14. Estou de Mudança

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Para thaiscristina09876 que esperou muuuuito por esse capítulo ♥

Dizem que quando você está prestes à morrer, flashes de sua vida passam diante de seus olhos e que tudo à sua volta fica mais lento, porque seu cérebro começa a trabalhar muito mais rápido por causa da adrenalina.
Mas não foi isso o que aconteceu.
O tempo não ficou mais lento. Pelo contrário, tudo pareceu acontecer à um milésimo de segundo.
Tudo o que minha mente confusa pela pós-hipnose, conseguia fazer era olhar a cena diante de meus olhos. Kai tombou de joelhos no chão, segurando o que se parecia um ferimento em seu peito, mas não consegui ver, pois ele estava de costas para mim. Porém, aquele homem pareceu bem nítido.
Ele era muito alto, com uma pele azeitonada e olhos escuros.
Por um segundo, minha mente esperançosa pensou que ele havia vindo me salvar daquele monstro e que meus amigos estariam logo atrás para dar reforço e que eu voltaria para casa. Mas tudo esmigalhou, quando ele apontou aquela besta para mim.
O encarei, sem compreender porque fazia aquilo. Eu era a vítima e pelo que sabia não havia me transformado em vampira.
Então, por que ele apontava aquela arma para mim? O que eu havia feito?
Ele estacou no piso à alguns metros de mim. Seus olhos avaliaram minha expressão, como eu fazia com ele.
Houve um lampejo de reconhecimento em seu olhar. Ele sabia o que eu era. Sabia que eu não era como Kai, porém o vi apertar o gatilho, liberando a estaca de madeira.
Conhecia todas as probabilidades de sair dali viva e elas eram nulas. Eu morreria de qualquer forma.
Não tive nem tempo de respirar e um borrão negro surgiu diante de mim, tapando minha visão do homem magro. Reconheci os ombros largos e aquela camisa ridícula. Era Kai.
Ele estava fraco, com a mão pousada no abdômen e pela forma como ficava em pé com pouca o firmeza dava pra ver que não teve tempo de tirar as estacas e lascas de madeira de seu peito. Porém, isso não parecia abalá-lo.
O vampiro segurava a estaca de madeira com a mão ensanguentada à centímetros de seu própria peito. A estaca que estava prestes à me acertar.
Encarei-o incrédula; ele parecia disposto à tudo para não deixar aquele homem me matar.
O cara com macacão azul, foi mais rápido, acertando mais estacas no peito de Kai, que cambaleou, mas não se deixou abalar por aquilo.
- Isso - resfolegou, apontando para a barriga com a mão livre- Tá doendo muito... Você nem faz idéia. Meu Deus! Nunca me disseram que ser vampiro era tão sofrido! Ah!
Por um segundo, pareceu que ele iria tombar naquele chão como uma tora de árvore, mas Kai forçou-se a continuar de pé.
O homem de macacão, continuava nos fitando impassívelmente.
- Você irritou pessoas que não deveria, sanguessuga- disse com uma voz profunda e sem emoção alguma.
Kai ergueu um dedo no ar.
- Sanguessuga, não. Pode me chamar de Kai, é mais legal. E quem eu irritei? É melhor começar a especificar por nome e endereço. Porque eu irritei muitas pessoas nos últimos meses, não dá pra lembrar de todos.
O homem deu um sorriso de canto.
- Piadas não vão salvá-lo agora- e apontou a besta mais uma vez para Kai e dessa vez, tenho certeza de que ele iria acertar.
O herege se empertigou, como se não sentisse uma dor real.
- Não vão- afirmou- Mas a falta de um braço pode atrapalhar um pouco.
O estalido das cordas empurrando a madeira na direção dele reverberou por todo o quarto.
Fechei os olhos, querendo que toda aquela loucura desaparecesse.
- Acho que essa foi sua última estaca- ouvi Kai dizer um segundo depois, sem uma nota de dor em sua voz- Que pena.
Abri os olhos e vi Kai segurando algo diante do peito. A estaca nem chegou perto de tocá-lo como a outra.
- Acho melhor você olhar para o outro lado, Bonnie- disse sobre o ombro com um sorriso- Isso vai ficar feio.
- O quê...?- tentei dizer, ainda confusa, quando ouvi o urro do homem.
Um som alto como um CLACK se fez ouvir. E o homem cambaleou, segurando o ombro esquerdo.
- Ouviu isso?- Kai perguntou, caminhando um pouco vacilante na direção do homem- Isso foi o som do seu ombro sendo deslocado.
O homem arregalou os olhos e olhou diretamente para mim. O vampiro seguiu seu olhar.
- O quê? Você acha que foi a BonBon?- riu e voltou os olhos cinzentos para o assassino- Você e seu chefe estão muito desinformados.
Kai andou até parar diante do homem, que lançou um olhar do mais puro asco em sua direção. Ele não se importou.
- Eu sou o que chamam de "esponja de magia". Uma história beeem longa, mas resumindo, eu sou um vampiro. Porém, não um vampiro qualquer. Tenho a capacidade de fazer magia.
O homem de olhos escuros o fitou com o que se parecia descrença.
- Isso não é possível, vampiros não podem...
- É possível, sim, meu amigo e você entrou no covil do mais perigoso do todos- interrompeu- E tentou matar uma dama. Eu sou degenerado, mas matar uma garota pega mau. Ainda mais, uma incapaz de... SE DEFENDER!
Com um movimento de mãos, as duas pernas do homem se partiram como dois gravetos. Seu grito, foi a coisa mais horrível que já ouvi em toda a minha vida.
Dei um passo incerto em direção ao vampiro.
- Kai- chamei- Para com isso. Por favor.
- Não, Bonnie!- ele voltou-se para mim, arrancando uma das estacas de seu abdômen. Os olhos azuis estavam tomados de veias negras- Ninguém tenta me matar, matar você e sai incólume! Ele vai pagar!- e voltou-se para o homem- Quem mandou você? Quem são esses "Irmãos" e o que eles querem?
O homem continuou o encarando firme como uma rocha. Por seu olhar, dava para notar que não era a primeira vez que ficava cara a cara com um monstro de contos infantis.
- Se você quer assim...- murmurou.
Subitamente, Kai agarrou o braço deslocado do homem e o puxou com toda sua força. O membro se rasgou da pele de seu ombro como uma folha de seda.
Imediatamente o homem explodiu em berros assustadores. Por experiência própria, sabia que ninguém o ouviria.
Sangue se espalhou pelo piso de cimento, encharcando suas roupas.
Apenas senti o chão sob meus joelhos e meu corpo tombou para frente. Meu estômago se remexeu furiosamente.
- Eu disse para você olhar pro outro lado, Bonnie- Kai murmurou, segurando o braço arrancado do homem, como quem segura uma sacola de supermercado.
Meu abdômen se contraía tentando empurrar algo para fora, mas não saía nada. Agradeci por não ter tomado café da manhã.
O homem continuava a gritar.
Um baque surdo se fez, olhei à tempo de ver Kai soltando o braço do cara no chão. Ele o pegou pelo colarinho da camisa, erguendo seu corpo flácido.
- Agora, me diga quem está atrás de mim e o que quer?- sibilou- E se fosse você seria bem rápido, porque se não sangrar feito um balão furado antes, vou arrancar o resto do seus membros até dizer o que quero saber.
O homem conseguiu sorrir em meio à dor e o medo.
- Eu não sou o único- grasnou, com dificuldade- Mais virão atrás de vocês.
Kai semicerrou os olhos.
- Quem são vocês?- questionou.
A respiração do homem se acelerou mais enquanto ele parecia tentar... mastigar alguma coisa?
- Adeus, sanguessuga.
E seu corpo se retesou de súbito. Kai o segurava com confusão tomando seu rosto.
- Mas que merda...?- antes que terminasse a frase o homem de olhos escuros começou a ter violentas convulsões. Mesmo daquele distância, pude ver seus olhos revirando nas órbitas e uma saliva rosada e espumosa saindo de sua boca.
- Ah, minha nossa...- arfei.
Kai pareceu se dar conta do que estava acontecendo. Seus olhos e encheram de fúria.
- Não... Não! Droga, não!- ele tentava manter o homem quieto. O vi morder o pulso, mas quando fez a menção de dar seu sangue à ele, o cara já havia parado de se mexer.
O vampiro o soltou bruscamente no chão.
- Desgraçado!- urrou, soltando um daqueles rosnandos assustadores.
- Ele... ele...- tentei dizer, me colocando de pé sem muita firmeza em meus joelhos- Ele se envenenou...?
O vi respirar fundo, tentando conter aquela fera dentro dele. Logo as veias negras e suas presas haviam desaparecido.
- Cápsula de cianureto- disse, parecendo furioso- Ele mastigou a droga de uma cápsula venenosa!- e começou a rir como louco- Estamos em uma droga de filme sobre a Guerra Fria?
Continuei o encarando sem saber direito o que fazer. Kai estava pálido como um morto pela perda de sangue e parecia que iria desmaiar à qualquer momento.
Meus olhos correram para a porta metálica escancarada. Ele percebeu meu olhar e mesmo sem forças conseguiu dar o sorriso mais maldoso que eu já tinha visto.
- Você por acaso, está tentando deixar o meu dia mais interessante, Bonnie?
Cerrei os punhos ao lado do corpo fortemente, me lembrando de que ele me obrigou à fazer mais cedo.
- O que me impede de sair por aquela porta?- questionei ríspidamente.
Kai sentou-se na beirada da cama, totalmente despreocupado.
- Bom...- fez ele, tirando a camisa encharcada de sangue fresco com uma expressão de dor e cutucou os ferimentos em seu peito e abdômen- Nada. Você pode fugir. Não vou conseguir pegar você... eu acho.
Encarei- o com desconfiança. Kai poderia estar fingindo para me colocar em algum de seus joguinhos doentios. Porém, apesar de estar assustada, dei alguns passos em direção à porta. Comecei a caminhar mais rápido quando tive a certeza de que ele não viria atrás de mim.
- Mas eu acho...- o ouvi dizer, me fazendo parar na entrada da porta. Olhei por cima do ombro-... que eles, seja lá quem forem, não mandariam apenas um cara atrás de mim. E agora que um deles foi morto é só uma questão de tempo até outros virem.
Semicerrei os olhos, o vendo tirar as lascas de madeira ensanguentadas de seu peito nu distraidamente.
Kai levantou os olhos cinzentos para mim.
- Acha que eles não a usariam para chegar até mim?
- Eu não tenho nada haver com seja lá no que você esteja metido, Kai- rebati com frieza- Não tente me intimidar.
Ele riu, fazendo mais sangue escorrer de seus ferimentos.
- Você sempre acredita no lado bom das pessoas, não é? Isso é tão bonitinho- provocou, com um sorrisinho que se desfez aos poucos- Tá vendo esse cara?- apontou com a cabeça na direção do homem estendido no chão. Tentei ignorar o buraco que o veneno cavou em sua traquéia, virando meu rosto em outra direção- Ele sabia que você é uma bruxa; humana. E ainda assim queria te matar. O que me leva a pensar... O que o resto dos amigos dele fariam para que você os trouxesse até mim? Certamente, eles não pediriam com educação, já que você tem muitos amigos vampiros, não? O que os faria imaginar que eu e você somos próximos.
Eu sabia onde ele queria chegar. Claro que aqueles homens pensavam que eu e Kai devíamos ter uma espécie de parceria ou proximidade, já que estávamos juntos o tempo todo. Contra minha vontade, obviamente.
Arqueei uma sobrancelha.
- Posso explicar para eles que você me mantém em cativeiro e que não tenho nada haver com as porcarias que você faz por aí- rebati.
- Ótimo argumento- assentiu- É, você me venceu. Pode ir embora, eu me rendo.
Continuei parada o encarando.
Realmente queria ir embora, mas o que me garantia que eu conseguiria chegar em Mystic Falls em segurança? E se os tais caras me encontrassem? E se eles fossem tão ruins quanto Kai?
- Ainda vai demorar um pouco para eu conseguir me curar desses ferimentos, mas acho que se você continuar parada aí, logo vou ter forças pra trancafiá-la de novo- murmurou com um sorriso cruel. Aquele desgraçado estava adorando minha falta de opções- Então, se fosse você, fugiria logo.
Dei um passo em direção à porta.
Eu daria um jeito de chegar em minha casa em segurança. Meus amigos estariam esperando por mim, talvez até me procurando. Precisava acreditar nisso.
Caminhei para fora do quarto e... parei.
Quem eu estava querendo enganar? O que seria de mim, sem minha magia? Como eu poderia me defender?
Todos acreditavam em minha força e sabedoria. Menos eu. Não sentia-me nem um pouco forte ou sábia.
Sou apenas uma garota, pensei com tristeza.
Suspirei e virei para a porta do quarto escuro.
Kai colocou seus olhos cinzentos em mim. Ele parecia levemente apreensivo, mas essa expressão mudou para contentamento ao me ver caminhar até ele.
Parei diante da cama.
- Pensei que fosse embora- provocou com um sorriso diabólico.
- Eu não estou fazendo isso por você- murmurei, encarando-o com frieza- Quero salvar minha própria pele. Você vai resolver toda essa confusão em que nos meteu e depois me deixará partir. Entendeu?
- Você não dita as regras aqui, Bonnie- rebateu com desdém- Não farei acordos e nem vou soltar você. Isso está bem claro. Se quiser sobreviver, fique comigo. Ou pode ir embora e se tiver a sorte de a deixarem viver, eu vou atrás de você- falou com mais frieza que eu- Nada me impedirá de terminar o que comecei.
Dei um sorriso de canto.
- Eu poderia trancar você aqui e vê-lo secar dia após dia. Sem sangue para se alimentar, sozinho, no escuro- sibilei- E quando imaginar a morte como sua única saída, trarei aqueles homens até você e deixarei que o torturem como fez comigo.
- Ora, ora- ele sorriu- Vejo que a convivência a está deixando menos idiota. Deveria passar mais tempo comigo, Bonnie. Posso te ensinar uma coisa ou duas.
Seus olhos desceram por meu corpo de um modo nauseante.
Se eu fosse cogitar a hipótese de continuar com ele, teria que dar um jeito de me defender de sua hipnose e qualquer artimanha que Kai pudesse usar contra mim.
- E então?- questionou, quando me demorei o encarando- Temos um acordo?
- Um acordo exige que as duas partes estejam em pé de igualdade. E nós - o mirei com desdém-...definitivamente não estamos. E eu tenho condições.
- Condições?- ele riu, com se isso fosse a piada mais engraçada de todas- Estamos no meio de uma burocracia? Bonnie, meu anjo, sequestro implica em falta de escolhas.
Ignorei seus comentários ridículos.
- Você não irá mais sugar minha magia, não irá me hipnotizar e...
- Tem mais?- interrompeu.
-... vai ter que arrumar uma certa quantidade de verbena para mim- prossegui.
- Você- ele sacudiu a cabeça em divertimento- é muito engraçada. Sério. Nunca pensei que tivesse talento para comediante e aí está você, Bonnie Bennett, contando piadas.
Revirei os olhos.
- Estamos de acordo ou não?
Kai coçou o queixo, ponderando.
- Hã, me deixe pensar... NÃO. Não estamos de acordo Bonnie. Eu não serei idiota a ponto de deixar que escape com sua magia. A hipnose está me garantindo certas regalias, admito e quanto à verbena... Tá brincando com a minha cara?
Senti todo meu rosto esquentar de raiva.
- Escuta aqui seu maníaco doente, prefiro deixar que me matem antes que você possa me hipnotizar de novo para fazer sabe-se lá o que se passa nessa sua cabeça pervertida. Pensa que eu esqueci dos seus abusos? Não deixarei que me toque de novo. A magia, resistência e a verbena são só minha garantia de que você não vai tentar nada.
Kai apoiou a mão no colchão, mais preocupado em tirar uma farpa do tamanho do meu mindinho de seu abdômen ensanguentado.
- Já vi garotas fazendo horrores só pra terem uma chance comigo- murmurou, arrancando o pedaço de madeira com uma careta- e você, fica reclamando de uns toques bobos?
- Bobos?!- não podia acreditar naquela hipocrisia- Você tenta abusar de mim e chama isso de bobo, Kai?!
Ele revirou os olhos.
- Ok, rainha do drama, posso ser legal e abrir algumas exceções. Tudo bem?
Ele dizia aquilo como se estivesse sendo bom demais para mim e que eu deveria lamber suas botas como um cão. Kai era absurdamente irritante.
- Não vou mais hipnotizá-la, se for uma boa prisioneira- murmurou com um sorriso sacana. Quis dar um soco naquele nariz perfeito.
Cruzei os braços.
- Isso não me garante nenhuma segurança. Você pode fazer o que quiser e me compelir à esquecer depois.
- Você é insistente, não, garota?
Continuei o encarando. Não aceitaria estar sob o julgo dele sem nenhuma forma de proteção.
Kai suspirou pesadamente.
- O fato de eu conseguir hipnotizá-la se dá porque estou tirando muito da sua magia e você fica sem essa proteção que as bruxas têm contra os vampiros. Que tal eu tirar um pouco menos? Ainda não terá sua magia inteiramente, mas pelo menos não vai ficar agindo como uma paranóica, achando que eu posso te obrigar a fazer, Deus me livre, um strip tease.
A julgar pela expressão de descontentamento dele, aquela proposta era verdadeira.
- E a verbena?- questionei, ainda firme.
Kai me olhou enviesado.
- Não sou tão louco à ponto de dar à você um punhado de mato que pode usar como arma contra mim. Vai ter que se contentar com o pouco que ofereci.
Levei em conta nosso acordo. Eu ainda seria sua prisioneira, mas não estaria totalmente à sua mercê. Isso era reconfortante. Bem... melhor do que eu estava à alguns minutos atrás.
Subitamente, lembrei de algo.
- Você não vai mais entrar na minha cabeça- lancei, o fitando com firmeza.
- Logo a parte divertida?- reclamou.
- Eu sei que você não entende conceitos de certo e errado, Kai- soltei venenosamente- Mas isso é tremendamente errado. Você não pode invadir a mente das pessoas.
- Nosso acordo estava muito bem, até chegar nisso- reclamou- Peça o quanto quiser Bonnie, mas não parar de fazer isso. Eu sempre vou entrar na sua mente e ponto.
Uma coisa que aprendi nesse meio tempo com Kai, era que ele conseguia ser mais teimoso que eu. Me contentei em manter a frágil paz que havia conquistado. Com o tempo eu aprenderia a me defender de seus ataques mentais.
Ergui um dedo no ar.
- Tem mais uma coisa.
- Tá vendo? Foi só dar um pouco de liberdade e agora você tá querendo mandar em tudo- resmungou e revirou os olhos- O que foi agora? Quer me transformar no seu prisioneiro? Porque hoje eu estou abrindo concessões malucas.
Kai bem humorado era irritante, mas quando ficava azedo desse jeito, era insuportável. Tentei ignorar aquele sarcasmo todo.
- Eu não posso ficar aqui- murmurei de modo autoritário, gesticulando o lugar à minha volta- Tanto porque é desumano e porque mais desses homens podem aparecer aqui.
Usei todas as minhas forças para manter um ar calmo, mas por dentro eu me remexia com a idéia de Kai querer me deixar ali com todo aquele perigo rondando.
O vampiro encarou meu rosto por algum tempo. Seu olhar penetrante era perturbador. Ele sempre parecia saber exatamente o que queria, nunca demonstrava dúvidas ou incertezas. Isso era algo para se valorizar e temer ao mesmo tempo.
Ele suspirou, parecendo subitamente cansado.
- Tudo bem.
- O quê?- fiquei chocada.
- Eu disse que tudo bem. Você não ficará aqui.
- Vai me jogar dentro de um poço?- arqueei uma sobrancelha, ainda desconfiada.
- Ótima idéia. Mas vamos deixar as opções em aberto, sempre gostei mais de masmorras.
- Então... estamos de acordo?- perguntei, com a desconfiança rondando minha voz.
Kai estendeu a mão ensanguentada.
- Estamos de acordo- concordou.
Fiquei encarando sua mão, ainda desconfiada. Ele estava sendo cordial demais. Kai não era assim.
Acho que enfim o inferno havia congelado.
- Só fechamos um acordo quando apertamos as mãos, Bonnie- ele disse com um ar irritadiço na voz.
Encarei sua mão por mais alguns segundos.
- Tudo bem- e apertei-a, sacudindo levemente.
Kai continuou a segurando algum tempo depois, com seus olhos cinzentos nos meus. Seus dedos, ao contrário do que eu podia imaginar, seguravam os meus com uma gentileza assustadora.
Aquilo me perturbou e quando fiz a menção de afastar seu toque do meu, Kai deu um puxão forte me fazendo perder o equilíbrio e cair sentada em seu colo.
Tentei me levantar, mas aquele vampiro bastardo continuou me segurando contra si.
- Você disse que não faria mais isso!-rosnei.
Ele sorriu maldosamente.
- Na verdade, eu disse que não a hipnotizaria mais. Você não disse nada quanto à contato físico.
- Verme!- debati-me mais.
- Apesar de você ter atrativos físicos, muito... Bom, atraentes- disse deixando seus olhos odiosos caírem sobre meu decote na camisola de algodão- Eu preciso de outro tipo de cuidados, BonBon.
E vi seus olhos azuis indo para seu abdômen cheio de farpas e estacas de madeira e voltarem para mim. Contive um rubor bobo que surgiu em meu rosto, ao perceber como ele estava em forma.
- Pode começar- ele sorriu devassamente, soltando minha cintura e apoiando as mãos sobre o colchão irregular. O que deixou seu corpo totalmente à minha mercê.
Encarei seu tórax coberto de sangue, com cortes e perfurações que teriam matado uma pessoa comum. Não tinha muita experiência nessa coisa de arrancar madeira do peito alheio, mas a possibilidade de causar dor em Kai foi um fator muito estimulante.
Escolhi uma estaca grande que quase havia acertado seu coração por dois centímetros. E comecei a puxá-la, fingindo ter alguma dificuldade nisso para aumentar o tormento do herege. Porém, Kai nem parecia notar o que eu fazia. Estava mais preocupado em ficar me secando daquele modo assustador.
Seus olhos azuis não deixavam os meus nem por uma fração de segundo.
- Então...-começou. Ergui meus olhos, parando o que estava fazendo para mirar sua expressão que era uma mistura de diversão e seriedade-... você namorou o Gilbert?
Revirei os olhos e voltei para o que estava fazendo.
- Ele parece um pouco simplório pra você, não?- continuou, quando dei sinais de que não ia responder- Não me leve à mal, mas não acho que ele era bom o suficiente pra você.
- E você é?- questionei, arrancando as farpas enormes de uma estaca que estilhaçou em seu peito. Meus dedos estavam cobertos de seu sangue.
Ele deu de ombros.
- Pelo menos sei o que eu quero. E isso inclui você e pensamentos perturbadores de lingeries vermelhas.
- Sua mãe devia tê-lo afogado em uma banheira quando teve a chance- resmunguei, sem prestar atenção nenhuma nele.
- Eu era um bebê adorável- disse, sem se incomodar- Você transava com aquele pirralho?
- Meu Deus... Você não tem filtro?- falei, indignada com aquela intromissão.
- Aposta que era um sexo bem chato, não? Me deixa adivinhar... Papai e mamãe?
Senti minhas bochechas esquentarem como fogo.
- Gostaria que você não tocasse nesse assunto, enquanto eu estou arrancando estacas do seu peito- murmurei, com ironia- Odiaria me distrair e afundar uma delas no seu coração.
Um sorriso obstinado se desenhou em seu rosto.
- É que tem você sentada em cima de mim e todo esse sangue. Tô ficando excitado.
Inspirei profundamente, buscando alguma calma. Pensei em afundar uma daquelas estacas e o matar, mas não seria rápida o suficiente. Kai quebraria meu pescoço antes que o fizesse.
- Você consegue transar com alguém com esse papo furado, Kai?- provoquei.
- Acredite, faço mais sexo que você.
Tentei não imaginar essa cena odiosa. Prossegui, tirando todas as farpas que pude encontrar. Aquele zelador tinha feito um estrago enorme. Ótimo.
- Pode achar isso ridículo, mas eu nasci em um tempo diferente- sua voz vinha baixa e calma, cortando o silêncio- E uma garota que se guarda pra um cara que ela gosta é uma coisa muito valorizada.
- Que bom que sou uma santa aos seus olhos- falei com todo o sarcasmo que pude reunir.
- Nem tanto- deu de ombros- Você transou com o Jeremy. Perdeu pontos comigo, por isso.
- O que seria de mim sem sua aprovação de com quem eu durmo, não?
- Você está sendo sarcástica?- ele não parecia feliz.
- Não. Eu sou uma santa, lembra?
- Acho que acabou, Santa Bonnie- resmungou, olhando para o próprio tórax, agora sem estacas e farpas- Preciso de sangue.
- O quê?- tentei me levantar, mas ele me agarrou de novo- Você não pode esperar e pegar um estoque de bolsas de sangue ou algo assim?
Kai me puxou para mais perto, afastando meu cabelo que roçava nos ombros.
- Como se eu nunca tivesse bebido o seu sangue- murmurou, posicionando meu pescoço para ele.
Eu odiava dar meu sangue à ele. Isso era intrusivo e errado.
O vampiro encarou minha pele por alguns segundos. Subitamente, senti seu dedo traçando a veia em meu pescoço e desceu até o relevo em meus seios. Ele fez um "X" imaginário sobre meu seio direito.
- Aqui está ela- sussurrou, com veias negras começando a cercar seus olhos.
Numa velocidade assustadora, Kai me ajeitou sobre ele, fazendo minhas pernas cercarem sua cintura e meu peito ficar contra o seu. Eu queria gritar para ele não fazer aquilo, mas o herege não se controlava. Seria como gritar com um lobo selvagem.
Sua mão apertou meu quadril contra o seu com força, enquanto sua mão livre descia a alça do vestido em meu ombro.
Já tentei lutar contra Kai outras vezes, mas aquilo seria uma briga insensata. Ele perdia toda a razão quando deixava seus instintos assumirem.
Seus lábios pousaram em meu pescoço e senti suas presas roçando minha pele de forma ameaçadora. Descendo por meu ombro, tocando a clavícula, até alcançar o volume que era meu seio.
Como ferro sua mão firmou se em minhas costas e Kai afundou as presas em meu colo.
Gemi, jogando a cabeça para trás. Era uma dor angustiante. Apoiei as mãos nos ombros nus dele, tentando manter meu corpo firme.
Kai estava ávido, sugando com força e de forma mais que dolorosa. Mas ele ainda não estava satisfeito. Suas presas se separam de minha pele por alguns segundos e pude ver um sorriso cheio de enlevo em sua expressão.
Senti sua língua quente e úmida, subir por meu decote e parar em meu pescoço.
- Kai...- soltei, ao senti-lo me morder outra vez- Por favor...
Ele não parecia querer me escutar.
Suas mãos tateavam desesperadamente, por meu corpo. Subindo por minhas pernas, costas, descendo as alças de meu vestido. Tudo isso sem abandonar o fluxo de sangue em meu pescoço.
Ele nunca havia agido daquela forma. Kai parecia muito... excitado.
- Chega- tentei afastá lo, pois estava ficando tonta pela falta de sangue- Pára, Kai.
Depois de mais alguns segundos de luta e com uns rosnados assustadores da parte dele, Kai me soltou.
- Me sinto bem melhor agora- ele sorriu, com os olhos ainda voltando para o azul.
Baixei meus próprios olhos, notando que seus ferimentos haviam desaparecido, deixando uma camada de sangue seco sobre seu peito.
- Que ótimo- sibilei, me pondo de pé- Você quase me matou. De novo.
Saí de perto dele, caminhando um pouco tonta para o banheiro.
- O que está fazendo?- ele questionou, ficando de pé, também.
- Estou coberta de sangue- gesticulei para o vestido manchado em vários pontos- Preciso tomar um banho.
- Faça isso depois. Nós vamos embora.
- Embora para onde?- desconfiei.
- Você não queria sair desse lugar? Parabéns, você está de mudança, bruxinha.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Oi amorzinhos!

Desculpem por mais uma das minhas famosas demoras na entrega de capítulos. Vimos que a trama está começando a se complicar. Logo vão haver muitas loucuras de dar orgulho ao Kai ^-^)
Espero que tenham gostado. O que acharam? Amaram? Odiaram? Comentem! ♥

Beijos no bumbum xxx. Até o próximo o/

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now