O pesadelo

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Não me lembro ao certo quando adormeci, talvez tenha sido após a ligação com o Sehun, talvez devido a música que coloquei para ouvir, o fato é que desde que vim para Seul meus sonhos estão cada vez mais confusos ,angustiantes e recorrentes. Não sei se por conta de todas essas mudanças ou por ter sempre comigo uma dúvida sobre os segredos familiares tão bem preservados pelo meu velho, nem ao menos eu sei o porquê dele nunca falar sobre minha mãe.
A verdade é que dormir nesses últimos dias está sendo cada dia mais exaustivo, acordo mais cansado mentalmente do que quando vou dormir, parece que todos os segredos obscuros tentam pouco a pouco se revelar, porém em um quebra cabeças que nem eu mesmo sei se possuo todas as peças.
Dessa vez, meu último sonho, na verdade pesadelo, eu estou em um lugar escuro, ouço vozes,uma discussão descompensada entre duas pessoas, um homem e uma mulher e muitos barulhos de objetos sendo jogados e quebrados.
Saio desse local escuro em que eu estava escondido, somente depois percebo que eu estava dentro do guarda roupas, espremido tentando me esconder com o coração descompassado e a respiração ofegante, sinal de medo eminente, mas medo do que? Me encaminho em direção ao barulho, acho que a curiosidade infantil é realmente muito grande. Me ajoelho para não ser visto, e me aproximo bem devagar, a sala está toda quebrada, jarros, garrafas, taças estilhaçadas, observo no chão no meio da sala aos prantos minha mãe, ao vê -la grito, me levanto e corro em direção ,mas não consigo chegar, sou interceptado e jogado contra a parede por ele, mas quem é ele? Não é meu pai, isso é uma certeza, sinto uma dor absurda e choro desesperado, minha mãe continua imóvel chorando e pedindo desculpas para ele, ela diz para ele parar, que ela fará tudo que ele quiser, que ela sempre faz. Meu pai não está aqui, mas essa também não é a nossa casa, não a reconheço, e esse cara é outro, não é o mesmo do dia do carro, esse é maior, sua voz me dá medo, tem um olhar cruel, seus olhos estão vidrados, hoje sei que isso é efeito de drogas, já tive algumas experiências ruins com isso, o sr Kang me fez usar algumas vezes, mas isso ficou no passado.
Ele se aproxima de mim de forma rude, diz para a minha mãe que não era pra ela ter trazido esse vermezinho e me bate novamente, sinto que estou prestes a morrer. Minha mãe por sua vez está estranha, acho que está bêbada ou drogada, ela não esboça reação,nem de tentar vir ao meu encontro, somente pede para ele me ignorar, mas quem é esse cara? Vejo nela um olhar perdido e talvez pelo fato de eu estar quase desorientado, ele para de me bater e segue em direção dela , vejo suas roupas serem rasgadas e ela não reage, ele a beija, ela retribui e sorri, não consigo entender o que está acontecendo alí,tudo é muito confuso para mim, grito mais uma vez por ela , para ele parar de tocá-la , ele então retorna sua atenção a mim , se aproximando mais uma vez e me bate, me apagando.
Acordo aos berros, sem ar, desesperado e aos prantos, meu corpo todo dói, choro copiosamente e vejo meu coroa na minha frente me consolando, tentando me despertar desse pesadelo, cara o que está acontecendo comigo? Era um pesadelo ou imagens de um passado? Não consigo parar de chorar e sou abraçado fortemente por ele que me pergunta desde quando meus pesadelos voltaram, como assim? Eu não me lembro de ter pesadelos recorrentes, por que ele fez essa pergunta de forma tão acertiva? Como se ele soubesse dos meus pesadelos, mas nem eu ao certo me lembro de ter pesadelos há um bom tempo não os tenho. Quando criança me lembro vagamente de frequentar uma clínica, acho que eu tinha acompanhamento terapêutico, talvez devido a perda da minha mãe, eles pouco a pouco foram diminuindo até que se tornaram pouco frequentes.
Após algum tempo de choro, meus batimentos cardíacos começam a voltar ao normal, minha respiração vai se normalizando e a voz e o abraço apertado do meu coroa e suas palavras de consolo consigo relaxar e voltar a dormir.
Acordo pela manhã e ao lado da minha cama está meu coroa, acordado olhando atentamente para mim. Me veio um Dejavú na cabeça, uma imagem que me despertou uma lembrança do passado, de uma vez há alguns anos atrás, eu devia ter uns 8 anos e me acidentei, cai de um barranco e quebrei a perna e um braço, tive vários cortes e hematomas, o meu coroa ficou ao meu lado a noite toda, me lembro de sentir muita dor e de sentir sua mão segurar a minha com força sem largar. Me lembro de chorar muito, um mix de dor e de medo por ser repreendido por ele, afinal de contas eu estava fazendo arte, mas me lembro de ser consolado por ele. O mais estranho é que somente agora algumas lembranças dele comigo estão retornando a consciência, eu devo ter apagado toda e qualquer experiência boa com ele, na verdade, não apaguei elas , acho que o rancor e a raiva por ele não me falar nada da minha mãe provocou isso em mim. Mas agora elas estão voltando uma a uma, parece que uma parte do meu cérebro ou consciência está despertando e agora me pergunto se ele é o cara que eu sempre achei que fosse, esse pai seco, frio que eu guardei tanto rancor e mágoas até esse momento, será que tudo que o sr Kang me falou sobre meu coroa ao longo dos anos realmente procedia? Será que ele realmente não queria uma aproximação minha como o sr Kang dizia e que ele viajava para me evitar? Que ele aceitava algumas missões desnecessariamente só para não conviver comigo? A cada novo despertar da minha consciência uma coisa eu tenho cada vez mais como uma certeza, o sr Kang não é o cara que eu pensei que fosse, se ele gostasse realmente de mim ele me apoiaria e me ajudaria com o meu coroa, não me afastaria dele como ele sempre fez, não colocaria mais fogo e me incentivaria a fazer algo errado.
Agora entendo em partes o porque da reação do meu velho com o sr Kang no jantar.
Olho novamente para o meu coroa, que no mesmo instante me enche de perguntas
-Acordou, você está bem? Conseguiu dormir um pouco? Está sentindo alguma coisa? Você adormeceu chorando Jae, como você está se sentindo? Quer faltar a aula hoje? Quer voltar a dormir?
-Pai, eu estou bem, fica tranquilo. ~ Digo a ele e reparo seu semblante preocupado, como só via quando ele estava prestes a ir a uma missão secreta. - Eu vou a escola sim, preciso ir.
-Quanto a escola , você pode faltar, sem problemas.
-Pai, eu faltei outro dia, não posso ficar faltando toda hora, quando a essa noite eu to bem, foi só um pesadelo.
-Você quer falar sobre?
-- Não pai, prefiro deixar pra lá, foi algo que nem mesmo eu entendo, as imagens estão confusas, borradas, nada tem sentido. Provavelmente esse pesadelo foi fruto de algo que eu vi, meus pensamentos, coisas que vivi que foram distorcidas. ~Não posso falar pra ele o que eu sonhei, não sei se era verdade, só sei que foi muito real, até a dor foi real.

Arriscando Tudo Book 1Where stories live. Discover now