46. Palavras Secretas

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*alá, tem nem vergonha na cara de aparece assim*

~ gente, se não for pra ser descarada eu nem levanto da cama rsrs~

Foi maravilhoso poder me vestir naquele dia, pois Kai havia se certificado de passar toda a semana arrancando minhas roupas. Em parte, devo admitir que e o sexo era incrível e de quebra pude manter aquele vampiro detestável ocupado durante todos esses dias. Kai parecia estar mais relaxado que nunca, rindo de qualquer coisa que considerava engraçada, e sendo - devo admitir- o mais humano possível. Eu não sabia que ele era capaz de ser uma companhia tão agradável quando queria. Ele tinha esse dom especial de fazer você se sentir a pessoa mais importante do mundo com sua simples atenção. E quando ele não estava por perto, me pegava pensando em coisas que ele gostaria de ouvir de mim. Coisas corriqueiras, mas que provavelmente o fariam sorrir.
Isso me deixou abismada. Eu não queria nutrir nenhum sentimento por ele, mesmo que fosse de simpatia. Com todo o meu ser forçava todas as lembranças ruins à ressurgirem mais uma vez. Ele não merecia minha atenção e muito menos a minha empatia. Kai matou pessoas inocentes, destruiu toda sua família e a Convenção Gemini. Ele podia ser charmoso e mais atrativo que um super ímã, mas não valia a metade dos meus sentimentos em relação às pessoas que eu amava. Kai deveria morrer.
- Bonnie?- ouvi-o chamar da entrada do quarto.
Me voltei para ele.
- Sim?
Ele cambaleou um pouco, me olhando de cima abaixo.
- Quando eu vou me acostumar com isso?
- Espero que logo- forcei um sorriso doce.
- Nunca é a palavra mais adequada, eu acho- disse, caminhando na minha direção- Você está tão... linda. Não quero que a vejam assim...
Suas mãos pousaram em meus ombros nus, acariciando.
-...você é só minha.
Machista idiota.
- E você está muito bonito também- semicerrei os olhos, acariciando as lapelas de couro negro de seu smoking com gravata borboleta também preta- Terei que algemá-lo naquela cama?
Suas mãos desceram por minhas costas nuas, pelas pedras pequeninas e douradas perfeitamente encrustasdas na pele -que Sol fez questão de colocar, dizendo que me deixariam muito mais bonita, e devo admitir, tinham um efeito incrível sob a luz-, que Kai fez questão de delinear com os dedos, antes de alcançar minha cintura e me puxar para mais perto de seu peito amplo.
- Seria uma ideia incrível- os olhos cinzentos estavam em um tom quente e brilhante de azul essa noite- Eu não me importaria nem um pouco de ficarmos nesse quarto a noite toda.
Ergui uma sobrancelha.
- Mas aí perderíamos a oportunidade de ser o casal mais quente dessa festa- murmurei, aproximando meu rosto do seu lentamente- E saiba que depois que voltarmos para casa, essa cama... - mordi seu lábio de leve-... ainda vai estar nos esperando.
Kai soltou um gemido baixo e animal, tentando alcançar minha boca com um de seus beijos. Me afastei, rindo. Pela primeira vez, ele não ficou frustrado com isso, pois sabia que o teria mais tarde. Bem, era o que ele imaginava.
Voltei a encarar o espelho de corpo inteiro, procurando qualquer imperfeição, mas tudo estava ótimo. Kai estava parado atrás de mim, me encarando com uma expressão indecifrável.
- O que foi?- eu ri, olhando para sua imagem.
- Estou memorizando- disse simplesmente.
Isso me fez ter uma estranha sensação de angústia.
- Memorizando o quê? - forcei o sorriso em minha voz.
Seus olhos cinzentos estavam intensos e carregados de uma forma que nunca havia presenciado.
- Você- respondeu.
Não consegui evitar o sentimento de culpa que me inundou dos pés à cabeça.
- Por que você faria isso?- tentei manter a normalidade- Sabe que teremos a eternidade, não é? Apenas eu e você.
Seus braços cercaram minha cintura, fazendo-me encostar em seu peito.
Ele suspirou contra meu ombro, ainda olhando de forma triste para nosso reflexo no espelho.
- Apenas eu e você- sussurrou.
Nós parecíamos perfeitos juntos. Talvez fosse isso que Kai via constantemente. A garota com o vestido com fios dourados e colado ao corpo, com o coque alto não pareceu concordar.
Apertei seus dedos ligeiramente, olhando intensamente para ele.
- Eu e você.

♦Kai♦

Insistencia sempre foi uma de minhas características mais fortes, e Apollon aprendeu isso naquele dia. Decidi que eu e Bonnie iríamos à festa sem um chófer chato. Eu queria poder guiar até lá com ela ao meu lado, e claramente, sem o adicional de ter um outro homem olhando para ela. O que era idiotice já que haveriam muito mais homens naquela festa. Mas estar com Bonnie era assim, ela tirava minha capacidade de raciocinar direito. Tirava minha respiração, arrancava meu coração e pisava em cima. Ok. Não tão literalmente assim. Mas ela me atingia de um jeito que nenhuma outra mulher conseguiu. E nem preciso dizer o quão sortudo me senti por ela estar se entregando de tão boa vontade à mim. Acho que, na verdade, era eu quem estava em suas mãos. Se ela soubesse o poder que tinha sobre mim...
Apertei minha mão sobre seu joelho sob o vestido dourado pela décima vez desde que tínhamos entrado naquele carro. Eu queria me certificar de que ela ainda estaria ali, de que eu não estava sonhando, de que ela nunca iria embora. Me senti idiota por estar acalentando uma coisa dessas em minha mente durante toda essa semana, mas essa sensação não sumia: a de que eu a perderia para sempre. Talvez, isso se desse pelo fato de que tive tão pouco afeto em toda minha vida, e agora, que detinha uma coisa tão preciosa quanto essa tinha medo de perder. Tinha medo de perder seu carinho, seus beijos, seu toque em minha pele. Bonnie havia me viciado em suas carícias e sorrisos e eu- como um viciado- já não sabia viver sem isso. Faria de tudo para não perdê-la, seja lá o que precisasse roubar, matar ou destruir, o faria sem pestanejar. Eu já não era uma entidade única, não sabia mais viver sem Bonnie.
Respirei fundo e sacudi a cabeça por um instante, tentando me livrar de pensamentos tão ridículos. Eu não a perderia. Nada poderia nos ameaçar. Eu estava sendo apenas paranoico, como sempre.
- Você parece preocupado- Bonnie sussurrou no escuro do carro que deslizava pelas ruas adentro naquela noite. Sua mão repousou sobre a minha, e Deus... como eu gostei da sensação quente de seus dedinhos macios sobre os meus.
Decidi confiar nela.
- Apollon vai precisar de nós dois essa noite-falei com a voz um tanto rouca- Você sabe disso, não é?
- Sim, eu já desconfiava.
Passei a ponta da língua pelo lábio inferior.
- E deve ter notado que eu não suguei sua magia durante esses dias- comecei.
No fundo, eu quis me socar por ter dito isso a ela. Agora que sabia, Bonnie tentaria escapar de mim, pois teria força o suficiente para isso.
- Percebi isso também.
Olhei nervosamente para sua mão sobre a minha. Ela não parecia agitada ou com cara de quem estava maquinando uma fuga naquele momento.
- E o que pensa a respeito disso?- ousei perguntar.
-O que quer que eu pense?- rebateu, seus olhos verdes brilhando no escuro.
- Você... Pode ir... Embora se quiser- minha voz saiu esganiçada.
Ela ponderou por alguns segundos. E inferno, aquilo pareceu a eternidade.
- Eu prometi a você que ficaria se salvasse a vida do meu melhor amigo- disse simplesmente.
Eu não esperava por uma resposta assim. Aquilo me incomodou.
- Mas fui eu quem o colocou em risco. E nem sabemos se ele está vivo ou não.
Por que eu estava dizendo aquelas merdas? Eu queria que ela me odiasse, era isso?
- Damon não se foi. Eu... o sinto- sussurrou- Como você sente a magia ao seu redor, eu o sinto. Ele ainda está vivo.
- Então... Você quer ficar?-minha voz soava incrédula, até para mim mesmo.
- Você vai continuar me machucando? - alfinetou.
- Se não me der motivos, não terei que fazer isso.
Ela arqueou a sobrancelha mais uma vez.
- E o que você toma como "motivos"?
- Os motivos que você já conhece- rebati.
Ela respirou fundo, pensando e quando falou foi direta, como sempre.
- Você vai deixar que eu use minha magia além desta noite?
Ponderei aquilo por um segundo.
Eu sabia o que era ser um bruxo e não poder usar seus poderes. Era como ter nascido sem um membro, mas ainda sentir seus movimentos. Sempre haveria um vazio. Um vazio que só a magia preenchia.
- Sim- murmurei.
- Toda ela?
- Toda.
Ela arfou, trêmula de felicidade.
Eu estava apavorado com a ideia de Bonnie tentar me deixar, mas se eu queria que ela me amasse tinha que saber jogar o mesmo jogo.
Ela se inclinou sobre mim, me surpreendendo com um beijo na bochecha.
- Uau.
-Obrigada- ela sussurrou contra meu rosto.
O carro deslizou pelas ruas vazias do condomínio, todos, exceto nós dois, pareciam já estar no tal evento. Tentei não ficar nervoso com a conversa que havia acabado de ter com Bonnie, não serviria de nada voltar atrás no que tinha prometido. Só faria sua confiança em mim esmorecer. Eu não queria isso.
Foi um pesadelo tentar encontrar um local para estacionar do lado de fora da casa dos sonhos de Apollon. Apesar de todos morarem no mesmo local, e poderem muito bem ir andando, os lobos eram tão ostensivos quanto seu líder. Carros caríssimos, misturados à picapes enferrujadas e calhambeques estavam espalhados por todos os lados. Após achar uma vaga, desci do carro, notando alguns dos lobisomens ao lado fazerem uma careta de desaprovação para mim. Pisquei para eles, o que os fez ficarem perplexos e irritados.
- Não deveria fazer isso- preveniu Bonnie, quando a ajudei a descer.
Ela encaixou seu braço no meu, enquanto seguíamos a multidão para a mansão.
- Sabe que eu nunca entendi esse negócio de rivalidade entre lobisomens e vampiros? É ridículo.
- Lobos são uma espécie que já está presente à muito, muito tempo sobre a Terra. Vampiros só servem para desequilibrar a natureza- apontou ela, com altivez.
- Isso vindo de uma bruxa que tem como maioria entre os amigos, vampiros- debochei- Ah, mas não vamos nos esquecer do Matt, o Humano.
- Matt é uma pessoa maravilhosa- defendeu, sem se abalar- Ao contrário de um certo herege.
Me inclinei para ela e rocei meus lábios no lóbulo de sua orelha.
- Se continuar me provocando desse jeito, vou ter quando achar uma canto escuro e subir essa sua saia...
Bonnie continou séria, mas consegui ouvir a agitação em seu peito.
- E se continuar sendo atrevido, vou fazer você ficar ajoelhado a noite toda- lançou, subitamente entrando no clima.
Meu corpo reagiu de imediato à aquela provocação, e me vi, procurando cantos vazios naquele jardim enorme. Mas todos estavam ocupados. Droga. Tive que me ajeitar discretamente em minhas calças.
- Isso não é justo- resmunguei em voz alta.
- A vida não é justa- ela disse, ficando na ponta dos pés para plantar um beijo casto em meu pescoço- Agora, vamos. Estão todos nos esperando.
Subimos a escadaria que levava até a enorme porta da frente. Seguimos até o enorme salão, onde havíamos jantado da última vez. E ele estava repleto de gente. Todos usavam roupas de gala, mas alguns estavam com vestimentas mais simples como botas e jeans, e jaquetas de couro. Afinal, os lobisomens não perdiam suas raízes nômades. Um violinista solitário tocava em um pequeno palco à distância. Mas não era um dos clássicos, estava mais para uma composição própria, com indícios ciganos ou algo do gênero. As pessoas conversavam entre si, com ares desconfiados, até que nos viram. E tudo entrou no mais puro silêncio. Nesse mesmo instante, assumi uma postura protetora sobre Bonnie; meu braço cercando sua cintura, enquanto eu a puxava para mais perto de mim. Eu sabia que agora ela era forte, e poderia se proteger, mas não era tão forte quanto eu ou alguma daquelas criaturas. Ela ainda estava no patamar humano, portanto, ainda era frágil como tal.
Do outro lado do salão, a multidão se abriu, deixando um homem alto e bronzeado surgir dali. Nessa noite, Apollon usava um elegante terno negro, assim como a camisa de seda e a gravata. Madeline estava logo atrás dele, alta e vermelha da cabeça aos pés- com um vestido tão decotado que dava para ver seu umbigo-, exceto pela gema azul presa a uma corrente grossa e dourada em seu pescoço. Seus filhos, Isabelle e Manon vieram logo atrás, como cópias dos pais. A garota usava um vestido laranja de alças finas e simples, para emoldurar toda a beleza dos cachos castanho avermelhados e os olhos azuis. Seu irmão, usava calça skiny preta, com mocassins e paletó também escuro.
Senti a saliva se acumular nos cantos de minha boca, enquanto minhas presas se alongavam. Essa noite seria magnífica.
- Kai- avisou Bonnie, apertando meu braço ligeiramente- Hoje, não.
Eu estava prestes a soltar uma pérola, quando ela ficou na ponta dos pés e me beijou. Toda a raiva se derreteu dentro de mim. Bonnie se afastou rápidamente, deixando a mensagem no ar. Ok. Nada de confusão. Pelo menos, por enquanto.
- Malachai- cumprimentou Apollon, com aquele sorriso cheio de dentes- Belíssima Bonnie!
Odiei a entonação baixa que ele usou ao pousar os olhos na minha garota.
- Olá, Apollon- ela sorriu para ele, encantada. Ou pelo menos, fingindo estar. Com Bonnie, eu não sabia de mais nada- Madeline- a loba acenou com a cabeça- Isabelle- a garota sorriu mínimamente para a bruxa- Manon.
Bonnie foi muito menos receptiva com ele. E Apollon percebeu isso.
- Bom, minha querida, eu soube do que aconteceu entre você e meu garoto aqui- murmurou desconfortável- Espero que isso não seja problema, pelo menos, durante esta noite.
- Pra mim, com toda a certeza, vai ser um problema- rosnei, encarando o garoto que estava se sentindo muito seguro atrás do papai- Afinal, você está criando um homem ou um maricas, Apollon?
Houve sons de "Oh's" para todos os lados.
Continuei.
- Porque, o filho de um líder não precisa espancar uma garota fraca e indefesa. À menos que esteja escondendo algo que não queira que mais ninguém saiba.
Mais sons de choque. Esse era eu, sendo eu. Babado, barulho e confusão.
Bonnie nunca me contou o porquê de aquele moleque a tê-la atacado, e eu não toquei mais no assunto, ou teria uma hemorragia cerebral de tanto ódio. Mas, isso não me impediu de formular minhas teorias.
Apesar do sorriso amigável, os olhos de Apollon eram frios como gelo.
- Meu filho não precisa esconder nada de ninguém, principalmente de mim- defendeu a cria nojenta, mas eu não estava olhando para ele e sim para um pescoço que eu quebraria logo em seguida- Imagino que Bonnie saiu sem avisar e desprotegida. Eu o avisei sobre isso.
Senti Bonnie tremer de raiva ao meu lado. Ela devia estar se controlando para não causar um aneurisma nele.
- Então, quer dizer que você encoraja o assassinato aqui dentro?
Uma veia pulsou em sua testa.
- Eu exijo direito à uma revanche contra essa garotinha que você cria. Dessa vez, ele vai saber o que é apanhar de um homem de verdade.
Manon parecia furioso, mas percebi um leve estremecimento em sua expressão. Ele era o típico garoto cheio de privilégios que nunca teve que se esforçar para tirar uma lasca de poeira do chão. Que dirá lutar contra um herege.
Sons de palmas interromperam nossa discussão. Ergui os olhos para avistar uma garota baixa e magra, saindo do meio da multidão. Era Cecile, usando um vestido todo em couro preto e justo nas curvas de seu corpo, seus cabelos caíam sobre os ombros em ondas castanhas e douradas. Os saltos pretos ecoaram no silêncio do salão, enquanto se aproximava. Ela parecia estar se divertindo como uma criança em um playground.
- Nós nunca tivemos uma reunião em família como essa antes- os olhos dourados nos percorreram- Manon, maninho, já consegue andar melhor?
O garoto ficou vermelho de vergonha e raiva.
Estreitei os olhos.
- Não se envolva nisso, Cecile- ele rosnou para ela- Esse é um assunto de família.
Ela não se sentiu ofendida com isso.
- E dado que sou sua irmã mais velha, então, nas leis da alcateia, você me deve respeito.
Mais sussurros chocados da multidão. Olhei bem para a garota diante de mim. Ela tinha dozoito anos, como havia dito, na primeira vez que nos encontramos, como poderia ser mais velha que Manon, que aparentava muito mais idade que ela?
Manon calou-se, constrangido.
- Cecile, aqui não- Apollon respirou fundo, parecendo impaciente.
Ela deu de ombros.
- Tudo bem, então- e olhou para mim- Sanguessuga, quer dizer, Kai, Bonnie já deu um jeito em Manon, acredite. Ele ficou alguns dias sem poder se olhar em um espelho e ir ao banheiro sem urinar sangue. Então, não precisa se preocupar em defender a honra de sua fêmea, obrigada.
Olhei para o bastardo, vendo-o ficar tão vermelho que era impossível não rir. Encarei Bonnie, que parecia estar orgulhosa de seu feito.
- Isso é verdade?
- Sim- sorriu para mim.
Eu amei ver aquele sorriso. Toda minha raiva desapareceu.
- Então, eu acho que posso deixar esse assunto de lado- murmurei, vendo Manon, soltar o ar em alívio - Por esta noite- ele voltou a ficar apreensivo.
- Eu prometo- começou Apollon- que depois dessa noite, você e meu filho resolverão suas pendências.
- Ótimo, vamos continuar com a festa, então-Cecile, falou e agarrou a mão de Bonnie- Você não se importa se eu a roubar um instante para uma dança, não é? Não se importa? Maravilha!
Eu não tive nem tempo de negar e a garota já estava arrastando Bonnie com ela. Cecile estalou os dedos e o violinista começou a tocar uma música lenta e triste. Ela a levou até o centro da pista de dança e envolveu sua cintura. Ainda desconfortável, Bonnie pousou uma das mãos sobre a da loba e as duas iniciaram uma valsa lenta.
Cruzei os braços, as encarando. Eu não sabia que as duas se conheciam tão bem.
- Não fique com ciúmes- uma voz aguda e infantil disse ao meu lado.
Girei a cabeça, vendo Isabelle ao meu lado olhando para as duas. Ela conseguia ser menor que Bonnie.
- Cecile é uma libertina.
- Quer dizer, que ela é...
- Sim, ela é- revirou os olhos- Meu pai é muito condescendente com ela.
- Você vê algo de errado nisso?- perguntei, interessado no porque de ela ter vindo falar comigo, sem a presença de seus pais.
- Eu? Não- mentiu- Mas se fosse você, ficaria de olho na sua namorada. Cecile é famosa por desviar moças como sua Bonnie.
Aquela garotinha me pareceu um tanto irritante.
- Sabe, meu irmão, Luke, era gay. Aí eu matei ele. Mas nunca me importei com a sua orientação sexual.
Isso a fez enrubescer de imediato.
- Então, quer dizer que você também é...?
- Não. Mas eu sou um sociopata. Bem, pelo menos do ponto de vista clínico, já que eu mato pessoas e não sinto remorso, sabe. O que eu estou querendo dizer, é que eu sei como é nascer diferente e ter pessoas desprezíveis apontando o dedo para você o tempo todo.
Isso a fez de calar de imediato. Isabelle se afastou de mim, parecendo terrivelmente ofendida. Não escondi meu sorriso de satisfação.
Voltei minha atenção para Bonnie e Cecile. As duas conversavam seriamente. E por mais estranho que pareça, não consegui me sentir incomodado por Bonnie estar nos braços de outra pessoa. Talvez, porque Cecile não parecesse interessada nela. Mas havia algo muito estranho com aquelas duas... Apenas não soube dizer o quê. Quando a música cessou, Cecile trouxe Bonnie para mim.
- Sua bruxa está entregue- piscou para mim- E não se preocupe, eu não a mordi. Aposto que Isabelle deve ter vindo alertá-lo, não?
Puxei Bonnie para mais perto de mim. Não conseguia ficar longe dela por muito tempo.
- Não foi nada que eu não conseguisse lidar- sorri para ela.
- Minha irmãzinha é uma mimada dramática, assim como a mãe dela- disse.
Nesse instante, uma mulher de vestido verde escuro se aproximou do violinista, que improvisou uma melodia. Eu ainda não era muito informado sobre as músicas do século XXI, mas essa com certeza estava em minha playlist. "Fallin" de Alicia Keys reverberou por todo o ambiente na voz de uma das lobas. Outros deles se juntaram ao coro com alguns instrumentos musicais para complementar a cena.
Olhei para Bonnie que se balançava lentamente ao som da canção, distraída.
- Dança comigo?-perguntei, com um mínimo sorriso e a mão estendida para ela. Ela franziu as sobrancelhas em confusão, no entanto, segurou minha mão. A conduzi até o centro da pista de dança. Cerquei sua cintura, a puxando para mais perto de mim, sem tirar meus olhos das esferas verdes que eram os seus. Não demorou para pegarmos o ritmo lento da canção que eu achei realmente apropriada pata a situação.
- Você está incrível- consegui dizer finalmente.
- Obrigada- ela sussurrou, mas seus olhos fugiram dos meus.
- Algo errado?- estranhei.
Ela deu de ombros.
- Nada, estou apenas nervosa pelo que teremos de fazer. Não sei se minha magia será potente o suficiente para apaziguar a pedra.
Segurei seu queixo, erguendo aqueles olhos incríveis para os meus de novo.
- Ei, você é a bruxa mais poderosa que eu conheço.
Ela riu.
- Como se você tivesse conhecido muitas bruxas nesses últimos dezoito anos.
- Tem razão- assenti- Mas tenho certeza de que é a mais espetacular de todas. E não falo apenas da sua beleza.
Ela corou levemente.
- Bonnie- comecei- Sei que não é o momento mais apropriado para isso, mas...
Parei.
- O quê?- ela ergueu as sobrancelhas.
- Você pensa em... Como teria sido se estivesse esperando um... filho meu?
Ela se calou por alguns segundos, pega de surpresa com a minha pergunta estranha.
- Pensei que você já tivesse esquecido isso- disse simplesmente, quebrando o silêncio.
- Você nunca pensou nisso?- insisti.
- Kai, eu...- balançou a cabeça- Eu não sei se teria estrutura emocional para ser mãe agora. E nem sei se terei algum dia depois de tudo o que aconteceu. Além do mais, você é um vampiro. Não teremos que nos preocupar com isso nunca mais.
- É- concordei, sem muito entusiasmo.
Por que eu ainda estava remoendo aquele assunto? Por que eu não conseguia parar de pensar nisso?
Bonnie percebeu meu cenho franzido. E aproximou seu rosto do meu, encostando nossas testas. Seus braços, em volta de meu pescoço, me acolheram carinhosamente.
- Não vamos mais pensar nisso, ok? Vamos apenas dançar.
Concordei abraçando-a mais contra mim, tentando me convencer de que ela era o suficiente. E sempre seria.
Dançando com Bonnie, tão próximo daquele perfume e aquela pele que me enlouqueciam, sentindo seus braços em volta de mim, me retendo com tanto carinho contra seu pequeno corpo, tudo conspirando para que fosse esse o momento. O momento que pensei que nunca chegaria em minha vida. O momento em que tudo desabaria por terra e eu seria completamente diferente. O antigo Kai nunca teria feito isso, mas para Lucas, aquilo nunca foi estranho. Então, as palavras vieram. Três míseras palavras que mudariam minha vida para sempre.

🙆🙆🙆🙆🙆

Nota da Autora:

Eu sei, pessoal, que não foi O CAPÍTULO, mas foi o que saiu da minha cabecinha nesse dia lindo de Deus. Espero que tenham gostado. Comenta aí, vai? 😏

Beijos xxx. Até o próximo (daqui mil anos quem sabe kkkk, brincando. Ou não).

P.S.: Para a AndressaDrey que sempre tá lá no grupo do what's (aberto para novas amizades sempre, coff, coff, panfletagem) , me mandando postar logo ❤

















LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now