8. Dentro do Labirinto

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Acordei em meu quarto escuro.
Há muito que eu havia me habituado com aquelas paredes frias e de tinta descamada. O cheiro de bolor que provinha de todos os cantos, já não me incomodava mais. O colchão não era tão desconfortável como no início.
E eu?
Estava me tornando algo que desconhecia. Uma Bonnie mais apática e triste. Assustada e desconfiada de tudo. Eu simplesmente já não reconhecia a líder de torcida do colegial, ou a garota amigável que todos conheciam. E acima de tudo, a poderosa bruxa Bennett.
O que eu era perto de Kai?
Simplesmente me reduzi à menos que nada. Era o que ele dizia.
Eu tentava não prestar atenção naquelas palavras cruéis, mas elas se infiltraram na minha mente como serpentes, sussurrando verdades hediondas. Coisas horríveis sobre mim.
Com o tempo entendi que estava me entregando. Mas não foi de súbito.
Foi aos poucos. Quando deixei que ele fizesse aquelas coisas horríveis dia após dia. No início eu lutava contra e Kai me machucava mais. E depois, quando comecei a dar razão à tudo o que ele dizia.
Você é fraca.
Não é nada.
Um brinquedo que posso quebrar à qualquer momento.
Ele sussurrava na minha cabeça.
E de súbito, suas verdades... passaram à ser as minhas.
Em que momento eu mudei tanto, não faço a mínima idéia. Porém, conseguia sentir a rachadura se formando dentro de mim. Eu estava quebrando e a única coisa que me impedia de estilhaçar, era a esperança. A de que sairia desse pesadelo. Que um dia veria Caroline, Matt, Tyler, Stefan, Damon, Jeremy e Elena...
Isso fazia o aperto em meu peito se precipitar. E a rachadura cresceu um pouco mais.
Fechei os olhos com força, obrigando as lágrimas à voltarem para seu lugar. Eu não queria chorar mais.
Já estava cansada. Exausta demais para isso.
Me virei no colchão, buscando algum conforto. Geralmente, me enroscava em uma bolinha apertada sob os cobertores, como se isso pudesse me proteger de tudo. Mas não podia. Não dele.
Uma fisgada em meu ombro, me fez parar o movimento.
Afastei o cobertor cinzento de lã, até a cintura. E tive a visão da camisola cor de bronze que eu vestia e na altura da alça fina em meu ombro, pude ver dois grandes hematomas roxo-escuros.
- O que é isso?- sussurrei para mim mesma, sentindo minha garganta doer um pouco pela voz rouca.
Continuei encarando aquelas marcas. Eram... Santo Deus, eram mordidas!
E uma lembrança esquisita surgiu em minha mente.
Mãos viajavam pelo meu corpo, provocando sensações estranhas. No início eram carícias leves, mas depois tornaram - se mais urgentes e dolorosas. Até que senti uma pontada aguda em meu ombro. Duas vezes.
E eu acordei, vendo Kai com suas mãos em lugares extremamente proibidos de meu corpo.
Ele parecia um pouco eufórico e ofegante, com os olhos azuis-cinzentos derretidos em um chumbo azul brilhante.
Até que eu... adormeci.
Aquilo foi um sonho, não?
Encarei meu ombro ferido mais uma vez. Mas como havia sido um sonho? Os hematomas estavam evidentes.
Porém, algo em minha mente cismava em dizer que aquilo foi apenas um sonho.
E a única explicação lógica que eu podia dar à isso era que havia me ferido, enquanto dormia.
Que coisa mais ridícula, Bonnie, pensei sentido-me uma idiota. Quem morde o próprio ombro?
Tive que levar àquela conclusão em consideração. Então, se eu não havia feito àquilo à mim mesma, só podia significar uma coisa.
Kai havia me hipnotizado.
Não tinha como provar isso, mas essa desconfiança cresceu à grandes proporções, até que se tornou uma certeza.
Os tremores habituais, começaram a descer por meus braços, se instalando em minhas mãos. Afastei as cobertas e ignorei o frio que me percorreu.
Me levantei da cama e caminhei automaticamente, para a porta aberta do banheiro do outro lado do quarto.
Quando toquei a maçaneta, senti meus joelhos tremerem.
Ao entrar no recinto, tranquei a porta de imediato e desabei no azulejo amarelado no mesmo instante.
Havia se tornado uma coisa natural para mim. Manter-me - aparentemente - controlada em meu quarto, mas caía aos prantos sempre que me trancava naquele pequeno espaço vazio.
Kai não podia me ver chorar ali.
Cada soluço explodia por minha garganta, arrancando- me o ar com força.
Eu ofegava, com as lágrimas descendo por meu rosto. Minhas mãos eram garras afundadas em meus cabelos embaraçados.
Kai havia feito algo comigo.
Ele me tocou. Ele não tinha esse direito. Ele não podia ter se aproveitado de mim daquela forma.
Ele não podia.
Eu conseguia sentir seu perfume impregnado em minha pele, intoxicando meu ser.
Comecei a esfregar as palmas de minhas mãos contra meus braços e o ombros desesperadamente, tentando arrancar o odor amadeirado e masculino de mim.
Me sentia suja e profanada.
- Ele não pode- solucei- Não pode fazer isso comigo... Não pode...
Abracei meu corpo, sentindo as costelas proeminentes sob o tecido de seda.
Eu havia me distanciado do que era. E Kai ganhava aos poucos.
Bonnie Bennett estava morrendo dentro de mim.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now