?

Se haviam exclamações antes, a comoção foi geral após aquelas palavras. Muitos gritaram em ofensa. Como aquele traidor se atrevia a acusar seu rei? Muitos gritaram de surpresa ou apenas começaram a sussurrar.

Mas ninguém parecia tão surpreso quanto Florean. O príncipe tinha seus lábios entreabertos e corria seus olhos do pai para Eredor repetidas vezes.

— Do que ele está falando? — Murmurou Florean.

— Bobagens! — Florence gritou. — Bobagens! Mentiras!

— Não são mentiras! — Eredor gritou, as algemas em seus pulsos chacoalhando enquanto ele tentava se mover. — Existem muitos segredos em nossas terras.

E, se lorde Eredor se considerava culpado de algo, certamente era de ter se mantido em silêncio.

Ele não seria omisso novamente.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now