Capítulo 95

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"Dizem que tempo cura tudo, mas a questão é... Quanto tempo?" — Alice no pais das maravilhas

O turbilhão de emoções em ebulição ao redor de Aura parecia queimá-la. Havia algo quente em seu interior, algo novo, que ela nunca havia sentido antes, que estava prestes a despertar, explodir para fora como um vulcão em erupção.

Ela não sabia o que era, não conhecia aquela sensação, aquele formigamento na ponta de seus dedos, aquele calor em seu peito e coração ardente, a vontade de deixar fluir... Mas ela sentiu que precisava, sentiu que tudo seria melhor quando ela o fizesse, então ela fez.

Como a mais temível das avalanches, aquela sensação poderosa estourou em Aura, correndo por todo o seu corpo em uma energia dourada, que brilhava tanto quanto o próprio sol.

Um clarão de luz estourou de suas mãos, iluminando todo o quarto e a fazendo gritar. Ela pode ouvir a voz de Florean de algum lugar, mas toda aquela luz a engoliu de forma que ela não podia ver nada.

A luz foi diretamente para Morgan. Toda aquela luz, aquele poder, aquele calor brilhoso e acolhedor partiu do corpo de Aura, deixando-a para engloba-lo, envolvê-lo como um manto brilhante. A pele aberta em seu peito foi se fundindo, restando nada além de uma grande cicatriz.

A prova de seu sacrifício por ela.

Aura piscou os olhos incrédula, mal notando Florean que estava ao seu lado outra vez. Ela tinha a cabeça de Morgan em seu peito, enquanto, com dedos trêmulo, acariciava seu rosto. A respiração pouco a pouco foi se estabilizando, enquanto a própria de Aura também se normalizava.

O som acalentador da respiração de Morgan fez Aura querer chorar novamente, mas por outro motivo.

— Morgan! — Ela sussurrou.

Seu amor ainda estava ali.

Não havia nada.

Morgan não podia ver, não podia sentir. Só havia escuridão. Ele estava perdido em meio ao nada, absolutamente nada, mas então uma voz, uma linda e familiar voz irrompeu do vazio:

— Morgan!

Morgan abriu os olhos, confuso. Ele piscou uma vez, não enxergando nada além de borrões. Então piscou outra vez, vendo sua visão tomar foco. A primeira coisa que viu foi um par de olhos âmbar cheios de lágrimas, bem próximo ao seu rosto, cabelos dourados emoldurando um rosto delicado e olhar gentil.

Aura.

— Isso é um sonho? — Quando encontrou sua voz, o daemon perguntou.

— Oh, Morgan! — Aura exclamou, se jogando sobre ele, o abraçando, não soltando nem mesmo quando ouviu um gemido fraco saindo de seus lábios. — Nunca mais faça isso!

Não houve protesto da parte do daemon, que levantou sua mão direita, tocando o rosto dela, acariciando-o com o polegar. Havia muito o que dizer, muito que confessar e se desculpar, mas tudo que saiu dos lábios dele foram palavras emboladas, desconexas.

— Eu senti sua falta. Por um momento achei que tivesse te perdido pra sempre, eu quase enlouqueci, eu não posso viver em um lugar onde você não exista, Aura ...

— Shhh... — Ela o abraçou outra vez. — Eu nunca te deixaria, Mor.

Morgan se afundou no pescoço dela, sentindo todo seu corpo se aquecer. Aura estava quente, como um pedra deixada ao sol, e seu calor envolveu Morgan como uma manta.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaWhere stories live. Discover now