27. A Visita

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Para @LariMayne, por ser tão divertida ♥

Bati sucessivamente na porta do quarto de Soledad, mas ela se recusou a abrir gritando palavras como:
- Yo no quiero hablar ahora!- sua voz era chorosa- Ir de aquí!
- Sol...- supliquei-... eu não entendo o que você diz.
Ouvi alguém assoando o nariz.
- No quiero conversar- reformulou, com o sotaque espanhol intenso- Sai daqui!
Meus ombros ficaram um tanto curvados de tristeza.
- Tudo bem...- sussurrei, saindo da porta do quarto de hóspedes.
Caminhei para o meu próprio, e me joguei de cara no colchão, completamente frustrada comigo mesma. Eu tinha decepcionado Sol.
Mas ao menos eu a veria na hora do almoço. Ela não resistia à me fazer comer todas as coisas que ela preparava, como uma mãe exageradamente protetora.
Pensar nisso, me fez lembrar do que aconteceu na cozinha. Sobre Kai.
Me virei na cama, ficando de barriga para cima. Mordi meu lábio, ainda sentindo os resquícios de sangue. Passei a língua de leve, voltando a ter aquela sensação de sofreguidão e ao mesmo tempo, leveza. Porém, tudo muito mais reduzido.
Antes foi como uma explosão dentro de mim, como se todo meu corpo estivesse funcionando em função daquilo. O sangue de Kai.
Eu já tinha bebido sangue de vampiro antes- não que eu gostasse- mas nunca senti nada como aquilo. Se já tivesse usado alguma droga ilícita, poderia comparar aquilo à cocaína, heroína ou ecstase. Como um torpor e uma intensa ansiedade.
Tive o impulso de me levantar e correr para Kai e implorar por mais daquela sensação, mas ele não me daria o que eu tanto queria sem algo em troca.
Pensar no que me aguardava mais tarde fez minha cabeça latejar. Jogar contra ele estava sendo mais difícil do que eu imaginava. Mesmo que me desejasse, Kai tinha vontade própria. Ele me manipulava, tanto quanto eu à ele.
Era uma guerra insensata, mas alguém tinha que sair vencedor. E eu seria essa pessoa.
A porta do quarto sendo aberta, me fez voltar para o mundo real.
Kai estava parado na entrada, com roupas diferentes. Jeans escuros, camisa preta, jaqueta preta e coturnos escuros.
Alguém estava indo à convenções de vampiros demais. Porém, não pude negar que ele estava... bonito. O negro destacava sua alma negra. Se é que ele tinha uma.
Seus olhos azuis desceram por meu corpo estendido sobre a cama com malícia.
- Agora já é mais tarde?- riu.
Me sentei na cama.
- Mais tarde, ainda é mais tarde- bufei- O que você quer?
Com sua super velocidade, Kai já estava diante de mim. Ele ficou de joelhos, encostando a cabeça em meu peito, deslizando o rosto por meu decote.
Suas mãos, agarraram minhas pernas, puxando-me para a beirada da cama, fazendo com elas ficassem em volta de sua cintura.
A mão dele subiu até meus lábios.
- Você é tão linda- sussurrou, olhando para mim daquele modo intenso.
E a deixou cair sobre minha coxa, subindo meu vestido de leve.
- Linda e tão perigosa quanto eu- disse com um certo ódio em sua voz- Eu sei o que está fazendo.
Continuei o encarando, com o maxilar trincado.
- Não que eu faça objeções quanto à ser tão... receptiva- seus dedos faziam desenhos imaginários em minhas pernas- Mas...- ele beijou entre meu decote-... não tente me fazer de idiota.
Kai desceu mais beijos por meu abdômen, até alcançar minhas pernas. Ele ergueu uma delas e começou a brincar, deslizando a ponta do nariz em minha pele, plantando beijos aqui e ali.
Continuei sentada sobre a cama e rígida. Desconfiada de qualquer coisa que aquele maluco pudesse fazer. E minhas suspeitas não eram infundadas.
Senti uma mordida dolorosa e potente na parte interna de minha coxa esquerda. Dei um gritinho de dor, sentindo mais uma.
Kai voltou a deixar nossos rostos na mesma altura. Seus olhos avaliaram com um prazer maldoso, minha expressão de ódio.
- Isso é por ter me mordido mais cedo- murmurou sorrindo abertamente.
Continuei pressionando os hematomas arroxeados que surgiram em minha pele, com um ódio crescente dele.
Kai se levantou agilmente e partiu para porta em sua velocidade sobrenatural, mas não antes de parar na entrada de meu quarto.
- Ah, quase me esqueci de avisar- falou- Eu vou sair.
- Que ótimo pra você- resmunguei, me ajeitando sobre a cama com minha perna latejando.
- Deve ser pra você também- disse com ironia- O que estou querendo dizer é que: não ouse sair desse apartamento de novo. Se não, Sol vai sofrer as consequências. Entendeu?
Todo o calor fugiu de meu rosto.
- Você não pode fazer isso!- exclamei, furiosa e assustada.
- Olha que engraçado...- murmurou com sarcasmo-... eu posso, sim.
Eu quis xingá-lo de muitos nomes, mas me limitei à um silêncio sentido. Kai pareceu satisfeito com minha súbita submissão.
O vi sair pela porta calmamente, contendo as lágrimas de raiva. Eu não podia deixá-lo machucar Sol. Ela era a melhor pessoa dessa merda de pesadelo no qual eu vivia.
Deitei na cama de novo, suspirando e e tentando me acalmar. Chorar era atitude de criança, isso não iria me ajudar em nada.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Onde as histórias ganham vida. Descobre agora