21. Meu Novo Ursinho de Pelúcia

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Para AlyniBalieiro, Nascida da Tormenta, Primeira de Seu Nome e Futura Rainha de Westeros.

Depois que Kai saiu daquela cela, eu apaguei completamente.
Tive pequenos vislumbres rápidos em alguns momentos.
Eu estava acorrentada junto à parede, minhas mãos estavam dormentes. Havia muita dor.
Dor em meu ventre.
Cada respiração era uma sentença de morte para mim.
A luz no lugar se modificava aos poucos. Mudava do claro para o escuro em questão de segundos. Acho que era noite, mas eu apaguei de novo.
Por mais duas vezes isso aconteceu.
Três dias, pensei de súbito, ao acordar. Como se houvesse um calendário grudado em minha mente.
Mas, nada disso tinha importância. Meus pulsos dormentes, as dores, o frio, o medo. Nada.
Apenas um único pensamento. Repetitivo e doloroso, e por mais que eu o dissesse seguidamente, esperando de alguma forma fazer cada uma daquelas palavras perder o sentido, elas simplesmente estavam lá. Como uma tatuagem obscena e cruel diante dos meus olhos, em volta de mim.
Kai me estuprou.
Três palavras que evocavam todos aqueles momentos de novo. Três palavras que me faziam querer chorar, matá-lo e gritar ao mesmo tempo. Três palavras que eu nunca esqueceria.
E felizmente, desmaiei.
Mais flashes desconexos estavam diante de meus olhos. A noção de tempo estava dando tchauzinho para mim.
Alguém soltou minhas correntes e me pegou no colo. Apaguei de novo. Mãos percorriam meu corpo dentro da banheira de louça branca de meu banheiro. Acho que estava me dando banho. A água estava rosada de sangue, mas minhas costas não doíam mais.
Seu rosto era um mistério para mim, tão embaçado e desconexo como os outros dias. Apaguei mais uma vez.
Eu estava sobre uma cama. A lingerie foi posta em mim, calmamente, junto com um vestido simples. Mãos grandes o abotoavam. E surpresa? Apaguei.

◆◆◆◆◆

Eu nunca tinha parado para perceber o quão uma parede podia ser interessante. Sério.
As cores e texturas...
Tentei imaginar a pessoa que havia perdido tempo decorando aquela merda de quarto. Eu odiava cada centímetro daquele concreto.
Não porque eu não gostasse da cor magenta e branco nas paredes. E muito menos dos móveis brancos e com entalhes feitos à mão. E claro, que a janela enorme com toda aquela luz, também não era ruim.
Eu odiava toda aquela merda, porque cada recanto daquilo pertencia à Kai. Inclusive eu.
Esse pensamento fez uma onda de repulsa crescer em meu interior. Repulsa dele e principalmente de mim.
Eu estava imunda e por mais que esfregasse minha pele, o cheiro amadeirado e quente ainda estava lá. Aquele perfume perturbador que não me deixava esquecer dos três dias anteriores.
Algo quente e molhado escorreu por meu rosto. Mais uma vez.
Apertei o ursinho de pelúcia com mais força contra meu peito.
Quando acordei ele estava lá ao meu lado na cama. Seu pêlo era branco como o de um urso polar e havia um laço enorme e verde jade em volta de seu pescoço. Havia um bilhete ao seu lado, mas não me dignei à ler.
Aquilo com certeza era uma imitação barata de meu primeiro ursinho de pelúcia.
Kai era mais baixo do que eu podia imaginar.
Porém, estranhamente, aquele foi meu único conforto. A única coisa que me ancorou ao pouco de sanidade que restava em mim.
Era a única coisa que conseguia me acalmar quando criança. Abraçar meu ursinho de uma forma sufocante, até os medos irem embora. Mas, eles não iriam. Estavam vivos e respiravam.
E me seguiriam para onde quer que eu fosse.
E as três palavras ecoavam como gritos em minha mente: Kai me estuprou. Kai me estuprou. Kai me estuprou. Kai me est...
Meus pensamentos foram interrompidos com o ranger da porta sendo aberta. Provavelmente, era Soledad, esperando com aquele olhar austero e carinhoso que eu me alimentasse. Mas, eu não queria comer.
Senti a compulsão dar sinais de vida. Eu teria que me alimentar.
O colchão se afundou às minhas costas, houve um suspiro baixo e senti sua mão pousar em minha cintura.
Ela era grande, forte e firme, apertando levemente a curva de meu vestido. Kai.
Estremeci de raiva, mas não me movi.
Ele já havia me destruído, não restava mais nada para quebrar. A rachadura estava completamente partida dentro de mim.
- Como está se sentindo?- questionou, mas não parecia realmente preocupado. Foi mais como se meu estado fosse uma inconveniência momentânea.
Não respondi.
Meus cabelos foram afastados do rosto, fazendo uma brisa fria se assentar em meu rosto molhado e no travesseiro úmido.
- Sei que você me odeia agora- começou- Mas logo a farei compreender a situação. Verá as coisas à minha maneira.
Apertei o ursinho com mais força.
- Vejo que gostou do Sr. Snow- murmurou com satisfação- Quando o vi naquela vitrine, achei que seria perfeito para você.
Continuei fitando o nada.
Um temporal se precipitou de lado de fora. Gotículas cinza escorreram pelo vidro da janela.
Um trovão rasgou o silêncio.
- Vai me tratar assim pra sempre?- perguntou. Ele parecia frustrado com minha frieza- Bonnie?
Tentou virar meu rosto na sua direção, mas continuei firme. Eu não queria desabar mais uma vez.
Kai me soltou.
- Você acha que se for pra outro lugar vai esquecer tudo o que aconteceu? Acha mesmo que insanidade é a melhor opção?- sua voz era como uma faca afiada- Eu tentei isso quando estive preso, Bonnie. Por um tempo foi bom. Não senti nada, raiva, medo, solidão... Elas simplesmente deixaram de existir. Mas logo, eu me senti vazio. Não sentir nada, também a transforma em nada. Não se esqueça disso.
Continuei fitando a janela.
- Que droga! Você vai agir como uma estátua sempre que eu falar com você?!- explodiu, fazendo um vaso estourar em vários pedaços contra a parede.
Não me movi.
Kai me agarrou dolorosamente pelos ombros, ergueu meu corpo do colchão. Seus olhos encaravam os meus com raiva e frieza. Era uma frieza incomum nele, mais ártica.
- Fala alguma coisa!
Mas eu não disse nada, mesmo que suas mãos estivessem esmagando a carne de meus ombros. Mesmo que eu quisesse cuspir em seu rosto e bater nele. Eu não disse nada.
Não tinha forças para dizer qualquer coisa. Eu queria desaparecer. Morrer em minha própria apatia.
Se eu não podia acabar com minha vida de uma só vez, poderia ser aos poucos. Deixando alguns pedaços perecendo com o tempo.
- Diz alguma coisa, Bonnie, ou eu juro por Deus que vou...- ameaçou.
Continuei o fitando, sem entender porque ele estava fazendo isso. Não bastava que tivesse me destruído? Ainda queria que eu agisse normalmente? Como eu poderia ser eu mesma de novo, depois do que aconteceu?
Kai me estuprou.
Ele tremia de raiva.
- Se você não for voltar ao normal, darei motivos para que o faça- rosnou, arrancando a única segurança que eu tinha de meus braços. Sr.Snow.
Soltei um ganido de dor.
- Isso- aprovou- Uma reação.
Com a rapidez dos vampiros, Kai já estava sobre mim.
Não tentei afastá-lo, não tive forças. Deixei um lamento de dor escapar pela perda do ursinho.
Os botões do vestido estouraram com o puxão súbito de Kai. Um decote que deixava o espaço entre meus seios nus e o umbigo, ficou amostra.
Cruzei os braços sobre o peito, com frio.
Kai foi mais bruto, arrancando meu suéter grande e quentinho.
Ainda sobre mim, ele segurou meu maxilar com força, me encarando de perto. Pude sentir seu coração contra meu peito.
- Bonnie- chamou, me sacudindo- Bonnie, acorda! Olha pra mim.
À medida que ele falava, sua voz entrava cada vez mais fundo em minha mente, como se eu estivesse acordando de um sono muito pesado. Aos poucos, tudo foi entrando em seus devidos eixos.
Kai pareceu satisfeito.
- Me bate- pediu.
- O quê...? -sussurrei, ainda confusa.
- Eu disse para me bater, entendeu?
Olhei-o de cima abaixo, notando que ele ainda estava deitado sobre mim. Ele vestia uma camisa azul - escura como a noite e jeans mais escuros. Seus cabelos castanhos estavam úmidos de um banho recente.
- E-Eu entendo... mas eu... não...não entendo- sussurrei, ainda confusa e em completo choque- O que você disse?
Ele suspirou pacientemente.
- Eu disse para me bater, Bonnie.
- P-Por quê?- eu soava como uma verdadeira louca.
- Porque eu mandei- reforçou- Anda. Com toda sua força.
Senti tremores violentos se alojarem em minhas mãos.
Continuei o encarando inquisitivamente.
Eu estava ficando muito louca ou Kai mandou que batesse nele?
Senti seus lábios roçarem nos meus de maneira lenta.
- Você quer, não quer?- sussurrou contra minha boca- Eu sei que quer. Anda. Pode me bater.
Senti suas mãos delineando minha cintura e seus quadris se movendo devagar contra os meus.
Isso provocou uma fúria incontrolável dentro de mim, e quando me vi já tinha acertado o primero tapa em seu rosto. Forte e doloroso.
Minha mão ardeu.
A marca vermelha da bofetada ficou no rosto dele. Mas, isso não parecia incomodá-lo.
Fiquei mortalmente ultrajada com isso e dei mais um tapa, e outro e mais um e mais outro. E porque não alguns socos?
Quando percebi, eu gritava como um animal alucinado, arfando, arranhando, dando socos e tapas. E acima de tudo, chorando.
- Eu te odeio! Vou matar você! Seu monstro!- gritava.
Subitamente, suas mãos agarraram meus pulsos como grilhões, os prendendo contra os travesseiros.
O estado dele não era muito bom. Seus cabelos estavam desgrenhados, a pele do rosto e pescoço avermelhada e cheia de arranhões.
Algo dentro de mim, conseguiu sorrir. Mas aos poucos, minha pequena felicidade foi morrendo.
Os machucados e contusões começaram a se fechar e curar sozinhos. Kai voltou a ser tão perfeito quanto antes.
Senti o volume na frente de sua calça, pressionando minha pélvis. Minhas agressões não o estavam machucando e sim excitando.
- Você. É. Doente - arfei, ainda me recuperando do exercício.
Ele apenas sorriu e me beijou, forçando sua entrada. Seus lábios pareciam sedentos, querendo devorar todo o meu ar.
Uma de suas mãos assumiu o encargo de continuar me prendendo, enquanto a outra descia pelo decote, entrando pelo tecido e acariciando meus seios.
Sua ereção ficou maior.
Ela continuou descendo, até encontrar a barra do vestido.
- Não! Não! Não!- berrei, debatendo-me o tanto quanto podia- Não! Não!
Kai resumiu minha calcinha em pedaços de pano inúteis. Deslizei mais para baixo, quando ele puxou minha perna, para que ele pudesse entrar adequadamente.
- Não, Kai- implorei- Está doendo... Não faça isso, por favor.
Mas ele não me escutou.
Sua penetração foi mais traumática do que na primeira vez. Parecia que eu estava sendo partida em dois.
Jeremy sempre foi carinhoso comigo. Eu nunca estive com outro homem; Kai era bruto e maior.
O vampiro afundou o rosto em meu pescoço, dando estocadas que mais pareciam a ponta de uma faca cortando. Tentei gritar, mas o ar não saía.
Fiquei horrorizada que aquilo estivesse acontecendo de novo, sem que pudesse fazer nada. Me senti tão inútil. E suja.
- Bonnie...- ouvi - o gemer em meu ouvido, completamente ensandecido de prazer.
Seus lábios procuravam os meus sem carinho, estendendo-se até meu pescoço. Sua mão livre escorria por todo o meu corpo, rasgando mais a frente do vestido para tocar meus seios.
Na primera vez, não levou muito tempo para acabar. Talvez, porque ele estivesse tão ansioso que não pôde se conter, mas agora ele parecia bem mais concentrado. Pareciam que horas se passavam ao meu redor, mas Kai não parava.
Eu estava quase desmaiando de dor, quando o herege aumentou mais seu ritmo, me fazendo ganir, até que alcançou seu orgasmo.
Senti seu sêmen quente dentro de mim. E Kai finalmente parou.
Soluços irromperam de meu peito, quando acabou. O empurrei de cima de mim com toda minha força. Ele caiu ao meu lado, com um sorriso de genuína satisfação.
Suor escorria por sua pele, indicando todo o esforço.
- Isso foi...- sussurrou para ninguém em particular, ainda de olhos fechados, respirando de maneira irregular-...incrível.
Tentei sair de perto dele, com tanto nojo que senti náuseas. Fiquei de pé sem muita firmeza, mas uma pontada de dor em meu ventre fez - me cair no carpete do quarto.
Eu não conseguia respirar e nem parar de chorar. Arrastei - me pelo chão, querendo ficar o mais longe possível daquele horror.
- Bonnie, volta pra cama- chamou.
Eu não conseguia parar de olhar para o sangue na parte interna de minha coxa. Minha respiração aumentou, consideravelmente e o choro também, até que soltei um grito de dor e raiva.
Eu gritava de ódio por Kai ter feito aquilo comigo, mais uma vez. Foi a coisa mais dolorosa que já senti. O uivo de um animal ferido e maltratado.
Minha garganta começou a doer, e enfim, eu parei, chorando convulsivamente no chão.
Ouvi seu movimentar pelo quarto, fechando o zíper da calça, ajeitando os botões da camisa e alisando os cabelos desgrenhados com os dedos.
Kai se agachou ao meu lado no chão.
- Eu machuquei você- disse, acariciando minha perna- Prometo ser mais carinhoso da próxima vez.
Aquilo me fez chorar mais.
Ele caminhou até a porta, a abrindo.
- Vou mandar Sol vir ajudá-la a se limpar e vestir- murmurou com um sorriso animado- Afinal, vamos jantar juntos.
E saiu fechando a porta, sem trancá-la.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Oi meus queridos,

Mais um capítulo de brutalidades. Acho que já podemos matar o Kai, não?
Eu sei que tem muita crueldade na maneira como Kai e Bonnie interagem, mas é só uma forma de retratar a história.
Acho que não consigo não passar toda a complexidade do que eu penso na minha escrita. E por isso fica realmente forte. Mesmo que sejam coisas perturbadoras e apesar de eu ser meio louca e um tiquinho maldosa (que nada...kkk), obrigada por estarem comigo sempre.
E o que acharam desse capítulo? Amaram? Odiaram? Vamos comentar!

Beijos xxx. Até mais! o/

P.S: O nome do novo ursinho da Bonnie foi em homenagem ao meu divo de Game of Thrones. Jon Snow, amadíssimo guardião da Muralha do Norte.

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