76. Esperança

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E os trabalhos começaram cedo hoje!🤭

Eu ainda não conseguia acreditar que havíamos sobrevivido àquele ataque muito bem arquitetado. Pelo menos o que eu podia chamar de sobrevivência.

Kai estava morrendo bem diante de mim; aquele tom de cinza subindo pelas extremidades de seus membros, enquanto, ele secava feito um cadáver.

Eu sabia que quando aquilo atingisse seu coração, em poucos segundos, ele estaria irremediavelmente morto. Então, fiz a única coisa que pude pensar.

Enterrei a mão em seu peito e tateei as cegas em busca da estaca de madeira que era pouco maior que minha mão. Com isto, pude sentir sua cavidade torácica repleta de sangue e o músculo lacerado de seu coração e cada mínima batida, mais atingido ele era por aquela maldita estaca.

A morte estava quase chegando até seu ponto de foco quando, subitamente, localizei a causadora de todo aquele mal e a puxei para fora no mesmo instante que Kai parou de respirar.

Com o braço coberto de sangue até quase o cotovelo e segurando a estaca ensanguentada, aguardei em um silêncio sepulcral, torcendo para que tivesse dado de tempo e que não houvesse nenhuma lasca perdida viajando por seu corpo.

— Por favor — sussurrei, olhando para seu rosto cansado e coberto de veias negras — Por favor, Kai.

Pude ouvir o choro baixo de Amy a poucos metros de mim, mas não pude fazer nada quanto a isso. Eu não conseguiria olhar para minha filha e mentir na cara dela dizendo que estaria tudo bem. Pois não estava.

Soledad começou a acordar da queda e eu estava morrendo de preocupação com ela. Se havia se machucado muito feio, se estava tudo bem, mas eu não conseguia nem ao menos perguntar isso, porque meus olhos estavam cravados no vampiro morto bem diante de mim.

Eu não conseguia chorar, porque não sabia nem se ao menos estava triste ou aliviada com a morte do homem que me machucou tanto. Não conseguia pensar ou ao menos entender meus sentimentos em relação a ele e aquela situação.

Mas sabia de uma coisa.

Queria que ele abrisse aqueles olhos. Aqueles olhos da cor do mar revoltoso. Olhos frios e avaliativos que não perdiam nada. Olhos que se iluminavam quando ele estava feliz ou quando tinha alguma de suas ideias malucas.

Eu queria ver mais deles por algum tempo, se me fosse possível.

Acariciei seus cabelos castanhos e desgrenhados.

— A Amy precisa de você, Kai.

E subitamente, a cor voltou ao seu rosto num fulgor explosivo e ele arfou erguendo o tronco num espasmo profundo e doloroso.

— Amy… — sussurrou, abrindo os olhos azuis em pequenas fendas e apagou logo em seguida.

— Papai! — a menina exclamou, correndo até nós e caiu de joelhos ao lado de seu pai — Ele morreu? — e ergueu o olhar apavorado para mim.

— Não — sussurrei com um sorriso devastado — Ele está apenas cansado. Precisa se alimentar e dormir um pouco.

Lágrimas de felicidade desceram por suas bochechas coradas.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Onde as histórias ganham vida. Descobre agora