67. Encruzilhada

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— Então, quer dizer que você só está vivo por uma casualidade do destino? — ergui uma sobrancelha para o vampiro sentado diante de mim — Porque aquela pedra gostou de você?
Kai assentiu, tomando seu milk shake de morango.
Sacudi a cabeça, não acreditando no absurdo daquilo.
— Então, quer dizer que quando roubei a pedra e ela desapareceu dias depois — prossegui — era porque estava com você?
Ele deu de ombros.
— Ela não estava exatamente comigo — explicou, colocando o enorme copo agora vazio sobre a mesa. O apetite dele ainda era infinito. Impressionante — Ela meio que me trouxe de volta, me seguiu durante meses sem eu saber de sua existência e depois revelou-se no momento propício para salvar Amy.
Olhei para a garotinha, escondida atrás do encosto do sofá olhando por cima do ombro do pai diretamente para mim. Ao contrário da irmã, ela não era nada sociável. E quando percebeu meus olhos sobre si, escondeu-se atrás de Kai novamente.
No dia anterior eu fiquei tão surpresa e encantada com a minha descoberta, que passei a noite em claro, organizando meu reencontro com a garotinha que permeou meus sonhos durante anos. Porém, eu ainda era uma estranha para ela.
Tentei não ficar magoada com aquilo. Embora, estivesse difícil de disfarçar meu ciúme. O que aquele babaca do Kai tinha que eu não poderia oferecer à ela?
Meu coração encolheu do tamanho de uma bolinha. Apertei o ursinho de pelúcia em minhas mãos, desconfortável. Ela não havia nem mesmo tocado no presente que eu trouxe para ela.
Dirigi meus olhos para Kai novamente. Este que me encarava daquela maneira penetrante e tão sua.
— O que foi?
— Você está com ciúmes? — um sorriso diabólico surgiu em seus lábios.
Desviei os olhos, irritada.
— Você não deixa ela se aproximar de mim — soltei, magoada.
Ele abriu os braços.
— Por caso, estou segurando ela?
— Você manipulou a cabeça dela para que não goste de mim — lancei, irritada — Teve anos para dizer o quão a mãe dela era mandona, má e chata.
Eu estava parecendo uma criança resmungona, brigando por um brinquedo, mas não conseguia controlar a frustração que vazava através de meus lábios.
Kai cruzou os braços musculosos sobre o peito, ainda olhando para mim com um sorriso divertido e travesso.
— Pelo contrário — murmurou, calmo — Ela sempre soube que a mãe dela era uma mulher corajosa, inteligente e um pouco teimosa. Porém, essa foi a única parte negativa que citei sobre você.
O fitei do sofá onde estava sentada, do outro lado da enorme sala de estar. O sol matutino batia em seu rosto, fazendo seus olhos azuis se intensificaram mais ainda.
Aquele desgraçado ainda era bonito como o inferno. Droga.
Desviei minha atenção dele e foquei na menina atrás do sofá. Ela se escondia atrás da cabeça de Kai, deixando apenas uma parte de seu rosto visível.
— Deve ser frustrante — ele disse.
— O quê? — voltei minha atenção para ele outra vez.
— Querer tanto alguém — comentou, fixando aqueles olhos em mim — E ela a repudiar tanto assim.
Eu sabia que ele não estava falando de minha relação com Amy. Ajeitei-me no sofá de couro, desconfortável com o rumo da conversa.
Mudei de assunto.
— Você podia ter desaparecido com a Amy para qualquer parte do mundo. Por que veio para Mistyc Falls?
— Próxima pergunta — disse, categoricamente.
— O quê? Mas...
— Próxima.
Bufei, irritada. Descobri recentemente que ele não abria boca nem mesmo quando havia tortura envolvida. Droga.
— Por que estava falando com a Eve? — lancei. Ele não poderia evitar todas as minhas perguntas.
— Eu fiz uma promessa — deu de ombros.
— De que nos atormentaria para sempre? — alfinetei.
— Você fala como se eu fosse uma pessoa má — ele olhou por cima do ombro, para a menina — Amy, o papai é malvado?
Ela sacudiu a cabeça em negativa.
— Você é o melhor pai do mundo — disse com aquela vozinha linda e delicada.
Tive tanta inveja daquela ligação entre os dois que quase torci o urso de pelúcia em minhas mãos.
Amy encarou-me com aqueles olhos desafiadores. Ela não gostava quando falavam mal do pai dela. Fiz uma nota mental de nunca xingá-lo de todos os nomes feios que pudesse lembrar na frente dela.
Mordi a língua de raiva.
— Por que manteve o nome que dei à ela? — questionei. Percebendo o interesse da menina no assunto.
— Eu não mantive — ele respondeu, simples.
— O quê? — estranhei — Mas o nome dela é Amy...
— Na verdade — esclareceu com um ar de superioridade — O nome dela é Amélia. Amy é apenas um apelido muito útil.
Aquilo me deixou tão aborrecida que tive que segurar o braço do sofá com toda a minha força para não saltar em cima daquele herege desgraçado.
— Amy é nome de criança — ele deu de ombros — Amélia é o nome de uma mulher linda e poderosa. Não é, filha?
Ela assentiu, orgulhosa.
Respirei fundo algumas vezes.
— Achei que poderia manter ao menos o apelido em consideração, já que eu fiquei com ela mesmo — ele disse isso como se fosse a coisa mais normal de todas — Tive o cuidado de escolher um nome que combinasse com ele.
— Malachai — enfatizei seu nome, rangendo os dentes — Sua família não tem o histórico dos nomes mais bonitos.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— O quê? — ele colocou a mão sobre o peito, fingindo ultraje — Está dizendo que o nome da minha filha é feio?
Os olhos de Amy se arregalaram levemente. Ela era sensível à ofensas. Assim como seu pai.
— Não! — adiantei-me, sorrindo forçadamente — Seu nome é muito lindo, meu amor! Amélia é o nome mais lindo que eu já vi. Eu não poderia ter escolhido nome melhor!
Amy sorriu levemente, encabulada.
Olhei para o maldito do seu pai que tremia de tanto rir. Se olhar matasse ele teria caído morto e fuzilado bem na minha frente.
Contive minha língua dentro da boca.
Eu sabia o que ele estava fazendo. Deixando Amy por perto para que eu não pudesse ser hostil com ele. Kai ainda era um maldito manipulador apesar dos anos que se passaram.
— Você está vermelha, Bonnie — ele disse, sorrindo com tanta maldade que faria o diabo sentir vergonha.
— Estou? — questionei, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, apenas para ocupar minhas mãos que queriam esmagar o pescoço dele — Deve ser o calor.
— Estamos na primavera — disse, erguendo uma sobrancelha — Geralmente tem uma temperatura agradável. Certeza que não estou irritando você?
Amy ainda me encarava do outro lado da sala.
— Claro que não — se eu sorrise com mais força, partiria minha cara ao meio — Você é uma companhia muito agradável, Kai.
Ele suspirou, satisfeito.
— Ah, esperei anos para ouvir algo assim vindo de você.
Nossa conversa foi interrompida com a chegada de Sol, que vinha carregando uma bandeja com uma xícara de café. Ela o ajeitou sobre a mesa de centro e sorriu para mim daquela maneira apenas dela.
— Amy, venha tomar su café de la mañana — disse, chamando a menina com o indicador — Deja que tus padres hablen.
A menina bateu os pézinhos no chão, fazendo birra.
— Pero, abuelita... — começou.
— Ahora — Soledad disse, fixando seus olhos austeros na menina.
Amy suspirou e seguiu para a cozinha em conceito aberto ao fundo do grande salão, mas não antes de lançar um olhar curioso na minha direção. Soledad deu um cascudo na cabeça de Kai antes de se afastar.
— Comporte-se.
Este que ficou aborrecido, mas não surpreso. Isso me fez rir. Kai mostrou a língua.
— Você tem cinquenta anos de idade ainda age feito um garoto de quinze — revirei os olhos.
— Na verdade, eu tenho quarenta e oito — ergueu um dedo no ar — E o que envelhece é o corpo, não a mente. Apesar de que, eu estou muito, — ele estendeu-se mais sobre o sofá com um olhar lascivo — muito bem para a minha idade.
Olhei-o de cima abaixo, fazendo pouco caso.
— Já vi melhores.
Isso o fez cruzar os braços e semicerrar os olhos.
— Bonnie Bennett, o que quer dizer com isso?
Ergui uma sobrancelha.
— Estou dizendo, Kai Parker — usei o mesmo tom — Que não estou morta e posso sair com quem eu quiser.
Seu rosto assumiu um satisfatório tom de vermelho.
— Quantos foram?
Ri pelo nariz, não acreditando que ele realmente estava me perguntando aquilo.
— A mesma quantidade que você provavelmente teve.
Ele bufou, cínico.
— Sou pai solteiro. Não tenho tempo para namorar. — seus olhos me fuzilaram — Ao contrário de você.
Afastei os cabelos longos dos ombros, irritada.
— Pelo jeito, você e essa cabeça doente ainda acham que estão em um relacionamento sério comigo — citei com acidez — Deixa eu lhe dizer algo: Esse nós — juntei as mãos para elucidar e as afastei — só existe na sua mente pervertida e psicótica.
Isso não pareceu deixá-lo ofendido. Pelo contrário, um sorrisinho irritante estava estampado em seu rosto.
— É mesmo? Então, por que ficou sozinha esse tempo todo se teve oportunidade de conhecer caras melhores?
Ergui uma sobrancelha, sem argumentos.
— Bom... porque... — estava difícil achar argumentos — Porque eu fiquei traumatizada — inventei de súbito. O que em parte não era mentira — Com a sorte que eu tenho poderia me casar com o Hannibal Lecter.
— Você está me comparando à um cara que come gente?
— Somos vampiros — assinalei — Tecnicamente falando, nós comemos gente.
— Mas não nesse sent...
— Los dos — disse Soledad, surgindo na sala feito um fantasma — Vão hablar en otro lugar. La bebé no puede ouvir essas cosas.
Kai revirou os olhos cinzentos.
— Ela já tem oito anos, Sol. Ela aguenta certas coisas.
— Aguento mesmo! — Amy gritou da cozinha, empolgada.
— Usted, cállate! — brigou, olhando feio para a menina — E los dos suman de minhas vistas.
Aquela mulher baixinha tinha tanta autoridade que fez dois vampiros se retirarem de um recinto sem nem mesmo levantar a voz. Eu que não seria louca de debater com Soledad.
Segui Kai por um corredor nos fundos da cozinha, mas não antes de lançar um olhar para Amy sentada em um balcão, que deu um pequeno sorriso para mim.
Meu coração se aqueceu com isso e pensei que, talvez, aquela conexão com a minha filha não estivesse totalmente perdida.
Passamos por algumas portas fechadas, que imaginei serem os quartos, apenas para parar na última do corredor. Kai a abriu e estendeu o braço para que eu adentrasse, mas limitei-me a encará-lo desconfiada e de braços cruzados.
— Você primeiro — sorri friamente.
— Ainda não confia em mim? — ele sorriu divertido.
— O que você acha?
Ele revirou os olhos e apenas adentrou a sala iluminada. O segui, ainda desconfiada vendo o pequeno escritório com janelas enormes que davam vista para a floresta. Haviam várias prateleiras com livros à perder de vista estendidos em toda a sala.
Kai sentou atrás da escrivaninha de vidro temperado em uma cadeira preta de encosto alto. Sentei-me diante dele, do outro lado da mesa em uma poltrona menor e confortável.
— E então? — ergui as sobrancelhas.
Ele apoiou um cotovelo na mesa e pude ver alguns objetos como grimórios, velas, misturados à desenhos infantis e giz de cera espalhados na superfície transparente. Quase pude visualizar Kai sentado ali, preocupado, lendo seus grimórios e fazendo anotações, enquanto Amy, sentada em seu colo fazia vários desenhos com lápis e giz de cera.
Uma cena adorável. Que não condizia com o homem que olhava friamente para mim.
— Quero saber porque você voltou depois de todos esses anos — pressionei.
Kai ponderou por alguns minutos, pensando sobre o assunto. Ele estava diferente do tagarela babaca que conheci à alguns anos atrás.
— Por causa da Eve  — franzi o cenho, ainda sem entender. Ele prosseguiu — Quero saber porque ela é mais saudável que a Amy. Por que as duas que são tão iguais, são tão diferentes.
— A Amy é mais humana que a Eve...
— Quantas bolsas de sangue ela bebe em uma semana? — questionou subitamente.
Aquela pergunta estranha me pegou de surpresa.
— Não sei. Duas ou três.
— E consegue passar vários dias sem se alimentar de novo, não é?
Assenti.
— A Amy precisa de cinco — abri a boca para argumentar que aquilo era normal, quando ele me interrompeu de novo — Por dia.
Meu queixo quase caiu.
— Isso é quase a dieta de um vampiro adulto — disse eu, chocada.
— Exato — ele assentiu de novo — No início eu não era tão organizado com essa coisa de Cruz Vermelha e essas coisas. Perdi as contas de quantas pessoas eu matei para alimentá-la, mas a fome dela nunca diminuía. Foi bem estressante.
Aquela assunto me deixou desconcertada.
— A Eve tinha uma dieta à base de leite e sangue nos primeiros meses de vida.
Kai sorriu.
— Eu invejo você. Amy era uma mini predadora. Nunca tomou uma gota de leite, vomitava tudo sempre que Sol tentava alimentá-la. A única coisa que parava em seu estômago era sangue humano. E tinha que ser fresco.
Meus olhos se arregalarem. Tentei me imaginar matando pessoas para alimentar um bebê vampiro. Apesar de absurdo, eu conseguia visualizar à mim mesma tirando vidas para saciar a sede de minha filha.
Kai recostou na cadeira suspirando.
— Felizmente, com o passar dos anos, ela se acostumou com comida humana. Apesar de sempre torcer o nariz para o brócolis.
— E a quantidade de sangue que ela bebe? — questionei preocupada — Diminuiu?
— Pelo contrário — ele fez uma careta — Aumentou.
Como isso era possível?, pensei, chocada.
— Cinco bolsas de sangue é apenas uma restrição alimentar que impuz à ela — explicou — A fome dela nunca diminui. E sem falar que ela não pode praticar magia, pois pode acabar sugando de si mesma e se matando. Bom, estamos tentando controlar isso também.
— Espera — o interrompi com aquela enxurrada de informações — Quer dizer que ela é um sifão e pode praticar magia?
— Contraditório, não? — ele sorriu, dando de ombros — Da última vez que tentou fazer um feitiço simples,  passou um mês em coma. Por isso, a proibi de fazer qualquer tipo de feitiço.
— Isso não faz sentindo nenhum... – murmurei, ainda chocada — Com tudo isso ela nem deveria estar...
— Viva? — ele acrescentou, sorrindo tristemente — Eu não chamaria isso de vida. Ela tem restrições alimentares, pode ter uma parada respiratória ou cardíaca à qualquer hora do dia e nem pode ficar perto de outras crianças da sua idade porque não consegue nem mesmo respirar por conta própria...
Ele respirou fundo, parando de falar no meio de seu monólogo. O mesmo cansaço estava estampado em suas feições.
— Se estiver cansativo demais para você pode devolvê-la para mim à qualquer momento — sugeri, erguendo uma sobrancelha.
Seus olhos azuis me atravessaram como um raio, veias negras os cercando.
— Ilusão sua achar que vou abrir mão da minha filha só porque você quer.
— Eu a terei de volta de uma forma ou de outra — falei, sem me afetar — Estando você vivo ou morto.
Sua expressão suavizou, as veias se recolhendo.
— Você seria capaz de matar a pessoa que a Amy mais ama nesse mundo?
Minha expressão enrijeceu de imediato. Eu estava tão focada em minha raiva e desprezo por Kai que não cogitei os sentimentos de Amy. Sim, eu sabia que ela ficaria magoada se perdesse o pai. Mais do que isso, porque eu mesma experimentei uma dor semelhante ao ver meu próprio pai ser morto na minha frente.
Fitei seu rosto frio por longos segundos.
— Se eu achar que você está colocando a vida dela em risco — disse, sem pestanejar saindo daquele silêncio — Sim, eu o mataria.
— Mesmo que ela a odiasse para sempre? — ele perguntou, agora sério. Qualquer traço de humor sumido de seu rosto.
— Mesmo assim — assenti, sem deixar de mirá-lo.
Ele devolveu o mssmo olhar na minha direção, porém, poucos segundos depois ele apenas sorriu e olhou para as próprias mãos sobre o tampo da mesa de vidro. Quando os voltou para mim, havia um pouco de calor em seu rosto.
— Puxa — suspirou — Eu ainda adoro esses olhos lindos. Não pensei que isso me afetaria depois de tantos anos.
Cruzei os braços sobre o peito, inquieta com a direção daquele assunto.
— Você está tentando me distrair com papo furado?
— Está dando certo? — um sorriso diabólico se espalhou por seus lábios.
— Se me elogiasse mais e tentasse me matar menos, talvez, nós tivéssemos dado certo, Kai — murmurei de forma sombria, citando algo que nunca foi dito, mas que certamente também já passou por sua cabeça.
Ele ergueu as sobrancelhas, assentindo com a cabeça.
— Vou usar essa dica com a próxima bruxa gostosa e metida que eu namorar.
Revirei os olhos, encabulada com aquele seu jeito cafajeste de sempre. Ele conseguia me deixar desconfortável como no primeiro dia em que o vi em um repetitivo dia ensolarado em 1994.
— Quero o feitiço para libertar Elena — lancei, subitamente, o desarmando.
Kai revirou os olhos e girou a cadeira em um círculo completo gemendo de raiva.
— Eu já disse que não sei como quebrar o feitiço — resmungou — Ele foi feito para ser inquebrável. O que posso fazer se sou um gênio na arte de criar feitiços difíceis? Culpa do meu pai, ele que me fez!
— Se você conseguiu criar aquela monstruosidade, pode muito bem recriar algo mais forte para quebrá-lo — falei, sem me impactar com seu mal humor.
— Isso é um feitiço de ligação, misturado à vida e morte — explicou como se estivesse falando com uma criança estúpida — Envolve tantos feitiços complexos e perfeitamente intrincados que se eu tivesse errado teria matado vocês duas ou simplesmente criado uma maldição exponencialnente mortal, que não consigo nem mesmo começar a explicar para você. Então, não tem como eu desfazer isso sem uma das duas sair morta do processo — ele deu de ombros — Claro que se fosse a Gilbert eu não derramaria uma lágrima.
Respirei fundo, sabendo que teria que fazer algo sobre isso. Pedir algo à Kai nunca foi uma boa coisa, como todo bom psicopata — ou ex-psicopata — ele gostava de jogos e barganhas.
— Tá legal — fiquei de pé, apoiando as mãos sobre o tampo da mesa e o encarando de perto — O que você quer para libertar Elena desse feitiço?
Outro sorriso diabólico se espalhou pelo rosto perfeito e bonito daquele babaca.
— Estou gostando do rumo que a conversa está tomando. Posso pedir qualquer coisa? — dizia isso enquanto seus olhos desciam pelo decote de meu vestido e minhas pernas.
— O que estiver ao meu alcance — enfatizei, deixando bem claro até onde iriam meus limites — E não me peça nada descomunal ou fantástico demais.
— Você sabe que eu sou um cara simples, BonBon — disse ainda me secando de cima à baixo. Engoli em seco — Eu me contento com coisas mundanas e carnais.
Respirei fundo, me preparando para algum pedido pervertido ou algo constrangedor que apenas ele conseguia pensar. Não que eu fosse fazer nada daquilo.
— E então? — perguntei, ansiosa.
Depois de longos segundos me avaliando como um pedaço de carne, Kai apenas se recostou na cadeira de encosto alto e olhou-me com seriedade.
— Eu quero ver minha filha — disse apenas, sem piadas ou brincadeiras — Quero ver a Eve.
Eu que estava preparada para qualquer coisa, fiquei completamnete sem ação ante ao seu pedido.
— O-O quê? — gaguejei — Por que?!
— Eu quero saber porque ela é tão saudável e a Amy não — respondeu simplesmente — Eu quero conhecê-la. Não pude fazer isso no dia em que ela nasceu, porque a Amy... Bem, você sabe.
— Não... Peça qualquer coisa, Kai — sacudi a cabeça em veemência — Ela não. Minha filha, não.
— Eu cuidei muito bem da nossa filha durante todos esses anos, Bonnie — sua voz estava cortante de raiva — Por que acha que vou machucar a Eve?
— Você entrou na cabecinha dela durante quase um ano — soltei, irritada — Colocando pensamentos ruins que não faziam parte dela, fazendo-a odiar pessoas próximas — Damon surgiu em minha mente — Você acha mesmo que vou deixar alguém como você influenciar a minha filha?
— Você não está sendo justa, Bonnie — disse pacientemente — Eu quero poder ver minha filha, assim como você tem o direito de estar perto da Amy também.
— A única diferença é que durante oito anos você soube que sua filha estava viva — acusei, tremendo de raiva dos pés à cabeça — Enquanto eu chorava a perda do meu bebê, achando que nunca mais a veria. Então, não venha me falar de justiça Kai. O que você sabe sobre isso?!
Eu estava com uma vontade enorme de saltar sobre aquela mesa e bater nele até não sobrar nada para reconhecer, mas eu sabia que minha filha e Soledad estavam no cômodo ao lado e que eu deveria me controlar. Ter genes vampiro tinha lá seus momentos ruins.
— Peça outra coisa — sacudi a cabeça novamente.
— Isso não é negociável — ele disse, duro com as palavras — É para o bem de Amy. A Eve não se machucará de forma alguma, mas a irmã dela pode morrer a qualquer momento. Você quer que isso aconteça?
Deixei-me cair sentada na poltrona novamente, perdida.
— Isso não é justo. Você não pode usar minhas filhas contra mim assim.
— Eu não estou usando-as — falou pacientemente — Se a Amy fosse uma criança saudável eu com certeza nunca mais voltaria para a sua vida, mesmo que isso significasse ficar longe da Eve para sempre. Assim como você, Bonnie, eu não tenho opções.
Eu estava em uma encruzilhada. Se negasse o pedido de Kai, Amy poderia morrer por minha causa. Se deixasse ele se aproximar de Eve, poderia modificar todo o caráter que a ajudei a moldar desde seu nascimento.
Não parecia haver saída. Eu precisava sair dali para pensar, eu precisava...
— Papai? — disse a voz suave de Amy.
Kai olhou por cima de meu ombro e eu fiquei de pé de imediato. Amy estava parada na entrada do escritório em seu vestidinho azul escuro, com seu tanque de oxigênio logo atrás firmemente seguro em seus dedinhos pálidos e pequenos.
— Quem é Eve? — questionou, franzindo o cenho — É minha irmã? Eu tenho uma... irmã?
Kai e eu trocamos olhares preocupados e nos voltamos para o olhar questionador de nossa filha.

💀💀💀💀💀

Nota da Autora:

Oi chuchus!

Pausa para um fim dramático de novela kkkk.
Será que a nossa bruxinha metida vai entrar em consenso com o nosso adorável sociopata? Eu espero que não 😏

E essa coisinha linda nas fotos é a McKenna Grace. Apesar de que vi em algumas fics que usam a Mckenzie Foy como filha do Kai e a Bonnie, que também é uma moça linda, mas eu tenho um certo carinho pela McKenna e a atuação dela em "Invocação do Mal" e "A Maldição da Residência Hill" ❤

Espero que tenham gostado desse capítulo! E, por favor, comentem para que eu saiba o que vcs estão achando da história

Beijos xxx. Até o próximo 💋

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now