29. Brincando com Facas

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Esparramei meu corpo pelos lençóis ainda sonolenta. Minha cabeça enevoada.
Meus braços e pernas pareciam pesar uma tonelada, tamanha era a dor em meus músculos. Como se eu tivesse passado a manhã inteira fazendo exercícios.
Abri os olhos, vendo o sol de meio-dia brilhando através das cortinas. Sentei na cama bruscamente, me dando conta do quanto havia dormido.
Senti a maciez exagerada dos lençóis de seda contra meu corpo. Olhei para baixo, temendo Deus sabe o quê, e lá estava. Ou não estavam.
Minhas roupas.
Eu estava completamente nua sob eles.
Ofeguei, caindo sobre os travesseiros e torcendo para tudo aquilo ter sido apenas um sonho. Um sonho muito, muito ruim. Mas não era.
Coloquei as mãos sobre o rosto, contendo as ondas de raiva e repulsa que me percorreram.
- Meu Deus...- sussurrei, entre meus dedos, tremendo-... o que eu fiz?
E toda aquela manhã sombria repassou novamente em minha mente.
Tudo de que me lembrava era de ter sentido mais prazer do que jamais senti em toda minha vida. Primeiro, pensei fosse um sonho. Um sonho maravilhoso do qual eu não queria acordar. Todo o meu corpo queimando e vibrando de excitação, e então aquela explosão deliciosa. Lembro de ter acordado, ofegando sobre a cama, suada, rígida e de sentir beijos subindo por minha barriga bem de leve.
Não pude acreditar no que estava a acontecendo. Não havia sido um sonho. Era Kai. E ele havia me causado um terrível orgasmo.
Aquilo me fez sentir tão mal que não consegui olhar para ele.
- Hã.... Kai?- lembro de ter perguntado, ainda confusa e totalmente perdida.
- Eu disse que você ia gostar- disse ainda espalhando beijos por meu corpo. O senti afastar minha blusa, sugando meu seio.
Não consegui conter o tremor de prazer, fazendo todo meu corpo arquear em resposta.
- Vai embora...- tentei dizer, completamente fraca e sem convicção. Minhas mãos em seus cabelos castanhos.
- Não sei se é exatamente isso que você quer- ouvi - o dizer, com um sorriso maldoso, mordiscando meu outro seio.
Meu corpo inteiro tremeu e fiz força para conter um gemido.
- Eu...- tentei falar, mas seus lábios provocaram os meus.
- Cala a boca, Bonnie- grunhiu, puxando meu lábio inferior com os dentes - E me deixa te fazer gozar de novo.
Todas as minhas barreiras e defesas acabaram desmoronando. Minha cabeça girava com tudo o que estava acontecendo. Eu não conseguia pensar ou agir direito.
Tudo o que fui capaz de fazer foi sentir. Sua língua provocado a minha e seus lábios em perfeito movimento com os meus.
Não havia como resistir. Não havia porquê resistir. Ele já havia me tomado por completo de todas as formas possíveis. Por que, agora seria diferente?
Minhas mãos - voluntariamente - o puxavam para mais perto, como se já não estivesse perto o suficiente.
- Anda logo...- ouvi as palavras, saindo de mim, mas não parecia ser eu mesma. A necessidade de senti-lo foi muito mais forte.
Eu quis que ele me proporcionasse aquele prazer mais uma vez. Dentro de mim. Nem que isso fosse me assombrar para sempre.
Kai atendeu prontamente parecendo mais ansioso que eu. O senti descer a calça de algodão rapidamente e me penetrar com a mesma agilidade.
Houve dor, como todas as outras vezes. Mas teve um fator à mais que não estava presente quando ele me possuía daquele jeito. Prazer.
Nunca pensei que seria capaz de olhar para Kai sem pensar em vomitar, desmaiar ou chorar. Mas ali estava eu, trasando com o meu maior inimigo.
E eu gostei.
Quis me bater, chorar e gritar, porém, tudo o que fiz foi apertar minhas pernas em volta de seu quadril, gritando por dentro para que ele não se afastasse de mim nunca mais.
Seus lábios se fundiam aos meus em uma urgência arrebatadora. Como se Kai não pudesse respirar sem estar o mais perto de mim possível. Minhas mãos fincadas nos músculos de suas costas.
Kai girou, me deixando por cima dele. Por um segundo cogitei, levantar daquela cama e me trancar no banheiro até ele ir embora. Tentar esquecer ao máximo aquela loucura.
No entanto, eu não o fiz.
Eu prossegui, sentindo-o rasgar a fina blusa de seda que eu vestia, agarrando meu seio enquanto eu investia contra ele, sentindo seus braços cercarem minha cintura com força, arrancando meu ar. Mas eu não parei.
E quando finalmente atingi o orgasmo, junto com Kai, continuei agarrada à ele, ainda trêmula. O arrependimento corria por cada veia de meu corpo.
- Por que faz isso comigo?- sussurrei contra a pele suada de seu ombro, contendo as lágrimas que ainda assim conseguiam escapar.
- Porque você faz isso comigo- respondeu, friamente.
Solucei, com raiva e vergonha do que havia acontecido entre nós.
- Eu odeio você- chorei em sua pele, vendo minhas lágrimas desceram pelos músculos de suas costas na fraca luz do sol, que estava nascendo aos poucos.
- Eu sei- murmurou, sem emoção alguma na voz.
Ainda tentei expulsá - lo de meu quarto em um súbito surto de ódio, mas Kai se limitou a segurar meus braços em minhas costas, enquanto eu chorava sem parar. O senti afrouxar, quando comecei a pegar no sono de novo.
Por mais que eu quisesse me entregar as lágrimas de novo, arrumei forças para ir tomar um banho. Não sei quanto tempo se passou, mas enfim eu levantei do chão do boxe, com a cabeça pesada e extremamente exaurida.
Por mais que eu quisesse me vingar dele, eu não estava preparada para esse tipo de coisa. Kai jogou extremamente pesado. Ele era mais manipulador e cruel do que eu podia imaginar.
Tudo isso porque eu não havia cedido na noite passada. Isso deve tê-lo enfurecido aos extremos, fazendo-o contra-atacar com todas as armas.
Pela primeira vez, desde que ele havia me estuprado, eu me senti realmente usada. Ele simplemente se aproveitou da minha fraqueza.
Isso eu não podia perdoar.
Ao me arrumar diante do espelho, notei que não haviam marcas novas em meu corpo. Talvez ele tivesse tomado o cuidado de não me marcar. Por quê?
Tentei não pensar nisso ou ficaria louca. Kai era um enigma ambulante.
Meu ânimo não estava lá dos melhores, então vesti a primera coisa que encontrei no closet. Uma blusa de cetim escura, jeans e botas marrons de couro.
Suspirei pesadamente, tomando coragem para sair daquele quarto. Meus olhos correram para os lençóis desarrumados da cama, me fazendo lembrar do que havia acontecido.
Subitamente me senti claustrofóbica, como se não pudesse passar nem mais um segundo no lugar que me fazia lembrar do maior erro de toda minha vida.
Por que o deixei fazer aquilo? Me tocar daquela forma, me atingir desse jeito?, me perguntei, caminhando pelo corredor que dava acesso à sala de estar e a cozinha.
Balancei a cabeça, tentando esquecer dos súbitos flashes de memória. Sua mão subindo por minhas costas, a boca dele tocando minha pele, o perfume que emanava de seu corpo...
Respirei fundo, tentando afastar toda aquela loucura. Não havia significado nada. Não passou apenas de sexo. Um erro.
Tentei me convencer, repassando todas as coisas cruéis que ele já havia feito em minha mente. Kai era um monstro que se aproveitou de minha fragilidade.
Não merecia mais do que meu desprezo.
- Sol? - chamei, estranhando o súbito silêncio na cozinha.
Aquela mulher parecia nunca dormir, sempre estava ocupada com alguma nova receita ou faxina. Então, foi estranho não vê-la à todo vapor em suas criações mirabolantes e deliciosas.
- Sol?- chamei de novo, mas não houve resposta.
Com qualquer outra pessoa, sua ausência não passaria apenas de um inconveniente bobo. Mas quando se vivia minha vida toda, a atmosfera mudava.
- Sol?- segui para a sala de jantar.
Quase escorreguei na entrada me segurando no batente à tempo, notando a sala vazia.
Olhei para baixo, pronta para xingar Kai por derrubar suco ou qualquer besteira no chão, quando paralisei.
Havia uma larga mancha de sangue, como se algo tivesse sido arrastado. Eu soube o que era no mesmo instante, pelo cheiro metálico e salgado no ar.
Haviam poças grandes e respingos vermelhos por todo o piso de madeira clara.
Senti uma dor aguda em meus dedos e percebi que apertava o batente da porta, ofegando nervosamente.
Quis acreditar em qualquer coisa. Talvez, até que, Kai estivesse fazendo alguma brincadeira ridícula comigo, já que estava entediado. Mas a ausência de Sol, parecia algo expansivo demais. Como uma imagem se sobressaindo dentre outras.
Ofegando loucamente, corri para o quarto dela, esperando vê-la dormindo. Talvez, Kai tivesse dado uma folga à ela, não é?
Eu quis acreditar nisso.
- Sol?- chamei, batendo na porta nervosamente.
Meus saltos deixavam marcas de sangue no carpete. Ela me mataria, mas isso não me importava naquele momento.
- Sol?- chamei um pouco mais alto. Mas não houve resposta.
Com os dedos trêmulos, girei a maçaneta da enorme porta.
Seu quarto era enorme e claro, com tons de branco e rosa para todos os lados. A colcha de flores estava perfeitamente ajustada ao colchão.
Ela não havia dormido em seu quarto. Ou então havia acordado mais cedo.
- Sol?- tentei mais uma vez, esperando que saísse de algum ponto do lugar. Porém, ela não veio.
Meus olhos começaram a arder loucamente.
- Não...- solucei, colocando a mão sobre a boca- Não... por favor, não.
E se Kai tivesse descoberto tudo? E se ele soubesse sobre Renly? Que havíamos nos beijado? Que ele entrou em sua casa?
Que Sol viu e não fez nada...
- Não...!- solucei, caminhando torpemente pelo corredor em busca da porta do quarto dele.
- Kai...- arfei, dando um batida lenta e quase dolorosa- Kai!
Não obtive resposta.
E senti fogo se inflamar em minhas veias.
- KAI!- exclamei, batendo na madeira com mais vigor- KAI!!!
Ele sabia.
E matou Sol para me punir.
Ele sabia que isso me machucaria e não poupou a vida da única pessoa que me amou sem pedir nada em troca.
- MALACHAI!!!- chutei a porta, quando percebi que estava trancada- ABRE ESSA PORTA!
Minha voz estava irreconhecível, mesclada em dor, ódio e sofrimento.
Soluços explodiam por minha garganta. Dolorosos e quentes como as lágrimas que rolavam por meu rosto.
- KAI!!!- gritei o mais alto que pude, sentindo meus joelhos ficarem fracos.
Um desmaio se precipitava, no entanto, forcei-me a continuar de pé. Não fraquejaria agora.
- KAI!!!!
- Eu consigo ouvir você berrando do outro lado da casa - comentou- E nem preciso de super audição pra isso.
Olhei por cima do ombro em um sobressalto.
Kai estava do outro lado do corredor, me encarando como se eu fosse louca. Ele ainda estava usando a calça de moletom, porém vestia uma camisa azul clara com alguns respingos de sangue.
Meus olhos desceram inevitavelmente, para suas mãos. Estavam encharcadas de sangue fresco, pingando no carpete claro.
Uma onda de enjôo me percorreu inteira.
- Você...- tentei dizer, completamente chocada e trêmula.
Kai me encarou de volta, confuso.
Não registrei mais nada.
Toda minha visão tingiu - se de vermelho carmesim. Apenas tive tempo de ver meu próprio corpo, cruzando o corredor e desferindo uma bofetada no rosto dele.
- Como você pode?!- gritei, o empurrando com toda minha força.
E por incrível que pareça, Kai cambaleou, dando alguns passos para trás.
Lágrimas de ódio desciam por meu rosto, juntamente com os soluços descontrolados.
- Monstro!- gritei, dando outro empurrão em seu peito, praticamente o lançando na parede no fim do corredor. Uma rachadura surgiu no vidro do quadro à suas costas- Ela era importante pra mim! Por que você fez isso?! Seu animal mesquinho!
Avancei para ele, desferindo o soco mais forte que consegui em seu maxilar. Meu pulso estalou, mas ignorei o fogo subindo por meu braço.
- Eu juro que vou matar você, Kai!- gritei de novo- Juro por todas as minhas ancestrais!
A expressão de confusão sumiu de seu rosto no momento em que o esmurrei. Veias negras cobriram seus olhos azuis e as presas ficaram à mostra.
Em um movimento subitamente rápido, suas mãos em garra apertaram meus ombros dolorosamente.
Kai girou me lançando contra o quadro rachado. Cacos de vidro choveram sobre meus ombros.
Tentei me soltar, mas suas mãos comprimiam os músculos de meus braços, impedindo- me de reagir. Seu corpo prensava cada curva do meu.
- Bonnie- disse com uma frieza assustadora, seus olhos negros nos meus- O que você tá fazendo?
Percebi que o hematoma em seu queixo começou a desaparecer.
- Cala a boca!- gritei, lágrimas correndo por meu rosto- Eu sei o que você fez, seu bastardo! Você a matou!
- Quem?-seus dedos se fincaram um pouco mais em meus ombros.
- Soledad! -cuspi, o mirando com mais ódio do que todas as vezes.
A expressão de Kai ficou subitamente vazia. Depois tornou-se confusa.
Vi seus olhos, voltando ao cinza, olharem para suas próprias mãos vermelhas em meus ombros.
E subitamente ele começou a rir.
O encarei, completamente horrorizada.
- Você acha que eu...- disse, ainda rindo- ...matei a Sol?
- Monstro! Você ainda ri disso?- eu estava em frangalhos, pronta para cair no primeiro canto e chorar até desaparecer em lágrimas.
- Você- suspirou, parando de rir- Me acha uma pessoa bem horrível, não?
Não respondi, ainda revoltada e chorosa.
Suas mãos soltaram meus braços e eu pulei em cima dele de novo.
Kai se limitou a colocar os braços em volta de mim, atando minhas mãos às costas. Meu pulso ardeu, mas não demonstrei dor.
- Você me surpreende cada vez mais, Bonnie Bennett- disse, intenso.
E me beijou.
Mordi seu lábio com toda minha força. Kai afastou o rosto do meu, com sangue escorrendo do ferimento, mas com um sorriso vitorioso.
- Seja mais carinhosa, anjo- provocou e ficou sério- Eu não matei a Sol.
- Não acredito em você- rosnei.
- Confie em mim ao menos uma vez, bruxinha- seus olhos suavizaram- Eu vou soltar você. Não me bata de novo. Seu gancho de direita é ótimo, a propósito.
Suas mãos soltaram as minhas. Pressionei meu punho ferido contra o jeans.
Meus olhos ainda o queimavam vivo, mas não avancei de novo. Eu apenas me machucaria mais.
- O que fez com ela?- minha voz era mortal.
Kai simplesmente me deu as costas, obrigando - me a segui-lo. Corri para acompanhar suas passadas longas, questionando-o, porém, Kai não me contava nada.
Fomos para a parte norte do apartamento, onde as janelas tomavam toda uma parede, dando uma visão espetacular do céu azul - cinzento.
Kai continuou andando calmamente, enquanto eu corria atrás dele.
- Por que não me fala de uma vez o que está acontecendo, Malachai?- esbravejei.
- Dá pra parar de me chamar assim?- resmungou, sem dar a mínima para mim. Quase pude ouvir seus olhos revirando- Não sei o que deu na cabeça dos meus pais para me dar esse nome.
- Eles deviam te odiar- soltei.
- Não tanto quanto eu odeio eles- ressaltou.
- Kai, o que está acontecendo nessa merda de apartamento?- perguntei, ainda o seguindo- Por que não me fala de uma vez?
Subitamente ele parou.
Depois de toda sua altura havia uma porta branca e simples no fim do corredor.
Kai segurou a maçaneta, mas voltou-se para mim por um segundo. Seus olhos sérios.
- Acho melhor você não entrar- disse com um ar de zombaria- Seu estômago não reage bem à emoções fortes.
Ele claramente estava se referindo à aquele passeio de carro infernal.
- Me estômago está ótimo. Abra essa porta antes que eu lhe dê outro soco.
Ele fingiu estremecer, mas o fez.
A porta abriu- se com um rangido alto.
O lugar não era muito grande, mas não dava para distinguir muita coisa com toda aquela pouca claridade.
Pude ver um grande volume pendurado sob correntes no teto. Senti a boca seca.
Era o quarto onde Kai me estuprou pela primeira vez.
Um tremor intenso correu por meu braço, em espasmos. Evitei olhar para o fundo do quarto, sabendo lá estaria meu sangue, contra o concreto rústico da parede.
Rapidamente, as persianas foram abertas e uma luz clara invadiu o ambiente, cortando minha linha de raciocínio.
Obriguei minha mente à ficar calma.
O que eu vi, me deixou boquiaberta.
Havia uma homem alto e careca, largo como um armário preso à correntes. E toda a coleção de facas da cozinha estava cravada em partes estratégicas de seu corpo.
Senti aquele mesmo cheiro de ferro no ar. Engoli em seco, ao constatar que o cheiro vinha de um coto ensanguentado na altura de seu punho. Sua mão direita fora decepada.
Havia muito, muito sangue em suas roupas e espalhado pelo chão. Seu rosto estava desfigurado pelos inchaços e hematomas escuros.
Meu estômago se revirou. Mas não foi um enjôo. Eu estava com fome, considerando que eu não havia tomado café da manhã.
- O... O que é isso?- questionei, subitamente nervosa- Quem é esse homem, Kai?
Ele saiu de perto das janelas pequenas.
- Bonnie esse é o homem mau- disse como se estivesse nos apresentando- Homem mau essa é Bonnie.
O homem não respondeu, parecendo estar inconsciente.
- Não seja mal educado!- Kai rosnou, apertando o cabo de uma faca fincada em sua coxa. Mais sangue escorreu pelo jeans escuro.
O homem subitamente reagiu, como que acordando de um transe e grunhindo. Seu peito subia e descia, numa respiração desesperada.
- O que você está fazendo com ele?!- afastei sua mão, vendo o homem resfolegar em alívio.
Kai me afastou dele com raiva.
- Onde está Sol? -rosnei, me preparando para toda a dor.
- Está ali- Kai assentiu com a cabeça para um canto escuro.
Meus olhos seguiram os dele e meu coração se acelerou.
Havia um banco longo de madeira encostado na parede. Um volume pequeno estava encoberto por uma manta.
- Sol- corri para ela, chorando, meus olhos voltaram para Kai- Ela está...?
- Não- respondeu, prontamente, sério- Eu consegui pará-lo- apontou o homem- antes que o fizesse. Dei meu sangue à ela.
Acariciei o rosto de Sol, vendo-a abrir os olhos, parecendo sonolenta.
- Oi- sussurrei, com a voz embargada de emoção- Como você está, Sol?
Ela parecia cansada, porém não estava ferida. Não mais.
- Muy bien- sorriu, sentando no banco.
Sorri para ela e subitamente me toquei.
- Kai! Você a trouxe para cá? Para ver isso?!- gesticulei o homem esfaqueado.
Ele revirou os olhos, como se já esperasse por isso.
- Ela não quis sair- ele parecia estar mortalmente irritado.
Encarei a governanta.
- Sol?- eu parecia surpresa.
- No puede matá-lo- disse em minha língua, encarando Kai- Este homem é una criatura del Señor Dios.
Kai jogou a cabeça para trás, fazendo um som de enfado.
- Ele ia furar você feito um queijo suíço mexicano, Sol- resmungou.
- Soy de Puerto Rico - disse, empinando o queixo.
- Um queijo suíço de Porto Rico, então- deu de ombros- Mas isso não importa. Ele tentou matar a minha cozinheira e isso não dá pra perdoar.
E cutucou uma faca que estava fincada no abdômen dele. O homem gritou.
Engoli em seco.
- Por que arrancou a mão dele?- questionei subitamente.
- Não sei- devaneou- Eu entrei em pânico.
- Em pânico?- ergui uma sobrancelha.
Kai cruzou os braços, me encarando de mau humor.
- Mas eu guardei naquela caixa térmica- disse, apontando o objeto em uma parede- Se ele for bonzinho, posso devolver a mão dele. Bom, se a mocinha aqui começar a falar.
Apesar da dor, ele não parecia dar indícios de quem ia abrir a boca.
Kai era um lunático, com toda a certeza. Mas eu não ia deixá-lo matar aquele homem com tanta crueldade, mesmo que ele tenha ferido Sol de algum jeito.
- Sol- murmurei, apertando suas mãos pequenas e enrugadas nas minhas- Você não pode ficar aqui, tudo bem?
- Tá brincando?- Kai riu, tirando uma outra faca não sei de onde e cravando no ombro do homem distraidamente, fazendo-o gritar mais- O filho mais novo da Sol era traficante de drogas. Você acha que ela se impressionaria com uma tortura de nada?
Arregalei os olhos, vendo-a assentir com pesar. Ela amava muito ao filho, isso dava para notar.
- Por que acha que a escolhi?- Kai disse, tocando a ponta de uma outra faca, vendo se era afiada o suficiente- Soledad é uma mulher durona.
Fiquei de pé, me recompondo.
- Mas ainda assim você não deveria ficar aqui, Sol- fui firme, vendo - a se levantar.
Tentei ajudá-la, mas Soledad parecia bem. Kai tinha razão. Ela era durona.
Antes de passar pelo batente da porta, ela pousou seus sérios olhos escuros nos meus.
- Cuide dele- pediu e saiu do quarto.
Olhei por cima do ombro, vendo Kai extremamente entretido. Sol estava falando do prisioneiro? Ou de Kai?
Isso não importava agora, pois aquele louco estava segurando uma outra faca. A maior de todas.
Kai ergueu - a no ar, vasculhando alguma parte do homem que não estivesse completamente espetada.
Segurei seu punho antes que a faca descesse.
Kai não gostou.
- Pára de me atrapalhar, Bonnie- havia um brilho cruel em seus olhos.
Eu podia atentar para o seu lado sentimental, mas isso surtiria tanto efeito como o soco que dei nele.
- Eu não sei em que droga você se meteu- murmurei, ácida- Mas isso está afetando à mim e Sol. Esse homem, parece ser a sua única opção para descobrir o que está acontecendo. Então, não seja burro, Kai. Ele serve melhor vivo do que furado feito uma peneira.
Ele sorriu de canto.
- Você fica tão sexy me dando ordens.
- Vai pro inferno- murmurei, com ódio- Agora faça algo útil e pare de brincar.
- Não posso nem me divertir...- resmungou, baixando a faca.
Encarei o homem e ele, alternadamente. Aquilo era sua idéia de diversão?
Kai soltou a faca no chão, avançando para ele.
- Espera- prostrei-me entre os dois- O que você vai fazer?
Kai me colocou de lado, segurando o rosto pendente do homem.
- Se eu não posso causar dor física, que seja psicológica, mesmo.
- Você vai entrar na mente dele?
- Se tiver uma sugestão melhor...- murmurou fechando os olhos e suspirando.
Kai continuou parado lá, de olhos fechados em uma concentração quase hipnótica. O homem, vez ou outra soltava uns ganidos de dor, resistindo.
Vi as mãos de Kai apertarem mais suas têmporas, fazendo-o uivar de dor.
Não sei quanto tempo se passou, mas foi muito. Pensei que Kai tinha adormecido em pé, quando o vi girar o pescoço do homem e o quebrar sem dificuldade nenhuma.
Fiquei horrorizada.
- Já sei onde temos que ir- disse, passando por mim, deixando o corpo do homem pendurado como um porco abatido- E você vai precisar de um vestido bonito.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Olá lindos!

Já viram que fui boazinha e não matei a Sol, porque eu sou legal à beça. Bom, eu tento kkk.
E claro que nosso Kaizinho não podia deixar o assassino careca sair assim, impune. Não. Ele tentou machucar nossa linda Soledad. Não dá pra aceitar isso numa boa :3
E o que acharam desse capítulo? Amaram? Odiaram? Suas opiniões são importantes :)

Beijos xxx. Até o próximo o/










LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now