4. Lacey, minha amiga zumbi

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A música adicionada é "Creeping Death" do Metallica ;)

Eu estava sentadinho e comportado à cerca de meia hora naquela lanchonete de quinta.
Tombarilei os dedos de forma impaciente pelo tampo manchado de café e outros fluídos esquisitos que as pessoas derrubam em uma mesa de lanchonete.
Tentei não ficar irritado com a demora na entrega do meu pedido. Ultimamente, eu perdia calma com muito mais facilidade. Bem, mais que o comum.
Acho que era aquele lance de vampiro. As emoções ficavam mais afloradas e difíceis de controlar. Em um minuto eu estava com vontade rir e sair conversando com pessoas estranhas, por aí. E no outro, estava arrancando cabeças, só porque estava tendo um dia ruim.
E hoje era um daqueles dias.
Bufei passando a mão pelos cabelos, sem conseguir me concentrar em mais nada.
As pessoas à minha volta não tinham importância. Bem, à menos que eu estivesse querendo rasgar suas gargantas. Eis aí, outra coisa que conseguia superar minha raiva. A fome.
Eu sempre estava com fome e não importava quantas pessoas matasse, ela nunca ia embora.
Agora entendia, o que era a ser um estripador. Precisava me alimentar de mais do que o necessário para me sentir realmente "cheio".
Um cheiro gostoso inundou minhas narinas. Funguei, o procurando com meus sentidos de vampiro.
Localizei uma gotícula carmim em minha camisa branca. O cheiro gostoso vinha dali.
Senti meus caninos apontarem para fora das gengivas. Ainda doía, mas estava me acostumando. A queimação em meus olhos, indicava o matiz escuro que os dominava. Meu estômago roncou dolorosamente.
E tudo isso porque senti cheiro de sangue.
Apertei os punhos com força, até os nós ficarem brancos.
- Cadê a merda do meu pedido?!- dei um murro na mesa, vendo uma grande rachadura se formar nela.
Ouvi alguns arquejos e sussurros de outros clientes à minha volta.
Eu devia estar parecendo algum lunático. Mas tomei o cuidado de esconder meus olhos.
O som dos passos se fez mais presente e uma garçonete surgiu ao meu lado.
Respirei fundo, sentindo meus caninos voltarem ao tamanho normal e as veias negras em meus olhos desaparecerem.
Levantei o olhar para a garota magra e loura, que olhou para mim de um jeito que eu particularmente gostava muito.
- Aqui está o seu pedido, amor- disse com uma voz sedutora e mascando um chiclete.
Até que era gostosinha.
Eu podia foder com ela antes de ir embora. Porém, aquele som irritante do chiclete sendo esmagado por seus dentes acabou me irritando.
Ter super audição era uma merda.
- Sabe à quanto tempo eu estou esperando?- reclamei, vendo-a baixar a bandeja com uma caneca de café e uma tigela de cereal colorido.
- Amorzinho- falou mascando aquela porcaria, não dando a mínima para o meu mau-humor- Tem outros clientes esperando tanto quanto você e não vejo nenhum deles reclamando.
Nenhum deles pode quebrar seu pescoço em segundos, vadia, pensei com raiva.
- E você não é paga para gostar ou não de reclamações- rebati com um sorriso cruel- Está aqui pra servir mesas.
A garota me fulminou com os olhos castanho-amendoados e saiu sem dizer mais nada.
Dei uma risadinha, sentindo meu humor melhorar um pouco mais.
Levei a caneca de café aos lábios e o cuspi logo em seguida.
Senti um rubor de raiva se espalhar por minhas bochechas.
- Ei, você!- chamei a garçonete que estava se afastando.
A garota se voltou com a maior má vontade.
- O que foi agora?- resmungou, franzindo os lábios.
Peguei a xícara e segurei na sua frente.
- O café tá frio- falei, me segurando para não arrancar um pedaço de sua jugular- Eu quero outro.
- Não está frio- disse simplesmente com aquele ar de tédio- Foi feito agora.
- Então, ele magicamente esfriou da cafeteira até aqui?- falei, indignado com aquela safadeza- Eu quero outro.
A vaca ficou me olhando com a maior cara de tacho.
- Veja, amorzinho...- falou com desdém- Eu tenho outras mesas para servir. Então, acho melhor você parar de reclamar e ficar com a droga do café, porque não vou trocar. Ou pode ir embora, se quiser. Estará fazendo um enorme favor à mim e as outras pessoas.
Semicerrei os olhos.
Ok. Se ela queria assim.
A garçonete começou a se retirar quando segurei sua mão. Estava prestes à protestar quando fitei seus olhos com firmeza, vendo suas pupilas dilatarem.
Sua expressão tornou-se vazia.
- Por que não senta aqui comigo, amorzinho?- murmurei com um sorrisinho.
A garota obedeceu, deixando sua bandeja em cima da mesa e sentou-se diante de mim.
- Então...- vi o nome escrito no crachá de seu uniforme amarelo-... Lacey, acho que começamos com o pé errado.
A garçonete, continuava me fitando com uma expressão vazia e confusa.
- Não acho que seja totalmente sua culpa- continuei, dando uma colherada na tigela de cereal. Ao menos aquilo estava bom- É que eu ando sobrecarregado. Acabei de me tornar um vampiro herege; que é basicamente um sanguessuga capaz de fazer magia. E eu sempre estou com fome. No caso, sede. Lily, não havia me dito que seria dessa forma.
"E tem essa garota que sequestrei... bem, acho que não é um termo politicamente correto. Bem, eu a "convidei" à passar uma temporada comigo. Assim está melhor, não é?- a garçonete continuou me fitando sem dizer nada- Então, essa garota, Bonnie, me enganou. Fez com que eu acreditasse que ela me perdoaria e depois me esfaqueou e largou pra morrer em um Mundo Prisão super caidinho. O que basicamente nos trouxe até aqui."
"A questão é que ela me irrita, e com todos esse sentimentos estranhos na minha cabeça, por causa da Fusão com meu irmão Luke- que não vem ao caso no momento- e esses rompantes de vampiro... Ela simplesmente me deixa doido de raiva. Eu quero muito machucá-la como fez comigo."
"Quero que ela reviva cada mínimo sentimento de dor, medo, decepção, tristeza, abandono e raiva, quando me largou sangrando na neve fria... Você entende, não, Lacey?
Seus olhos castanhos se mantinham fixos e sem vida nos meus.
- Quando eu tinha sete anos- falou, ainda distante- Havia um menino que me perseguia na escola. Ele era mau comigo. Depois descobri que fazia aquilo porque gostava de mim . Acho que você gosta da Bonnie.
Revirei os olhos.
- Você não prestou atenção no que eu disse?- resmunguei- Eu quero machucá-la. Odeio Bonnie Bennett com todas as minhas forças.
- Não poderia perdoá-la?
- Pra uma pessoa hipnotizada você é bem falante, não é, Lacey?- bufei- E respondendo à sua pergunta. Não. Eu não posso e não quero. Bonnie me traiu. Merece sofrer.
Recostei no banco vermelho e acolchoado, respirando fundo.
- Tá bem, que não fui o cara mais legal do mundo no início....Mas, eu tentei, pela primeira vez na vida, me redimir com alguém. E ela... sei lá, pareceu a pessoa mais importante no momento...
Passei a mão entre os cabelos, suspirando.
Fitei a garota, vendo o ar vazio e sombrio em seus olhos.
Como se essa garçonetezinha se importasse, pensei, sentindo o ridículo da situação.
- Mas, por que eu tô falando sobre essas merdas com você?- eu ri, dando um tapa no tampo da mesa, que tremeu um pouco- Aliás, ainda estou bravo. Não gosto de me irritar. Agora vou ter que machucá-la para me sentir melhor. Isso é tudo culpa sua, Lacey.
Me inclinei sobre a mesa e mirei seus olhos castanhos com mais intensidade.
- Você odeia servir mesas- sussurrei, vendo- a dar total atenção- E o único modo de não fazer mais isso, é tornar-se inútil para o trabalho.
Encostei no banco de novo e vi a garota se levantar.
Ela caminhou tropegamente, em direção ao balcão e se esticou sobre ele- me dando a visão daquelas pernas- e pegou algo pontiagudo. Uma faca de cozinha.
Lacey estendeu a mão direita sobre o tampo de madeira branca, enquanto empunhava a faca com a outra.
- Ei, o que está fazendo garota?- ouvi um dos clientes perguntar, ao vê-la daquela forma.
Ele não teve tempo de reagir.
Lacey desceu a faca com toda sua força, a cravando nas juntas que interligavam a mão e o pulso.
O sangue espirrou em seu uniforme amarelo e o balcão branco se tingiu de carmim.
Ouvi gritos e arquejos de surpresa, vindo dos outros clientes.
Um sorriso se alargou em meu rosto. O dia já estava começando a melhorar. Fiquei brincando com meu anel de sol; com uma grande pedra lápis-lazuli.
Lacey deu mais facadas, ignorando a dor, parecendo determinada naquilo.
As pessoas gritavam cada vez mais horrorizadas, chocadas demais para tentar impedi-la. E quando pareceu mais segura disso, parou.
A vi puxar a mão do balcão- que jazia pendurada por pele mutilada e alguns nervos.
A garçonete segurou- a com a outra mão e com toda a força que tinha a puxou, fazendo os nervos e tendões se rasgarem junto com a carne. Até que o membro se soltou, fazendo uma quantidade chocante de sangue espirrar para todos os lados.
Os gritos à minha volta aumentaram.
A garota caiu de joelhos, segurando o coto de mão, com um sorriso no rosto.
- Pronto...-arquejou- Agora estou livre.
Gritos de horror circundavam à minha volta e ver todo aquele sangue estava me dando fome.
Olhei por cima do ombro, vendo uma mulher abrindo a porta de saída da lanchonete. Ela parecia apavorada, segurando o filho que parecia não ter mais que dez anos, perto de si.
Mais rápido do que qualquer olho humano pudesse detectar, parei perto dela, segurando a porta de entrada.
- Não vá embora, senhora- pedi com um sorriso gentil, mas podia sentir as veias negras tomarem meus olhos e as presas rasgarem minhas gengivas- A festa ainda nem começou.
Ela gritou e eu ataquei.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now