75. Fuga

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A onda de choque foi tão grande que eu, com minha audição apurada de vampiro, tive os tímpanos estourados. E sangue escorreu por meu nariz.

E ainda assim, eu não prestei atenção a isso, completamente focado em proteger aquelas quatro mulheres dentro do quarto.

As meninas se abraçaram sobre a cama, tremendo e com ferimentos similares aos meus. Sua mãe também não parecia diferente, embora, tenha as alcançado quase que no mesmo segundo.

— Meninas — murmurei, confuso pela falta de equilíbrio por causa do tímpano comprometido — Sol…  — busquei a governanta na outra ponta do quarto. Esta que ainda estava sentada sobre a poltrona, tão confusa com o estrondo quanto eu.

Cambaleei pelos chão coberto de cacos de vidro das janelas quebradas e cai ajoelhado diante da governanta, segurando no braço da poltrona. Chamei por ela, mas Sol não dava sinais de que estava me ouvindo e percebi os filetes de sangue escorrendo de seus ouvidos. E sinceramente, muito menos eu estava me escutando.

Mordi meu pulso de maneira que meu sangue corresse livremente e toquei seu rosto, fazendo com que ela colocasse aqueles olhos sérios — agora assustados — e escuros sobre mim. Empurrei o pulso gentilmente em sua boca, sinalizando que ela precisava beber para se curar daquele ferimento.

Sem titubear Soledad o fez de imediato e aos poucos até mesmo minha audição voltou e o irritante som de "piiiii" foi embora.

Bastou apenas alguns segundos para que a mulher voltasse ao normal.

— Sol, consegue me ouvir? — falei para pouco alto demais.

— Sí, sí — ela sacudiu a mão no ar irritada — Gracias — disse acariciando minha bochecha.

Fiquei aliviado que ela estivesse bem e com isto me voltei para Bonnie e as gêmeas. A vampira estava terminando de alimentar Amy com seu próprio sangue e Eve já havia se curado do impacto.

— Mas o que foi isso? — questionei, ficando de pé e checando se alguma delas estava ferida, mas aparentemente estava tudo bem.

Bonnie acariciou os cabelos de Amy e olhou seriamente para mim.

— Isso foi o som da barreira sendo rompida à força.

— O quê? — falei, incrédulo — Essa explosão dos infernos?

— Está mais para uma onda de choque — corrigiu, ficando de pé — E sim, foi ela. Eu usei muita magia para erguê-la da última vez, então, provavelmente usaram uma força proporcional.

Inspirei fundo, irritado.

— Eu avisei você de que isso podia acontecer…

— Não estou a fim de ouvir seu sermão agora, Kai — disse, ficando de pé de imediato e caminhou até o closet, abrindo uma das portas e calçou um par de botas de couro marrom, vestiu uma jaqueta e colocou uma mochila preta sobre os ombros. Depois voltou e vestiu Eve e Amy com casacos para a noite fria.

Fez tudo isso em poucos segundos, enquanto eu ainda tentava achar uma resposta adequada para toda aquela confusão.

— Espera, você sabia que isso iria acontecer? — perguntei, apontando para a mochila que, se fosse conforme os cuidados de Bonnie Bennett, poderia ter um kit de sobrevivência para o fim do mundo ali dentro.

— Depois que conversamos, pensei que seria uma boa ideia estar preparada para ter que fugir no meio da noite — e ergueu os olhos verdes para mim — A última vez não foi nada animadora e pouco produtiva.

Lembrei-me da noite em que ela teve que fugir com Eve para a mansão Salvatore. E quando me dei conta do que havia acontecido já era tarde demais. Por sorte, Bonnie era uma exímia sobrevivente. Bem, ela tinha sobrevivido a mim, então, qualquer coisa seria fichinha para ela.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now