26. Tentação

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Para @imlittleredbird que fez essa capa linda. Te amo, sua linda :*

Não havia sentido em beber uísque se você é um vampiro herege que é incapaz de ficar embriagado. Mas mesmo, assim valia a tentativa.
Eu estava sentado em minha suíte em uma poltrona escura, olhando para os prédios ao longe. Apesar de gostar dessa atmosfera de metrópole, eu sentia falta do campo onde havia nascido. Tudo era muito mais fácil naquela época. Até claro, meu pai decidir que eu não merecia a liderança de meu clã.
- Você não me venceu, velho- murmurei, apertando meus dedos no copo gelado de uísque.
No entanto, há muito eu havia deixado a lembrança daquele homem para trás. Não havia porque disputar com um fantasma.
Bonnie era meu problema.
Sempre ela.
Mas não exatamente sua adorável pessoa e sim o que representava para mim. De certa forma, ela me assustava.
Não era sua aparência- que a propósito era sensacional- e muito menos sua personalidade. Tinha medo do que ela sempre estava fazendo comigo. Me deixando confuso e com raiva.
Por mais que disesse à mim mesmo que desliguei minha humanidade por um simples capricho. Não era a total verdade. Foi por ela.
Eu tinha medo do que poderia fazer se desse mais poder à ela. Medo de ficar tão descontrolado e à mercê de suas vontades. De ceder à um simples sorriso ou revirar de olhos verdes.
Claro que um grande fator para minha mudança foi sua rejeição. Não pensei que aquilo fosse me deixar tão frustrado e desnorteado, mas eu fiquei. E doeu. Mais do que qualquer coisa eu já tenha sentido.
As emoções de Luke estavam começando a dominar e a afogar minha própria personalidade em dor e culpa. Era como estar dentro de uma bolha de gás carbônico, sufocando e morrendo sem ter à quem recorrer.
Então, eu desliguei.
E pela primeira vez em muitos anos, eu pude enfim respirar de verdade. Não havia mais raiva, nem desespero, nem carência e muito menos dor. Eu estava livre para fazer o que quisesse sem culpa e ressentimentos.
Coisas que antes me irritavam ou alegravam já não faziam mais sentido. Tudo ficou um tanto insosso e sem graça, mas não ela.
Era como se Bonnie emitisse luz própria, fazendo com que as emoções contidas dentro de mim oscilassem perigosamente. Eu podia sentir as ondas reverberando em minha mente toda vez que ela olhava para mim. E um pouco daquela dor e raiva voltavam, quase explodindo em um maremoto.
Ela era meu gatilho emocional. A única coisa que podia me religar, então fiz de tudo para fazê-la sofrer. Eu a subjuguei e humilhei, tirei seus propósitos e motivos de viver. Tentei fazê-la em pedaços em uma tola tentativa de diminuir seu apelo sobre mim. Mas à cada vez, mesmo que estivesse destruída e quebrada, ela ressurgia com um olhar de ódio, com uma lágrima, com um pequeno sorriso que simplesmente enfraqueciam minha vontade.
E na noite passada não foi diferente.
Quando entrei em seu quarto, estava pronto para uma recusa imediata, e claro, pronto para tê- la à qualquer custo. Mas quando Bonnie simplesmente aceitou eu fiquei surpreso e... confuso.
Então, ela se despiu deixando seu corpo estonteante diante de mim. A lingerie verde como seus olhos e sedosos como eles. Aquela cor virou meu ponto fraco.
Em seguida a tomei, tão desejoso e louco. Tinha ficado muitos dias sem tocá-la e isso fez com que minha excitação ficasse reprimida, explodindo de vez naquela noite. Quando a joguei sobre a cama, meu único pensamento foi fodê-la até o sol nascer. Acabar com todo aquele desejo, todo aquele fogo que queimava em minhas veias como ácido.
A sede de sangue não era nada comparada à aquilo. Me sentia ficando cada vez mais louco, o mar se revolvendo cada vez mais.
Subitamente, ela tomou as rédeas da situação com uma confiança renovada. Sem chorar ou pestanejar, ela simplemente me comandou. E eu deixei, tão excitado que estava quase cego de luxúria.
Claro que quando ela montou em mim daquele jeito, fui duramente transportado aos sonhos que tive com ela ao longo dos meses. A Bonnie dos meus sonhos e pesadelos era muito parecida com essa. Foi como se ela tivesse se tornado tudo o que eu imaginei. Quente, intensa, gostosa e mortal.
E essa versão da bruxa era muito mais perigosa para mim, mas eu não quis pensar em mais nada. Só queria estar dentro dela o mais rápido possível, e tê-la até desmaiar de cansaço.
Foi uma surpresa bem desagradável pra mim quando aquela baixinha me bateu. Isso me deixou furioso e, cara, duro como uma rocha. Nunca imaginei sentir tanto tesão nisso. Então, a beijei, mordendo seu lábio até arrancar seu sangue doce. Em parte a punindo, em parte aproveitando.
Bonnie deu um gritinho de dor, cravando as unhas longas em meu braço.
Quando ela me empurrou sobre o colchão, com as mãos espalmadas em meu peito, movimentando os quadris de leve, eu simplesmente esqueci a raiva. A necessidade de possuir seu corpo foi muito mais atrativa.
Foi uma sensação estranha.
Era eu quem sempre a dava as cartas, que a tomava quando queria. Mas naquele momento, ela quem ditava as regras na cama. Eu nunca tinha tido nada parecido com isso.
Ela foi intensa, cruel, fria e acima de tudo, carinhosa. Eu nunca tinha esperado nada desse tipo em relação à Bonnie. Mas lá estávamos nós, tão unidos e conectados como um só.
As ondas simplesmente voltaram a se sacudir com violência em minha cabeça, ameaçando transbordar pelas bordas de minha mente. As emoções lutavam para retornar, mas não deixei, apesar do prazer louco que aquilo causava.
Em algum momento eu inverti nossas posições, tomando as rédeas. Mas por quê ainda parecia que era ela no comando? Apenas sei que eu estava mais descontrolado do que podia me lembrar e os gemidos dela em minha orelha não estavam ajudando. Quando sussurrava meu nome, eu pensava que atingiria o êxtase antes da hora, mas forcei meu corpo à me obedecer.
Porém, não aguentei muito tempo. Depois do que se pareceu uma eternidade, atingi o orgasmo mais intenso de toda minha vida.
Ainda ofegando espalhei carícias por seu rosto, com a mente em branco pelo cansaço. Meus dedos apertaram os seus trêmulos sobre o travesseiro. Eles pararam de tremer.
- Eu quero você a noite toda- sussurrei, ainda alheio a qualquer coisa. Alheio ao que eu estava fazendo.
A água salgada das ondas escorriam e pingavam em minhas lembranças. Mas não me importei, eu estava com ela.
Bonnie virou o rosto com frieza e olhou para nossas mãos dadas. Sua expressão tornou-se de revolta.
- Mas você já acabou, não é?- disse com tanto desdém na voz, que eu simplesmente parei o que estava fazendo.
E de repente, me toquei do quão ridículo eu estava sendo. Quase deixando as emoções voltarem por ela. Por uma garota que sempre fez me abandonar quando fiquei vulnerável para ela.
- Acabei- disse acidamente, saindo de cima dela.
Vesti minhas roupas com raiva, vendo-a se encolher na cama como uma criança. Seus olhos não fitavam os meus.
A expressão em suas feições era dura e austera. Como se tudo aquilo tivesse sido um erro. E realmente foi.
Marchei para fora de seu quarto batendo a porta. Pensei tê-la escutado soluçar, mas isso podia ser minha mente cheia de emoções pregando peças.
Foi um longo processo até que eu conseguisse capturar cada gota daquele mar e trancar de novo. Mas, raiando o dia, enfim eu consegui.
Olhei para o copo quase vazio e não senti nada.
Não havia mais raiva de Bonnie, nem a sensação de rejeição. Tudo havia sumido de novo.
Levantei da poltrona e fui tomar um longo banho quente.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now