Capítulo 75

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"Qualquer um pode se apaixonar." — Cinderella 2

Primrose sempre odiou as masmorras. Enquanto, na infância, Fault tinha muito medo do lugar e Florean era realmente impaciente, Prim sempre sentiu como se parte de sua felicidade fosse roubada de si sempre que ia até lá.

Agora, um príncipe adulto, Prim não se sentia muito melhor, embora não houvesse realmente felicidade alguma para ser roubada.

Ele podia sentir seu coração martelar contra o peito, como se tentasse abrir passagem. Toda a raiva que sentia parecia queimá-lo fisicamente enquanto ele corria pelos corredores escuros e de aparência abandonada das masmorras do palácio.

Primrose chegou até a entrada da cela, apoiando os braços nas barras de ferro sujas. Todo o lugar fedia a tristeza e o príncipe tentou não encarar o mofo que se multiplicava pelas paredes, como se as pedras chorassem.

— Male. — Ele chamou, embora sua voz não soasse tão confiante quanto se espera de um príncipe.

Mas Male não parecia em condições de se importar. Todo o corpo do daemon era circulado por grossas correntes cheias de espinhos, que o perfuravam em diversas partes do corpo erguido. Havia sangue seco empapando suas roupas surradas, hematomas polvilhando sua pele e seus cabelos pareciam sem corte.

Se ignorasse todas as circunstâncias, Primrose podia ver o que Aura viu naquele homem. Seu rosto era bonito como uma pintura e seu corpo era marcado por traços bem definidos, os cabelos muito escuros faziam contraste com a pele pálida e, quando ele abriu seus olhos tortuosos e sem foco, Prim viu que tinham uma cor única. A imaginação do estranho de boa aparência diante de si seduzindo sua irmãzinha só o fez se sentir pior.

Male olhou para ele, piscando os olhos algumas vezes, como se tentasse decidir se Primrose era ou não uma miragem.

— Você é um dos... — Male se interrompeu tossindo, cuspindo um pouco de sangue. — Príncipes, não é?

— Você se casou com minha irmã. — Primrose sibilou, sua voz não era nada além de um sussurro. Qualquer um que conhecesse o alegre e divertido príncipe de Alexandrita, teria um grande susto ao ver seu semblante sério.

— Sim. — Respondeu o daemon. Sua voz parecia arrastada, saindo de sua garganta através de um caminho de fogo.

— Você a amaldiçoou, a privou de sua magia, roubou o futuro que ela poderia ter tido... — Prim ofegava a cada palavra dita, incapaz de conter a fúria que fazia suas mãos tremerem. — Não satisfeito com tudo o que tirou dela, você a fez te amar.

O daemon abriu a boca, mesmo que seu rosto estivesse pálido e levemente entorpecido, Primrose pôde ver algo brilhando no fundo de seus olhos.

— Eu a amo. — Male cuspiu as palavras contra Prim, embora o esforço o fizesse tremer.

Mas Primrose não acreditava, como poderia? Ele não conhecia Morgan, não fazia ideia de sua história, tudo que ele sabia existir era Male.

— Ama? Realmente? — Primrose soltou uma risada irônica. — Então você abriu seu coração para ela? Foi sincero sobre quem você era e o que fez com ela?

O daemon apenas olhou para o chão, desviando-se do olhar furioso de Primrose.

— Foi o que pensei. — Primrose bufou, correndo os dedos pelo longos cabelos, desfazendo sua trança sem nem mesmo notar. — Eu não deveria me meter, deveria deixar o Florean te matar aos poucos, como já está fazendo, mas...

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now