O outro lado do Sehun

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Algumas horas atrás...

Sinceramente eu odeio viagens em família, não vejo nada de positivo em viajar assim, todas as minhas viagens começaram em família e em fração de segundos se resumia a mim e alguma babá, minha avó ou algo similar. Ser filhos de médicos já é uma grande merda, imagina ainda ser de médicos cirurgiões e um deles ainda ser dono de uma rede de hospitais. É, fico me lembrando de quando estive realmente em férias que não acabaram em discussões de alguma das partes por ter que voltar para trabalhar ou ambos por dizerem que deveriam me dar mais atenção mas não consigo me recordar de nenhuma vez em que isso aconteceu, sempre estive só nas " nossas viagens em familia".

Eu sempre tentei abstrair e fingir que a relação dos meus pais não me afetava, sempre sorri, tentei me encaixar, não reclamar, apenas aceitar tudo que me era vomitado por eles. Sempre quis que minha família fosse normal, mas está nunca foi uma realidade, nossa relação familiar sempre foi quebrada. Via os pais dos meus amigos em reuniões escolares, festas, mas meus pais nunca estavam lá. Eu não tinha pais como as demais crianças, por mais que a minha mãe seja maravilhosa ela também me negligenciou um pouco, naquela época eu até desejei que fosse diferente, mas me adaptei.
Ter dinheiro e ter familia são coisas diferentes, depois que eu cresci eu desencanei desse pensamento de ter um tempo em familia e tals. Acho que eu era gordinho porque comia os meus sentimentos e angústias, acabava descontando na comida a ausência deles.
Sempre que eu os tinha junto era tão estranho que eu sinceramente torcia secretamente pela separação dos dois, mas quando eles vieram a se separar uma parte de mim ficou entre uma felicidade inexplicável e uma sensação de culpa, pois, de certa forma meus problemas vieram a somar aos deles e com isso eles se separaram.
Meu pai sempre teve aquele comportamento duro, minha mãe sempre amorosa e gentil, mas ambos teimosos, eles eram incapazes de admitir que o meu nascimento atrapalhou a vida deles, a admiração recíproca que eles tinham um pelo outro, quando se tem um filho um pouco da atenção acaba sendo desviada devido as necessidades e da demanda infantil, meu pai já foi pai velho, ele deveria ter pensado duas vezes antes de ter um filho, nunca tivemos uma relação na qual pudéssemos fazer coisas juntos, eu jogava tênis com ele, mas eu era gordinho e ele um homem vigoroso e ainda com bastante energia, sempre brigava, gritava ou me batia. É, apanhei muito do meu pai, mas ele acha realmente que é a forma de se criar um filho mas eu consegui sobreviver a ele.
Durante os intermináveis esporros do meu pai eu ouvi tantas vezes sobre ele ter se arrependido de ter me tido, sobre ter vergonha de mim por ser gordo, por ser apegado a minha mãe, por ser chorão, ahhh, mas sobrevivi a isso.
O problema realmente era dele não meu, eu cresci, claro que estou dando mais um monte de motivos para ele falar de mim, provavelmente ele dirá que têm vergonha, que sou uma aberração, mas sinceramente não me importo, não sou do tipo que vive escondido, que não assume os problemas e escolhas, não me importo com ele, com os sentimentos dele , eu o amo, mas não preciso da validação dos meus atos.
Depois que eu me assumi meu pai nunca mais me ligou, enfim, ele ainda deve estar processando o fato de eu ser gay, deve estar muito irritado, mas isso é problema dele, não é meu.
Eu realmente não me importo com o que as pessoas pensam ou falem ao meu respeito, nos últimos tempos fui envolvido em tantos boatos que agora sou um delinquente, marginal, psicopata aos olhos de algumas pessoas, mais uma vez o problema é delas, não é meu.

Hoje eu acordei mais incomodado do que o de costume, ser sempre positivo tem um preço a se pagar, decidi sempre estar bem, essa é a máscara que eu uso, ninguém precisa saber se estou bem ou não, na verdade mais da metade não se importa e a outra parte sinceramente é mais fodida do que eu, então preciso segurar a onda e só seguir o fluxo.
Dormir ao lado do Jae é maravilhoso mas angustiante, pois não sei o que pode vir a acontecer durante o sono dele, as vezes ele chora, acorda gritando, assustado, meu coração fica devastado ao ver a porra que aquela mãe e de certa forma que o sogrão fez com ele e vivo me sentindo incapaz de realmente proteger ele dessa merda toda.
Não entendo o por quê das pessoas esconderem seus passados, para proteger o Jae o sogrão fudeu ainda mais a cabeça dele. Ele viveu uma falsa realidade, o Jae criou muitos mecanismos pra se proteger do que ele já sabia, essas lembranças estão eclodindo na mente dele e o prejudicando ainda mais. Tenho medo do Jae surtar de vez, ter um colapso nervoso, e como se não bastasse o mal que aquele monstro e aquela psicótica teen fizeram com ele essa merda ta toda voltando.
Nessa madrugada o Jae acordou mas não me chamou, ele se mexeu muito na cama, até que ele levantou e não voltou mais ao quarto, queria ter ido lá consolar ele, mas às vezes reparo que ele sente que sou demasiadamente invasivo, mas não é isso, é só porque eu quero proteger ele da melhor forma possível. Desci silenciosamente e o vi na varanda, com olhar vago, perdido em seus pensamentos, por vezes eu também fico perdido nos meus. Confesso que eu queria ir lá e dizer que está tudo bem, mas não está e eu odeio mentir, não quero mentir pra ele.
Decidi deixar ele lá, acho que será bom para ele, mas ele passou o resto da noite sozinho, não imagino o que se passa naquela cabeça, independente do que seja eu sempre estarei presente para ele, mesmo sem estar.
Passo o restante da noite vigiando-o de longe, esse foi o melhor que pude fazer naquele momento, isso me angústia demais. Assim que amanhece eu subo para tomar um banho, me troco, coloco uma roupa de corrida , hoje o tempo está frio, mas agradável, correr será bom pra dar uma oxigenada no cérebro e fazer algo positivo com o Jae, criar boas recordações.
Desço e reparo que o Jae ainda está na varanda. Esbarro com a minha mãe na saida do quarto.

Arriscando Tudo Book 1Where stories live. Discover now