47. O Duelo

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~ hi, everyone!~

~ não tem motivo específico pra essa música, eu só gosto muito dela :)~

Bonnie ficou perplexa.
Eu não esperava que ela dissesse o mesmo, mas não sabia que ela iria agir daquela forma. O modo como me encarou. Era como se não estivesse reconhecendo a pessoa na sua frente.
Ela abriu a boca e fechou em seguida, para abri-la mais uma vez, sem emitir nenhum som específico. E eu continuei, a olhando com expectativa como um idiota, esperando que ela talvez pudesse ficar feliz. Afinal, não era ela mesma que queria que eu fosse mais humano? Agora estava agindo estranho.
- Eu disse algo errado?- perguntei, sem saber direito o que fazer, afinal, eu não era bom com essa coisa de lidar com sentimentos.
- Hã... Não, não, não- ela sacudiu a cabeça de forma um tanto exagerada-... É que eu... Não esperava por algo assim. Na verdade, eu nunca esperei por algo parecido.
Isso foi um tanto ofensivo. Eu sabia que era uma espécie de monstro, mas por que ela imaginou que eu a estivesse prendendo por tanto tempo? Isso estava óbvio até para mim.
- Eu não sei o que dizer... - ela parecia em estado de choque- Nossa...
Eu não devia ter ficado aborrecido, mas fiquei. Aquele momento foi importante para mim, e tudo o que Bonnie tinha a dizer era isso. Não esperava nenhuma comemoração, ou fogos de ártificio, mas... caramba!
No estado em que Bonnie estava, parecia querer fugir para qualquer lugar com um raio de um quilômetro de distância de mim. Sua salvação veio quando a música se encerrou e todos aplaudiram, Bonnie de afastou de mim e aplaudiu como os outros, mas sua expressão não era feliz. Era um estado de apreensão e agonia completos.
Ouvi os passos de Cecile, quando ela se aproximou de nós.
- Que lindinhos vocês são- provocou, fazendo uma expressão irritante de deboche- Venham, eu quero apresentar umas pessoas à vocês dois.
Franzi o cenho. Aquela garota era realmente estranha. Caminhamos atrás dela, pela multidão. Cruzamos o salão até uma das enormes janelas em arco. Ao lado dela, havia uma mesa com cadeiras enormes e confortáveis, onde quatro mulheres estavam sentadas. Tinham idades diferentes, mas todas eram muito bonitas. Claro, que todas elas perdiam em comparação com Bonnie. Ao nos aproximarmos, percebi que ninguém mais o fazia. Era como se todas estivessem excluídas da festa. Mal chegamos à três metros delas, e seis seguranças imensos entraram em nosso caminho e ficaram nos encarando como se fossem nos matar à qualquer movimento.
Cecile bufou.
- Saiam da frente. São meus convidados.
Os brutamontes obedeceram como cãozinhos, mas não antes de me lançar um olhar de cautela.
- Ele também, Srta. Courtaud? - um deles apontou para mim, claramente diferenciando meu cheiro.
Cecile o fuzilou com os olhos amarelo-ouro.
- É Deboir, e não Courtaud - disse entredentes, fazendo o homem enorme se encolher um pouco- E sim, o vampiro está comigo.
O homem não a questionou mais.
Fiquei me perguntando se aquelas eram as amantes de Apollon, pois elas estavam tão guardadas quanto tesouros. Se eu fosse podre de rico e dono de um império, também ficaria paranoico com minhas mulheres. No caso, mulher, pois Bonnie valia por mil delas e eu não tinha olhos para mais nenhuma outra.
As quatro tinham idades diferentes, mas tinham uma beleza incomparável. Uma tinha longos cabelos escuros, usava um vestido curto, vermelho, mas sem parecer vulgar. Um bebê envolvido em mantas azuis estava em seu colo. A que estava ao seu lado tinha traços orientais mas tinha uma pele tão branca e cabelos tão loiros, que parecia ser albina, o vestido perolado só servia para destacar a beleza exótica. A terceira, tinha cabelos encaracolados e uma pele morena de ébano, e usava um vestido verde jade, destacando os olhos cor de mel. A última parecia ser mais velha que as outras, com cerca de 35 ou 40 anos, mais era de uma beleza superior à de todas. Ela era idêntica à Cecile, exceto pelos olhos escuros e misteriosos, assim como o vestido longo que usava.
- Eu os trouxe aqui porque elas não podem conversar com muitas pessoas como podem ver- confidenciou, Cecile- E uma que elas estavam curiosas para conhecer você, Kai.
- Eu?- sorri, confuso.
- Bonnie foi lá em casa uma vez para falar com o Dr. Wong e acabou conhecendo o pessoal.
Isso me fez lembrar de quando cheguei em casa e Bonnie não estava. Ela só voltou no fim da tarde, com a notícia de que não estava grávida como suspeitou, apenas doente. Aquilo foi estranhamente impactante para mim. No início, eu odiei a ideia de que ela pudesse ter um filho meu, já que eu não era fã de crianças. Meus irmãos eram a prova morta disso. Mas, quando parei para pensar melhor, passando a noite em claro, uma criança não seria uma má ideia. Bonnie ficaria permanente presa à mim. E eu gostei da ideia de que um dia ela viesse à amar uma parte de mim. Mesmo que fosse uma pessoinha parecida comigo. Acho que alimentei tantas esperanças sobre isso, que quando a realidade bateu a porta, eu perdi o controle. Irracional, a possui vezes seguidas, com a ideia permanente de que eu podia dar um filho à ela, de que ela amaria algo que fosse nosso. Que, talvez, ela viesse à me amar por isso.
Mas ela não estava grávida e nem nunca ficaria. Pelo menos, não de mim. E muito menos de outro homem.
- Mulherada, trouxe o casal vinte para conhecer vocês- disse Cecile, sem entusiasmo.
As mulheres ficaram de pé rapidamente.
- Bonnie!- a garota loira se lançou para cima de Bonnie em um abraço apertado.
- Oi, Hana- saudou a bruxa, retribuindo o abraço timidamente- É muito bom vê-la aqui fora.
- Eu sei- ela riu, parecendo empolgada- É tudo tão grande por aqui. E Apollon disse que dançaria comigo a noite toda se eu quisesse.
Ouvi uma imprecação em espanhol, e ela vinha da garota de cabelos escuros com o bebê no colo.
- Ele disse isso para todas nós, sua tonta.
- Não seja tão invejosa, Sarah- Hana revirou os olhos castanho-amendoados- Só está de mau humor porque ele perdeu o interesse em você.
- Isso é porque ela tem um homem mais importante que a ama incondicionalmente, agora- se intrometeu a mulher de vestido jade.
- Juan é apenas um bebê, logo terei o meu próprio e Apollo vai me dar tanta atenção quanto a Sarah recebe, Cora- se defendeu, Hana.
- Você é mesmo uma idiota- disse a mulher chamada Cora.
- Nem me fale- concordou Sarah.
- Vocês três- interrompeu a mulher mais velha, a que imaginei ser Ílea, mãe de Cecile. Ela não envelheceu nada, assim como Apollon- Parem de brigar. Querem que Apollon nos mande de volta para casa e passemos mais um ano trancadas?
- Não- responderam em coro, envergonhadas.
Ílea se voltou para nós.
- Foi você quem me salvou de ser presa por aquele segurança, no dia em que visitei a mansão- Bonnie disse, olhando fascinada para a mulher.
- Sim- ela sorriu, bondosamente- Espero que tenha chegado bem em casa, querida. Você estava tão pálida.
- Chegou muito bem, mamãe- Cecile resmungou, ao meu lado- Eu a levei de carro se lembra?
Ílea ignorou o mau humor de sua filha.
- Está preparada para esta noite?
Todas as mulheres olharam para Bonnie de um modo estranho, como se ela fosse a salvadora da pátria ou algo parecido.
- Sim- ela assentiu, séria.
- Pois é, Apollon vai precisar do poder dos dois-emendou Cecile rapidamente- Mas todas estavam curiosas em relação ao Kai, mas não estão falando com ele.
Ílea riu baixinho, parecendo se dar conta.
- Olá, é um prazer conhecer o vampiro que conseguiu fazer meu ex-marido ficar preocupado pela primeira vez em todos esses anos- estendeu a mão para mim.
A levei aos lábios, satisfeito com suas palavras.
- É um prazer finalmente conhecê-la.
- Kai é mesmo capaz de causar um grande rebuliço por onde passa- Bonnie comentou, um tanto seca.
- Mira, que guapo- comentou, Sarah para sua amiga, Cora. As duas riram.
- Obrigado- pisquei para elas, que enrubesceram de imediato. Ter uma governanta que adorava dar broncas em espanhol tinha lá suas vantagens.
- Er... Não conte à Apollon que eu disse isso, por favor- Sarah se retratou com forte sotaque, assim como Sol, parecendo realmente assustada- Da última vez que eu disse que outro homem era bonito, ele ameaçou tirar o Juan de mim.
Bonnie pousou a mão em meu braço, fitando seriamente a mulher com o bebê.
- Ele não vai contar nada, não é, Kai?- e olhou para mim com firmeza.
Dei de ombros.
- Eu sou lindo e Apollon sabe disso. Ninguém precisa contar nada à ele- afirmei.
- Obrigada- disse Cora, parecendo realmente grata.
Constatei algo que não tinha percebido logo de cara. Elas tinham medo dele. E assim como Bonnie, não tinham escolha. Isso me incomodou de uma forma que não sabia explicar.
Ficamos um tempo, ali, enquanto Apollon cumprimentava toda a alcateia pelo salão. O vi olhar em nossa a direção algumas vezes, parecendo um tanto preocupado com minha presença perto de seu harém, mas Madeline, logo tratava de mantê-lo ocupado com mais algum convidado. Apesar de ser um cara muito sociável, eu fiquei a maior parte do tempo em silêncio, apenas observando Bonnie. Apesar de a festa estar para lá de chata, ela realmente parecia feliz de estar na presença daquelas mulheres. Eu não a via sorrir tanto, desde.... Desde que eu entrei em sua vida.
Fui retirado de meus pensamentos profundos com o choro de um bebê.
- No, mi amor, no llore ahora, su mamá está acá- ouvi Sarah dizer, em meio ao barulho, pegando-o dos braços de Bonnie- Que estranho, ele fica tão bem nos braços de qualquer um, mas com você, ele abriu o berreiro.
Eu sabia o porquê disso: Bonnie estava ficando cada vez mais parecida comigo, e animais e crianças podiam sentir isso.
- Deve ser o cheiro esquisito dela- comentou Cecile.
Bonnie ficou tensa ao meu lado.
- Que cheiro?-perguntou Cora.
- Ah, me desculpe, esqueci que você é humana aqui-debochou a loba- Bonnie namora um vampiro, certamente que vai cheirar como tal. Juan é um lobo, ele sente o cheiro à quilômetros.
Minhas sobrancelhas se juntaram.
- Eu cheiro tão mal assim?-ri.
Cecile, Sarah, Ílea e Hana riram de meu comentário.
- Vampiros cheiram à sangue- explicou, sua mãe- Não ao seu. À sangue alheio. Lobisomens conseguem sentir a anti naturalidade disso. Por isso vampiros nos incomodam tanto.
- É uma medida cautelar- emendou Hana.
- Devo me afastar?- brinquei.
- Se você não tentar pegar o Juan em seus braços, estará tudo bem- comentou Cora.
Todas riram.
Olhei para a coisinha rosada e bochechuda
embalada em cobertores e mantas. Não me senti nem um pouco atraído por aquilo.
Subitamente, todas pararam de rir. Vi a forma como seus olhos baixaram para o piso. Exceto Cecile, ela encarava a pessoa atrás se mim. Me virei, vendo Apollon. Madeline estava pendurada em seu braço, encarando as mulheres como se quisesse esmagá-las como insetos. Nenhuma delas emitiu um som, até mesmo Juan parou de chorar.
- Atrapalho?
- Nem um pouco- respondeu Cecile, em desafio.
- Temo ter que roubar seus objetos de admiração por um segundo- ele olhou para mim e Bonnie alternadamente- Faremos o feitiço agora.
Bonnie se despediu de todas rapidamente e prometeu ir visitá-las em sua mansão em breve. Achei muito bom que Bonnie virasse amigas de todas elas, pois poderia colher informações sobre Apollon e a matilha para mim. Ela pareceu apreensiva ao meu lado, apertando meu braço nervosamente, enquanto seguimos no meio da multidão. Vê-la daquele modo fez surgir em mim, a necessidade súbita e estranha de protegê-la, porém, obriguei esse lado desconhecido à desaparecer, afinal, Bonnie ainda não havia se recuperado totalmente de meu comentário infeliz, minutos mais cedo.
Seguimos nosso anfitrião e sua esposa pelo salão enorme. Tomei o cuidado de manter os olhos focados em todas as direções, com receio de que aquilo fosse algum plano de Apollon para nos emboscar. Minha prioridade primordial, era Bonnie. Mataria qualquer coisa que se aproximasse dela.
Vi Apollon, todo pomposo se encaminhando para o centro do salão, onde todos os lobos aguardavam as palavras idiotas de seu líder babaca. Porém, seu trajeto foi interrompido por sua companheira. Madeline ficou na ponta dos pés para sussurrar algo ao pé do ouvido de seu marido. Apollon concordou, e ela se voltou para Bonnie.
- Preciso retocar meu batom- informou, e estendeu uma das mãos pálidas para a bruxa- Me acompanha?
Em um movimento impensado trouxe Bonnie para mais perto de meu peito. Eu não confiaria naquela mulher nem se ela descesse dos céus com uma arpa e uma auréola na cabeça.
Bonnie a encarou interrogativamente por alguns segundos, e então, tirou minhas mão de sua cintura calmamente.
- Está tudo bem, Kai- disse, selando nossos lábios com um beijo suave e rápido- Eu já volto.
Então, a multidão se abriu para elas. Observei enquanto Bonnie desaparecia entre os lobos com um receio que beirava a agonia.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now