3. Nosso Pequeno Quiz

2.3K 209 77
                                    

Para @Ghisouza que pediu tão atenciosamente ^-^

A música da vez é "Can't sleep, can't breath" do Nightcore.

O uma corrente de ar morna e confortável, se instalava em meu rosto. Era uma sensação gostosa.
Me sentia sonolenta e exausta, como se tivesse corrido uma maratona inteira. Cada músculo do meu corpo protestava por mais descanso e inércia. Porém, eu estava cansada de dormir.
Abri meus olhos devagar e preguiçosamente.
Tudo estava embaçado, mas consegui distinguir dois pontos azuis-cinzentos.
E eles pareciam estranhamente... observadores.
Forcei mais a vista e os dois pontos subitamente se transformaram em olhos azuis-cinzentos. E os olhos estavam acompanhados de um rosto, que estava perto demais.
- Que bom que acordou- Kai sussurrou com um sorriso gentil e senti um leve acariciar em meus cabelos.
As lembranças dos acontecimentos anteriores me acertaram como uma marreta.
Meu coração quase pulava pela garganta, quando tentei me afastar dele na superfície macia, que eu imaginava ser a cama. Antes, que eu fizesse mais algum movimento mais brusco, senti uma pontada dolorosa em meu tornozelo direito.
-Ah!-gemi, agarrando minha perna com a dor.
Olhei para baixo e vi que a calça de moletom e a blusa haviam sumido. Eu usava uma camisa enorme e preta, que imaginava ser a de Kai.
Pensei que teria a imagem de meu tornozelo destruído e quebrado diante de meus olhos, mais uma vez. Mas, tudo o que vi foi meu pé preso em uma tala escura, até metade da panturrilha.
- Eu podia ter dado meu sangue pra você- o ouvi dizer, ainda deitado ao meu lado e voltei meus olhos para ele, notando que vestia outra roupa. Uma camisa branca, jeans escuros e os coturnos- Sabe, pra curar o seu pé quebrado. Mas, não quis.
Meus olhos se inundaram de ódio. Se um olhar pudesse matar eu teria estraçalhado Kai naquele exato momento.
- Me magoou com a sua tentativa de fuga, BonBon- disse fazendo um beicinho e uma cara tristonha- Pensei que queria passar um tempinho comigo.
Lancei um olhar de escárnio e desprezo à ele.
- Prefiro a morte à ter que escutar sua voz mais um segundo.
Seu sorriso se alargou e ele tocou em minha bochecha. Me encolhi o máximo que consegui.
- Engraçado...- ele riu-... Geralmente, eu me canso dos meus bichinhos, mas você tem algo inquietante. O que eu quero saber é o porque disso. No que você é diferente Bonnie?
- Eu sou perseguida por um louco- revirei os olhos.
Kai voltou a fazer um beicinho.
- Eu não sou louco- se defendeu e sorriu em seguida- Apenas obcecado, mau, degenerado, cruel e acima de tudo... Incompreendido.
- Own... essa é a parte em que sinto pena de você e viramos amiguinhos para sempre?- provoquei, cheia de veneno e tirei sua mão de meu rosto.
Ele franziu os lábios em sinal de desagrado. Ignorei aquilo.
Apenas tentei me levantar.
Cada movimento, fazia uma dor insuportável chegar até meu tornozelo ferido e ainda assim desci de cama.
Fiquei de pé com cuidado, apoiando todo o peso na perna boa e comecei a pular até a porta de madeira velha. E aquele latejar doloroso só aumentava.
- Para com isso, Bonnie- resmungou Kai- Tá ficando ridículo.
- Eu vou sair daqui- arfei, ainda mancando até a porta que estava cada vez mais perto- Nem que seja me arrastando.
Ouvi seu risinho.
- Se continuar assim, com certeza vai- falou com aquele ar de superioridade irritante- Acha que eu não espalhei armadilhas por todo esse lugar? Se encontrasse a saída, o que eu duvido muito, seria sem metade das suas extremidades.
Ignorei - o.
Kai estava fazendo um joguinho. Ele queria que eu ficasse encolhida e vitimizada em minha cela.
Ele não me conhecia.
Espalmei as mãos, na madeira velha e meio podre. Eu arfava um pouco pelo esforço de vir pulando.
Girei a maçaneta, esperando que estivesse aberta como da primeira vez. Ela não abriu. Estava trancada.
- Acha que eu sou idiota, não é?- ele riu, perto demais.
Quando me voltei, Kai estava parado atrás de mim, me observando com um divertimento cruel.
Mirei seus olhos cinzentos, sem ver uma alma de verdade. Ele era apenas uma casca vazia e sem emoção.
- O que quer de mim, Kai?- exclamei- Por que não me mata de uma vez? Por que não acaba com isso?
Ele deu um passo em minha direção, me obrigando a encostar na porta.
- Você não é a Elena, mas se acha o centro do universo, não é, Bennett?- disse com sua respiração morna, batendo em meu rosto- Não se trata apenas de você. Isso aqui- gesticulou o quarto- Faz parte do meu plano maligno dividido em três partes.
Franzi as sobrancelhas.
Estava bem por fora do seu "plano maligno dividido em três partes."
- Que seria...?
- Que seria basicamente... Um...- enumerou com os dedos- ...Matar meu pai e toda a Convenção Gemini que me aprisionou. Dois: Colocar a Elena em um sono de uns sessenta anos e fazer o Damon chorar como uma garotinha durante esse meio tempo. E três, mas não menos importante: manter você presa até esse dia chegar e quando morrer, eu volto para acabar com a felicidade do casalzinho.
Não acreditei na idiotice daquele plano.
- Então... Você vai esperar sessenta anos para se vingar de Damon e Elena? Sessenta longos anos...?
Ele assentiu, parecendo orgulhoso.
- Sabe que isso é muito tempo, não é?- citei, arqueando uma sobrancelha- Você vai acabar se entediando.
Ele sorriu mais ainda.
- É por isso que está aqui, pequena Bonnie- explicou, tocando uma madeixa de meu cabelo curto- Elena? Nem vai sentir os anos passarem. Damon. Ele vai sofrer bastante, porque não vai conseguir encontrá-la para poder acordar a namorada. E claro, como sempre, você ficou com a pior parte do meu plano.
O fitei com ódio, mas incapaz de não engolir em seco ao ver seu olhar cruel sobre mim.
- Eu preparei todo o tipo de brincadeira para nós dois- sussurrou, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha- Essa é a vantagem de se passar dezoito anos em uma prisão dimensional e se tornar um vampiro herege em seguida. O tempo deixa de ser um empecilho e se torna apenas um relógio quebrado, onde eu posso ajustar os ponteiros e me divertir vendo-o passar.
Eu não conseguia acreditar naquela loucura. Kai me manteria presa até que eu envelhecesse e morresse?
Antes, o achava louco, agora ele com certeza me parecia bem mais desequilibrado.
- O que eu fiz pra você?-sussurrei, com um fio de voz .
Vi a forma como seu maxilar enrijeceu, como se aquilo o incomodasse.
Ele forçou um sorriso duro.
- Está na hora de brincarmos um pouco- ele disse, parecendo empolgado.
Senti um tremor me percorrer. Kai poderia querer qualquer coisa, menos "brincar".
Não tive tempo para dizer mais nada, pois o cara começou a me puxar pela mão de volta para minha cama.
Eu relutei, mas era isso ou ser arrastada por ele. E já estava suficientemente machucada.
-Senta aí- ele me empurrou na beirada do colchão.
O vi caminhar para um canto mais escuro do quarto e voltou arrastando uma cadeira dobrável de metal.
Ele a ajeitou e sentou-se bem diante de mim.
Kai a puxou para bem perto, de forma que ele estava com uma das pernas metida entre as minhas e eu estava do mesmo modo.
Tentei me ajeitar, não gostando da forma como seus olhos cobiçosos secavam as minhas coxas nuas.
Kai me puxou de volta para o lugar, impedindo-me de sair daquela posição.
Uma de suas mãos ficou pousada em meu quadril, enquanto ele puxou algo do bolso de trás da calça.
Estremeci ao ver sua faca- a que ele usou para matar Jo e seus irmãos mais novos- reluzindo na luz fraca e espectral daquele quarto.
Kai sorriu cheio de soberba, ao fitar meus olhos assustados.
Eu quase podia sentir a cicatriz, embaixo do seio esquerdo- onde ele também me esfaqueou- latejar em protesto.
Ele abaixou a faca de modo que a ponta dela, arranhasse minha coxa direita. Kai continuou deslizando-a por minha perna distraidamente, deixando uma trilha avermelhada do arranhão.
- Sabe, Bonnie- ele disse, ainda deslizando a lâmina fria por minha pele, a subindo até a barra da camisa que eu vestia- Eu gosto de jogos de perguntas e respostas- explicou fazendo a menção de levantar o tecido da camisa em minha coxa, mas o segurei com firmeza. Ele sorriu mais, deixando a faca deslizar para a metade de minha perna de novo- Dá pra conhecer muito sobre alguém só por meio de perguntas. Porém, não são as respostas em si que importam e sim como são ditas... Por isso, quero brincar disso com você.
Continuei o encarando, sem disfarçar o ódio e desdém que sentia por ele.
- Nós passamos um tempinho juntos no Mundo Prisão- continuou- Mas, sinto que ainda não conheço o suficiente de você. Por que não me conta algumas coisas ao seu respeito?
Eu ri, mas foi um som amargo e sem vida.
- Isso é ridículo- falei- Por que fica fazendo esse joguinhos, Kai?
- Não é isso o que as mulheres querem?- provocou com um sorrisinho de canto- Um homem que se interesse por cada detalhe de suas vidas? Que queira conhecer todos os seus gostos, desejos, fetiches, medos.
O modo como disse a última palavra fez todo o meu corpo se arrepiar em um súbito frio.
- Nenhuma mulher em sã consciência iria querer você- rebati, arqueando uma sobrancelha.
-Ai!- fez ele, colocando a mão no peito em um ato teatral- E depois dizem que eu sou mau.
Revirei os olhos.
Kai se ajeitou na cadeira, recolhendo a faca. O vi cruzar os braços sobre o peito.
Ele parecia bem mais musculoso e pesado. A camisa apertada nos braços, evidenciava seus ombros mais largos.
- Como foi o seu primeiro beijo?- me perguntou de súbito.
Franzi as sobrancelhas.
- O quê?
- Apenas responda a pergunta, Bonnie- revirou os olhos.
Bufei e contei como havia sido e com quem. Kai era extremamente curioso e fazia todo o tipo de pergunta, a maior parte voltada para a minha vida pessoal.
Era difícil alguém me chocar ou envergonhar, mas não me lembro de ter ruborizado tantas vezes em um só dia. Kai fazia perguntas incisivas e íntimas, de um modo que a cortesia e educação proibiam.
Bem, mas ele havia me sequestrado. Não era tipo de cara que parecia se importar com coisas idiotas como bons modos.
A cada vez que eu me negava a responder alguma pergunta, o via ficar um tanto rubro e impaciente. E remexia aquela faca constantemente, como que para me lembrar de que eu não estava em um bate-papo e sim em um interrogatório.
Porém, aos poucos ele parou de perguntar sobre fatos de minha vida e começou a focar em assuntos bem mais sérios.
- O que a faz pensar que Damon realmente se importa com você?- questionou após me ouvir dar cada detalhe dos anos em que aturei aquele Salvatore homicida- Quer dizer, ele pode até gostar um pouquinho, mas com certeza ama a Elena mais que tudo. Acha que ele realmente a deixaria viver por algum tipo de sentimentalismo bobo, como amizade ou gratidão. E deixar a amada dele em um caixão metade da sua vida?
Seu tom de deboche me irritava, mas eu não podia negar o impacto que aquelas palavras causavam em mim.
- Eu confio nele- dei de ombros, não querendo me aprofundar no assunto.
Kai franziu as sobrancelhas escuras.
- Você confia no cara que tirou sua avó de você e que fez sua mãe ser transformada no que mais odeia?- alfinetou, deixando um sorriso mal brincar em seus lábios- Seu conceito de confiável é um pouco falho, não, Bonnie?
Trinquei o maxilar.
Estava cansada daquela baboseira.
- E quem é você para dizer em quem posso confiar ou não, Kai? Matou sua família, não tem amigos e nem ao menos uma Convenção para suportá-lo como líder. Você não é nem um pouco confiável.
Ele continuou me fitando com a expressão fria.
- Interessante...- comentou, deixando uma sugestão de sorriso surgir em seus rosto- Você o defende com garras e dentes. Mas...
E se inclinou para frente, apoiando os cotovelos em suas coxas para que seu olhos ficassem na mesma altura que os meus.
- ... por quanto tempo acha que Damon, conseguiria manter a pose de bom moço, hum? Por quanto tempo, ele tentaria deixar você viver, para agradar a namoradinha?
Desviei meus olhos dos seus, fitando a parede descascada e cinzenta do outro lado do quarto. Não tinha que ficar ouvindo toda aquela merda.
No mesmo instante, senti seus dedos segurando meu rosto com força e me obrigando a olhar para ele.
Tentei soltar sua mão de meu maxilar, porém Kai apertou mais, causando mais dor em mim.
Seus olhos cinzentos se aprofundavam nos meus com uma fúria ártica.
- Deixa eu resumir como seria sua curta vida com Damon Salvatore- sussurrou com a raiva ardendo em sua voz- Ele a deixaria passar do primeiro ano com certeza. E com algum esforço, você viveria mais sete ou dez anos.
"Damon passaria todo esse tempo, tentando se convencer de que a falta de Elena não dói tanto e que você é uma ótima amiga, compreensiva e paciente com ele. Nosso Salvatore seria um grande herói de romances cafonas. O vampiro egoísta e mau que esperou pelo grande amor de sua vida- ironizou- Mas, nós dois sabemos que paciência não é o forte de Damon, não? Em algum momento, a dor e a saudade estariam fortes demais. Ele não aguentaria e quebraria o seu lindo pescocinho de bruxa."
"Elena acordaria, e se houvesse a pequena possibilidade de eu não ir atrás deles, sua amiga, ficaria furiosa fazendo todo aquele drama de que odeia seu namoradinho por ter matado sua melhor amiga e tal. Ela passaria meses sem querer olhar para a cara de Damon, o que seria perfeito. Porém, como todas as vezes ela perdoaria a coisa hedionda que ele fez. E eles seguiriam em frente como em uma linda história de amor."
"E você... não passaria de uma lembrança triste e dolorosa que com o tempo seria esquecida, até que não se recordassem de quem foi Bonnie Bennett e os sacrifícios que já fez por algum deles."
Kai me fitava com raiva e crueldade, ainda segurando meu rosto daquele modo doloroso. Mas, nada doía mais que o peso de suas palavras, porque no fundo, eu sabia que ele tinha razão.
Senti a ardência em meus olhos, tentando transbordar. Porém, obriguei as lágrimas a voltarem para o seu devido lugar.
Kai não me veria chorar.
- Então, Bonnie- ele continuou- Deveria me agradecer por ter salvo sua vida. Eu prolonguei sua estadia no mundo.
Ri com mais desdém.
- Pode até não sentir nada, Kai, mas sabe de onde vem toda essa raiva súbita de Damon?- alfinetei maldosamente- Não é só porque ele me deu a idéia de abandoná - lo naquele lugar. Isso o que você sente é inveja.
- Inveja?- ele riu, como se a palavra parecesse mais do que absurda. Mas, eu podia ver o quanto ele estava incomodado- Por que acha isso?
Arqueei uma sobrancelha.
- Por que, mesmo que Damon faça as coisas mais cruéis e más, ele sempre será perdoado. Por seu irmão, por Elena, por mim- falei com muito mais veneno- E você? O que tem além dessa faca?
Kai trincou o maxilar, seus olhos estava em chamas.
- Damon é amado, ele tem tudo o que você sempre quis- continuei- Você não me trouxe aqui pela bondade de seu coração e sim por um simples capricho. Eu sou apenas um troféu que roubou de Damon, não é, Kai?
Estava prestes à dizer mais umas coisinhas à aquele monstro, quando senti o aço frio perfurar minha coxa.
-Aaaah!- gritei, agarrando minha perna e vendo a lâmina afundada até o cabo. O sangue escorria livremente, descendo por minha pele e pingando no chão de cimento.
Senti o punho de Kai se enroscar em meus cabelos, os puxando violentamente para frente. De modo, que meu rosto ficasse mais perto do seu.
Seus olhos cinzentos cercados de veias negras pulsantes me fitavam com ódio.
- Vamos deixar uma coisa bem clara, Bonnie- sibilou me encarando. Sua respiração morna batia em meu rosto- Se vamos conviver durante sessenta anos, sugiro que modere esse tom de voz. Porque eu não exitaria um momento sequer em arrancar sua língua e obrigá-la a comer. Entendeu?
Não respondi, tremendo de raiva e dor. O fulminei com os olhos.
Kai deu uma risadinha e de súbito, arrancou a faca de minha carne e a afundou mais uma vez, arrancando mais um grito lancinante de mim.
- Entendeu?- repetiu.
Eu arfavava. Um suor frio começou a descer por minha tempôra em razão da dor.
- Sim!- murmurei, entredentes, o encarando com um ódio doentio.
Ele pareceu satisfeito e largou meu cabelo. O senti puxar a faca de uma só vez, me fazendo gemer em protesto.
O vi colocar a ponta da lâmina nos lábios, como se estivesse degustando.
- Hum...- saboreou- Seu gosto é muito bom.
Coloquei a mão sobre meu ferimento, tentando estancar a perfuração das duas facadas.
Uma poça de sangue, se formava em volta de meu tornozelo.
Kai pousou a faca em cima de sua perna e voltou a me encarar com divertimento.
- Vamos prosseguir com o jogo- falou sadicamente- E dessa vez, você vai responder tudo direitinho.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Olá queridos,

Desculpem por ser tão demorada com capítulos tão curtos. É que eu sou extremamente perfeccionista. De um modo quase psicótico e quero deixar tudo lindo pra vocês.
Esse capítulo é mais uma entrada para o que a BonBon vai ter que suportar do Kai. Sei que é um pouco doentio dizer isso mas... Espero que tenham gostado :).
E não tenham medo de comentar o que acharam. Adoro saber a opinião de cada um ^-^.

Até o próximo. Beijinhos do Kai xxx

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Onde as histórias ganham vida. Descobre agora