22. Jantar Nada Romântico

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Para RafaelaOliveira623 que espera ansiosamente por cada capítulo ♥

Quando Sol me encontrou, eu estava encolhida no chão, entre uma comoda branca e a parede. Meus dedos tremiam em volta de qualquer coisa pontiaguda que eu usava como uma espécie de arma.
O pior de tudo é que não me lembrava de como cheguei ali.
- Señorita?- chamou, se abaixando perto de mim.
Meus olhos assustados e vidrados encontraram os seus.
- Necesita estar pronta- disse.
Sua mão, lentamente, tentou encontrar a minha que segurava a arma, mas me encolhi mais contra a parede a apontando com mais vigor para a mulher.
Os olhos escuros de Sol miravam os meus com pena. Como se ela quisesse fazer algo, mas não soubesse como ajudar. E constatar isso me fez aos poucos, amolecer todo o medo e agressividade diante dela.
A mão enrugada e pequena da governanta tocou a minha, baixando a lâmina que encontrei em algum lugar no meio de meu pânico. Ela caiu no piso com um tilintar leve.
E subitamente, irrompi em novas lágrimas. Chorando desesperada e dolorosamente.
Sol não me tocou e nem tentou me acalmar, apenas ficou fitando meu rosto, esperando até que eu conseguisse respirar mais uniformemente.
Com um aviso prévio, ela sinalizou que ia me tocar. Seus dedos pousaram em meu pulso e aos poucos foi me puxando do chão. Juro que tentei ficar de pé, mas a dor em meu ventre foi angustiante. Caí no carpete sentindo mais dor.
Isso me fez lembrar do que havia acontecido horas antes.
Kai me estuprou.
Com as mãos trêmulas, juntei a frente destruída de meu vestido, encolhendo-me até sumir. No entanto, Soledad, não parecia nem um pouco a fim de me deixar largada e chorando no chão.
Com sua incrível ajuda, ela me colocou de pé, levou-me aos tropeções até o banheiro- sustentado todo o meu peso inútil em seus ombros.
Sentei na borda da banheira, chorando de dor e tremendo. A mulher a encheu com água quente e depois despiu-me- sem muito esforço da minha parte.
Entrei na água com a governanta me apoiando. A dor se intensificou mais.
Choraminguei, encostando o rosto na borda fria da banheira. Os dedos dela acariciavam meus cabelos timidamente, com alguns murmúrios de encorajamento em sua língua materna.
- Sol- sussurrei, curvada de qualquer jeito na água, enquanto a governanta esfregava minhas costas com uma esponja- Me mata.
Os círculos em minha pele pararam. Isso me fez lembrar das marcas de chicotadas que não estavam mais ali.
- Por favor- implorei- Eu não quero viver assim.
Um silêncio sombrio dominava o grande banheiro decorado. Só havia a respiração de Soledad. Leve e rápida.
- Você sabe o que ele fez comigo- sussurrei, encarando a espiral rosa de sangue na água transparente- Sabe o que ele faz e o que vai fazer. Então... acabe com isso, por favor. Sei que é pedir demais, que pode colocar sua vida em risco, mas não sei se...- solucei, sentindo mais uma lágrima correr por meu rosto-... não sei se eu ainda aguento mais disso... p-por favor...
Mais um longo momento de silêncio em que houve apenas o gotejar da água da torneira contra a espumosa e parada dentro da banheira.
Fiquei esperançosa de que ela pudesse cogitar a hipótese. Sol era uma boa pessoa, não podia ver meu sofrimento e não fazer nada, não é? Ela tinha que me ajudar.
Mas sabia que isso podia custar sua vida e de seus filhos.
Tudo o que eu queria era morrer em paz. Era a única forma de escapar de Kai. Minha única chance de acabar com sua covardia e maldade.
- Por favor...
Ouvi um suspiro baixo e calmo, como o de alguém retomando o folgado depois de vários segundos submerso na água. E Sol voltou a esfregar minhas costas.
Por sua respiração acelerada e entrecortada, eu soube que ela também chorava, sabendo que não podia fazer nada para me ajudar.
Abracei meus joelhos e deixei que a água levasse todo o perfume de Kai. Mas ele não saía de mim, suspeitei de que jamais fosse.

◆◆◆◆◆

Só percebi que estava vestida, depois que a governanta me colocou diante da penteadeira de meu quarto.
Havia uma garota no espelho.
Magra, triste e solitária, que me fitava sob os enormes olhos verdes em seu vestido preto de noite. Justo e fechado no busto e de mangas compridas.
Terminou de escovar meus cabelos escuros- agora longos- deixando-os soltos pelos ombros. Aplicou um pouco de blush em minhas bochechas para tirar a palidez cadavérica e um batom claro e simples em meus lábios.
- Muy bonita, señorita - disse ela, tentando forçar um sorriso. Mas a própria Sol parecia muito triste por mim.
Levantei - me e caminhei pelo quarto com a ajuda da governanta e vesti um suéter grande e cinzento, que não combinava nada com meu vestido, mas me fazia sentir mais aquecida e segura.
Fechei-o fortemente sobre o peito.
Ela pegou um par de saltos negros e cheio de tiras elegantes, e o balançou diante de mim, como que me lembrando que estava descalça.
- Não... eu não quero, Sol- murmurei apaticamente, empurrando os sapatos para longe de mim.
Ela dirigiu - me um olhar preocupado, mas não disse mais nada. Apenas me conduziu até a porta.
Soledad era uma mulher idosa e pequena, mas teve força para sustentar todo o meu peso até a sala de jantar.
Esta eu ainda não tinha visto.
Era enorme como todos os cômodos daquela cobertura, com paredes lisas, com alguns quadros que aparentemente eram borrões caríssimos. Havia uma enorme mesa de vidro escuro temperado, onde se via uma vasta variedade de pratos que só uma atarefada e talentosa Soledad sabia fazer.
Kai estava sentado em uma das cadeiras, na cabeceira da mesa, com um maldito monarca. Ele usava uma camisa preta de botões e enrolada nos cotovelos e seus costumeiros jeans.
Meu coração acelerou dolorosamente, senti uma fraqueza vertiginosa enfraquecer meus joelhos e meu estômago revirou.
Tudo porque o vi.
Isso era o resultado do que ele estava fazendo comigo. Criando um terror indescritível em minha mente.
Baixei a cabeça, me concentrando em tentar andar. Sol segurava meu cotovelo, dando apoio.
- Solte- a, Sol- ele mandou.
Soledad lançou um olhar de pura súplica na sua direção, mas Kai ocupou - se em dar um gole em sua taça de vinho- ou seria sangue?- sem dar a mínima.
- Você me ouviu, Soledad?- repetiu após alguns segundos, parecendo irritado.
A mulher pediu desculpas com um olhar e me soltou.
Continuei de pé, com a mão pousada em minha barriga e um tanto curvada.
- Vai ficar parada, aí, BonBon?- debochou- Não seja mal educada. Sol, passou a tarde toda preparando esse jantar para nós dois. Não a desaponte.
Engoli em seco, sabendo que teria que me virar para chegar até a mesa.
Respirei fundo e dei o primeiro passo sem muita firmeza. Senti uma agulhada de dor em meu ventre, mas prossegui. Foram os sete passos mais difíceis de toda a minha vida, contudo, consegui chegar até a cadeira, na outra ponta da mesa. Sentei - me com cuidado- com a mão sobre a barriga- e arfando.
Kai observava tudo sem deixar nada transparecer em sua expressão. Um sorriso brincou em seus lábios.
- Por que esta tão longe de mim, Bonnie?- murmurou- Senta aqui. Mais pertinho.
E deu um tapinha no couro negro da cadeira ao seu lado.
Fiquei o encarando por alguns segundos, perplexa e fervendo de raiva. Mas, o pior de tudo era o medo que sentia de Kai.
- Não me faça ter que implorar, BonBon- sussurrou, dando uma piscadela na minha direção.
Seus olhos azuis-cinzentos eram a mais pura perversão.
Suspirei e prendi a respiração em seguida, por causa da dor e levantei. Houve mais pontadas de dor, mas as ignorei. Caminhei lentamente e com mais dificuldade até a outra ponta da e mesa, apoiando - me nos encostos das cadeiras pelo caminho.
Parei diante da cadeira e fiz a menção de puxá - la, quando ele ergueu um dedo no ar.
- Espera.
Kai levantou-se em toda a sua altura e com alguns passos veio para mais perto de mim. Seus olhos desceram por meu corpo, aprovando.
- Você está realmente maravilhosa- disse, pousando suas mãos em meus ombros. Comecei a tremer- Você sempre está maravilhosa. Mas isso...- sussurrou, puxando o suéter de lã cinzento para baixo-...não devia estar aí. Está escondendo suas curvas- o casaco caiu no chão, deixando-me apenas com o vestido negro. Kai parecia inebriado com o que via- Sim. Agora você está realmente...-riu- Acho que não tenho palavras para descrever sua beleza. Esplêndida, talvez?
Meus olhos fitavam os seus com uma repulsa indescritível.
Kai puxou a cadeira para que eu me sentasse. O fiz, com cuidado.
Quando voltei meu rosto para o dele, querendo observar cada um de seus movimentos, senti seus lábios contra os meus. Kai nunca era carinhoso, sempre me beijava como se fosse a última vez. O que implicava em um fulgor intenso.
Não retribuí seu beijo e muito menos neguei. Apenas continuei quieta, esperando que ele terminasse.
Ele ofegava quando se afastou, assim como eu.
- Não vejo a hora desse jantar acabar- sussurrou, olhando para minha boca como se quisesse devorá-la- Quero você na minha cama.
Tentei engolir o bolo em minha garganta. O tremor em minhas mãos ficou mais intenso.
Kai sentou em sua própria cadeira e damos início ao jantar.
Eu não queria comer nada daquilo, mas o impulso me fez fazer isso. E não podia negar que Sol cozinhava muito bem.
Kai continuava com sua tagarelice de sempre. Ele nunca se cansava de falar. Isso era impressionante, até.
Me mantive quieta o tempo todo e isso o frustrava. Mas, eu estava pouco ligando para isso, não me importava com o que ele sentia em relação à mim.
- Bonnie...- ele disse, dando uma garfada na sobremesa, um bolo pedaço de bolo de chocolate -... eu me sinto um daqueles líderes religiosos de seitas que subjugam as mulheres. Eu gosto de ouvir sua voz. Poderia conversar comigo?
- Eu não tenho nada para dizer- fui direta, remexendo a comida em meu prato com um garfo.
- Esse seu silêncio é enervante, sabia?
- E essa sua falação me dá vontade de arrancar as orelhas- alfinetei- Mas você não me vê reclamando.
Kai me encarou por alguns segundos um tanto perplexo e do nada caiu na gargalhada.
- Desculpa...- disse, entre uma risada e outra.
Ele estava ficando vermelho.
Queria que ele sufocasse de tanto rir, mas isso não aconteceria. Droga.
Levou alguns minutos até que ele parasse de agir como uma hiena.
- Eu adoro isso em você - murmurou, tirando algumas lágrimas dos olhos- Tão direta, espontânea, mas ainda assim séria. Sem perder a graça mal humorada das Bennett's.
Ignorei sua tagarelice.
- Bonnie...- disse novamente, pegando minha mão embaixo da mesa-...Pode me perguntar o que quiser. Eu juro que respondo.
O encarei, pesando o que ele dizia. Kai podia ser qualquer coisa, exceto mentiroso. Acho que era sua única virtude, que como o restante dele, se perverteu em uma sinceridade e falta de filtro incontroláveis.
Respirei fundo, pensando em recolher a mão, mas ele tomaria aquilo como mais um dos meus afastamentos e queria que respondesse minhas perguntas.
- Você me odeia?- comecei.
- Às vezes- deu de ombros.
- Por quê?
- Por muitos motivos que nem eu, entendo. Assim, como você me odeia.
- Você me deu motivos para odiá - lo - acusei.
- Eu sei- murmurou calmamente- Não estou pedindo seu perdão, Bonnie.
- Mas você queria, não queria?
- No começo, sim- falou de um modo sombrio- Mas me dei conta de que era apenas fraqueza e carência. Não preciso de nada disso. Nunca precisei.
- Você não deixa as pessoas te amarem.
- Isso não foi uma pergunta- acusou com um meio sorriso.
- Não foi- fui seca.
- Próxima- disse, ainda me encarando com seus assustadores olhos cinzentos.
- O que descobriu sobre aquele homem que tentou nos matar? Quem era ele? O que pretendia?
- São muitas perguntas- ele riu- Mas, bem, eu andei indo atrás de respostas. Não encontrei nada sobre ele. Nome, endereço, apelido do gato de estimação... Nada.
- Como, nada? Tem que haver alguma coisa, alguma pista...-tentei.
- Talvez, eles tenham desistido depois que viram o que fiz com o amigo deles.
Lembrei do homem, o zelador que tentou nos matar, o momento em que ele mastigou aquela cápsula venenosa com uma certeza quase louca de aquilo era o certo à se fazer. Como se não quisesse que soubéssemos de todos os seus segredos. Ele devia saber muitas coisas importantes, coisas que colocariam sua vida em risco. E se ele temia qualquer outra coisa que não fosse ser desmembrado vivo por Kai, então nós tínhamos realmente que nos preocupar com isso.
- Essas pessoas não parecem do tipo que desistem fácil- falei seriamente.
- Você está se preocupando à toa, bruxinha.
Eu não estava.
- Próxima pergunta- disse ele.
- Você está diferente...- murmurei, sabendo que aquilo era uma tática arriscada, mas eu precisava saber- Mais frio, sério e mais...- quis dizer "assustador", mas deixei isso de lado- Antes você parecia mais descontrolado, mais...
- Humano?- ele sorriu perversamente.
Assenti com a cabeça.
- O que quero dizer é...
- O quê?- ele parecia empolgado.
- Kai... você desligou sua humanidade?
Ele soltou minha mão, se recostando na cadeira com um sorriso maldoso.
- Como você poderia saber a diferença? Afinal, eu sou um sociopata. Técnicamente falando, eu não sinto nada.
- Mas você ficou com a personalidade do Luke, na fusão... tem que haver alguma coisa...
- Não há.
- Kai, você desligou sua humanidade? Responda.
Seus dedos delineavam o vidro da mesa, fazendo pequenos círculos.
- O que você acha?- perguntou com um sorriso de explícita maldade.
Aquela constatação fez meu coração parar e redobrar suas batidas.
Kai com emoções demais se tornava descontrolado, mas ainda assim tinha certos pontos fracos. Mas, sem nenhuma delas, se tornava mortal. Uma força a qual eu desconhecia. E nada o impediria de me torturar e machucar o quanto quisesse.
Isso foi assustador.
Desejei mais do que nunca, estar morta naquele momento.
- Isso a preocupa?- ele perguntou, ainda sorrindo.
Fiz que não com a cabeça.
- Pois parece o contrário- ele sussurrou, me fitando por sobre os olhos de predador.
Engoli em seco, sentindo cada músculo do meu corpo tilintar com os tremores.
Kai sorriu mais amistosamente, relaxando na cadeira. Quem o visse diria que ele era qualquer coisa, menos um vampiro herege sociopata.
- Não precisa perder suas noites de sono por isso- murmurou, pegando um morango dentro de uma tigela de mármore branco, deu uma mordida- Eu não vou machucá-la- sorriu mais abertamente- À menos que você dê motivos para isso.
Continuei em silêncio, ainda tentando controlar minha respiração. Foi como se eu descobrisse estar diante de uma fera selvagem que atacaria à um simples movimento.
Kai abocanhou o último pedaço da fruta, olhando para mim com um súbito divertimento.
- Eu sabia que você reagiria assim, quando descobrisse- revirou os olhos- Ainda sou eu mesmo, Bonnie. Só que numa versão melhorada e mais confiante, diga-se de passagem.
Baixei os olhos para minhas mãos sobre o colo. Tentei pensar em mil maneiras de escapar daquela mesa e me trancar em meu quarto. Ou simplesmente sumir daquela casa. Claramente, um desejo inalcançável.
- Eu já terminei- sussurrei, incapaz de falar um decibel mais alto- Vou para o meu quarto.
Pude ouvir a submissão se arrastando na minha direção.
O que está acontecendo comigo?, me perguntei, ficando subitamente furiosa.
Nunca precisei da permissão de Kai para nada. Muito menos para ir para o meu quarto.
- Ah, que ótimo- ele disse, levantando-se de súbito e parou ao meu lado.
Encolhi como uma bolinha ao sentir minha cadeira ser afastada da mesa por suas mãos.
Levantei lentamente, com cuidado. Meus joelhos tremiam.
E o braço de Kai transpassou minha cintura, puxando-me contra seu corpo com violência. Gemi de dor.
Seus lábios afundaram em meu pescoço, beijando descontroladamente como se ele estivesse se contendo o jantar inteiro.
Levantei meus olhos, em busca de Sol, mas a sala de jantar já estava vazia. Contive um soluço de desespero.
- Kai...- chamei, minha voz tremia, colocando a mão sobre a sua em minha cintura- Hoje, não. Eu... eu estou com dor.
Com um rosnado assustador, suas mãos me voltaram para ele. E senti cada parte do meu corpo tocando o dele.
Seus olhos não eram mais azuis, e sim uma massa de sombras negras cheias de veias pulsantes.
Dei dois passos para trás, sentindo o vidro frio da mesa me encurralar.
Em uma medida desesperada, dei um empurrão em Kai. Ele nem cambaleou.
- Eu disse que hoje, não!- gritei, sentindo o calor rubro em minhas bochechas.
Aquele desgraçado me atacou como um brutamontes. Quando percebi, seus lábios estavam nos meus, sua língua invadindo minha boca e reivindicando espaço. As presas roçavam em meus lábios.
- Hummm!!- tentei afastá-lo, mas seu braço não largava minha cintura e a mão forte estava em meus cabelos grudando meu rosto ao dele.
Subitamente, Kai se inclinou para frente, me fazendo ficar um pouco curvada para trás.
O som da louça deslizando pelo vidro, foi bem distinto. Ainda mais quando as peças se espatifaram no chão.
Rapidamente, as mãos de Kai contornaram a parte de trás de minhas coxas, erguendo - me sobre a mesa. Ele empurrou seu corpo para mais junto do meu, me obrigando a manter as pernas abertas.
Tentei deslizar por cima dela, mas suas mãos agarraram meus quadris, impedindo.
- Não!- gritei.
Sua boca devorou a minha mais uma vez. A respiração dele estava ofegante e descontrolada, vindo em arquejos profundos.
As mãos do vampiro deixaram meu corpo apenas por alguns segundos, para se livrar da camisa, que caiu sobre o piso sem som algum. Tentei escapar mais uma vez, mas ele me agarrou pelas ancas, fazendo com que eu ficasse sentada mais uma vez.
Sua boca desceu para meu pescoço, as mãos agarrando minhas pernas dolorosamente em volta de seus quadris. Senti seus dedos erguendo a saia do vestido preto, deixando minhas coxas nuas.
Eu me debatia, tentando escapar de todas as formas possíveis, mas Kai era muito mais forte que eu. Suspeitava de que esse pequeno combate me deixaria com marcas bem visíveis.
Não percebi o que ele pretendia, até ser tarde demais. Kai cravou suas presas em meu pescoço, gemendo de prazer e arrancando um gritinho de mim.
Seus cabelos castanhos e lisos roçavam em meu queixo, enquanto ele aprofundava a mordida em meu pescoço de forma bruta e dolorosa. Senti o calor do sangue, quando escorreu por meu ombro. Minhas mãos estavam pousadas em seus ombros, em uma tentativa de me manter firme. As unhas cravadas na carne macia e pálida.
O vampiro me soltou cedo demais. Bom, mais cedo que normal. Acho que ele estava tentando se controlar.
- Mais fácil do que imaginei- sussurrou para si mesmo, com sangue escorrendo em um filete no canto da boca.
Fiquei paralisada, esperando seu próximo ataque, porém, Kai limitou - se a deixar seus olhos voltarem à serem cinzentos mais uma vez.
Rápido como uma bala, ele me puxou para a quina da mesa e virou meu corpo mais vez, de forma que metade do meu tórax estava sobre o tampo frio e meus pés plantados no chão.
Meu coração acelerou quando percebi o que ele pretendia.
Tentei me levantar, mas sua mão sobre minhas costas, impediu. Ouvi o som de tecido se rasgando e uma brisa gelada demais rondava minhas costas. Seus lábios tocaram minha pele, fazendo arrepios a percorrerem, enquanto suas mãos firmavam minhas ancas contra seu quadril. Pude sentir o volume de sua ereção em meu bumbum.
Kai encontrou o caminho já conhecido para minha calcinha e com puxão a rasgou em pedaços. Suas mãos se firmaram mais em meus quadris, com seus lábios subindo para meu pescoço e descendo por minhas costas nuas.
- Não...- sussurrei, vendo minhas próprias lágrimas caindo sobre o vidro escuro da mesa. Através, dele pude ver toda a comida que Sol preparou, espalhada pelo chão com cacos de vidro misturados.
Ela vai ter um trabalho imenso para limpar isso, lembro de ter pensado.
O tecido em meus ombros desceu mais, as mãos de Kai os acariciavam. Sua mão subiu para meus cabelos, os afastando de meu rosto carinhosamente.
- Eu queria levá-la pro meu quarto- sussurrou em minha orelha- Mas, não consegui esperar. Isso vai ser incrível.
Ele parecia uma criança alegre no dia de Natal.
Ouvi seus jeans sendo desabotoada. Fechei os olhos, esperando que aquilo acabasse o mais rápido possível e... Houve um pequeno som de bipe.
Kai parou por um segundo, parecendo ponderar sobre algo, mas decidiu continuar. Mordi meu lábio trêmulo.
Mais um bipe.
E outro. E mais outro. E mais um. E novamente.
Mesmo que eu estivesse afastada da civilização por alguns meses, reconheceria o som de um torpedo de celular em qualquer lugar.
Mensagens não paravam de chegar.
- Mas que... merda!- o ouvi resmungar.
Uma de suas mãos soltou meu quadril, senti o movimento de seu corpo como se buscasse algo.
Ouvi o som do celular sendo destravado.
- Céus, quem tá me atrapalhando uma hora dessas...? - sua voz morreu aos poucos.
Kai se afastou de mim como se eu tivesse deixado de ser tão importante. Coloquei - me de pé rapidamente, tremendo e ajeitando o vestido nervosamente.
Kai estava parado, sem camisa e com a calça de cintura baixa desabotoada, mostrando a fina faixa de sua cueca boxer branca na cintura. Mas, seus olhos estavam presos à tela de seu celular, como se houvesse um demônio ali dentro.
Fiquei na dúvida entre correr para o meu quarto, trancar a porta e enfurecer Kai mais um pouco à ponto ponto de fazê-lo me machucar mais. Ou ficar ali, parada, observando sua cara de total confusão.
Infelizmente, minha curiosidade era terrível. Subjugava, meu instinto de sobrevivência.
O que teria desmotivado Kai Parker em abusar de mim?, perguntei-me totalmente confusa por sua reação. E totalmente grata ao meu misterioso salvador.
Eu não sabia que uma pessoa podia ficar tão vermelha e pálida ao mesmo tempo. Kai conseguiu atingir um estágio de perplexidade de outro nível.
Pude vê-lo deslizando o polegar sobre a tela, como que passando imagens ou alguma mensagem.
A curiosidade correu por minhas veias como veneno.
Eu e ele pulamos de susto ao ouvir a campainha do celular tocar em uma música qualquer dos anos 90.
Os olhos azuis de Kai me encararam com uma certa confusão por alguns segundos. Mas não parecia me ver realmente.
Era como se eu fosse invisível.
Ele atendeu o celular.
- Quem é?
Passaram - se alguns segundos, com Kai daquele mesmo modo. Apenas ouvindo. Seu rosto foi ficando gradativamente vermelho e sua expressão tornou-se furiosa.
- Reze para eu nunca encontrá-lo- rosnou e desligou na cara da pessoa.
Eu nunca o tinha visto daquele modo. À não ser quando se tratava de seu pai, mas Joshua Parker estava morto, assim como o restante da Convenção Gemini.
Então... o que faria Kai ficar daquela maneira?
- Vá para o seu quarto, Bonnie- disse, sem olhar para mim.
Continuei parada no mesmo lugar, me perguntando se eu tinha escutado direito.
Seus olhos azuis estavam mais frios do que gelo, mas transmitiam toda a fúria de fogo.
- VÁ PARA O SEU QUARTO!!!
Pulei de susto e ignorando a dor em meu ventre, saí da sala de jantar rapidamente.
Seja lá o que tenha atormentado Kai daquele modo podia ser minha salvação.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Oi Amores,

BonBon se safou dessa, hein? Me desculpem por ter demorado. Espero que tenham gostado ;)

Beijos xxx.

















LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now