Arriscando Tudo Book 1

O outro lado do Sehun parte 2

Enquanto o Jae dorme tranquilamente eu o observo, a beleza dele é algo surreal, consigo compreender a fascinação de meninos e meninas por ele, mas tenho que confessar que estou morrendo de ciúmes. Hoje mais cedo tive que me segurar para não quebrar a cara daquele garoto e para não discutir mais seriamente com o Jae, ele tem o péssimo costume de conseguir o que quer fazendo caras e bocas, isso me incomoda muito, não por ele ter usado dessas artimanhas antes, o que ele fez no passado é assunto único e exclusivo dele, não posso surtar por algo que eu não tinha, claro que eu odeio saber que outros passaram pela vida dele e que eu não sou o único, mas consigo me segurar, ou tento, mas me incomoda ele usar isso ainda hoje, as vezes me sinto inseguro com o que ele realmente quer ou pensa. Aquele guri estava descaradamente se jogando encima dele e o Jae não cortou, se fosse o contrário eu não deixaria que isso acontecesse, mas isso sou eu, e eu sempre preciso me lembrar de que os outros não são como eu
Enfim, eu estou surpreso com o fato dele dormir profundamente, acho que a corrida o desgastou e com isso ele pode dormir, como ele havia passado a madrugada acordado atormentando por seus monstros interiores que ele  alimenta com tanto afinco,eles não deixam de fazer morada em seu pensamento, não consigo entender como ele consegue viver dessa forma. Acredito que ele tenha dormido por exaustão tanto física quanto mental, o mesmo não aconteceu comigo, apesar de ter passado a noite toda acordado e tenso por ele, de ter corrido a mesma distância, de termos gasto energia transando, eu não consegui dormir, acho que eu estou passando por algumas transições e mudanças.

Desde que começamos a dormir juntos eu tenho dormido mal, quando estou com ele fico apreensivo, com medo dele ter alguma coisa mais séria, não sei como ele aguenta viver dessa forma, claramente ele precisa de ajuda mas vive em negação, se metade dos pais realmente enxergassem seus filhos e seus pedidos de ajuda a vida seria menos difícil, mas definitivamente o egoísmo, a arrogância de ser mais velhos e achar que são os donos da verdade associado com o movimento constante da vida,  os seus problemas e o desinteresse de alguns os impedem de observar atentamente seus filhos e acabam mesmo que inconscientemente não enxergando os pedidos de ajuda e assim os deixando sozinhos quando eles mais precisam de ajuda.
Eu já desencanei dessa ingenuidade de esperar algo dos meus pais, minha mãe até tenta, não posso negar, mas suas tentativas além de falhas vieram atrasadas, agora já não espero mais pelo acolhimento dela, esperei muito, dei muitos sinais e ela não os enxergou, por que ela nutria tanto interesse em seus pacientes e não dava a mínima para mim. Devido a isso me adaptei, em um primeiro momento a odiei, pensava diariamente em como ela podia não ver como meu pai me tratava, depois de algum tempo eu entendi que nem todos nasceram para ser pais, eu acredito que eu esperava muito dela, na verdade deles dois, televisão, histórias, desenhos não mostram a verdade nua e crua, familias perfeitas só mesmo na ficção acordar para essa realidade dói.
Esperei muito que ela me enxergasse, queria ouvir dela as palavras vai passar, estou aqui, fique firme, eu não vou permitir que ele faça isso vom você, eu realmente não entendo como ela não enxergou o que o meu coroa fazia comigo. Pior que as agressões físicas foram as psicológicas ao longo dos anos, elas me derrubaram e eu não aceitei ficar no chão, eu superei, apanhar fisicamente é algo que por mais cruel que possa parecer é adaptável, minha alma nunca estava lá quando isso acontecia, toda vez que eu sentia que seria levado para um lugar ruim eu abstraia, saia daquele lugar e me preservava, pensava em outra coisa, lembrava que eu era melhor que o meu pai e que ele era um velho,  iria cansar rápido, justifiquei e acatei ser tratado por ele dessa forma, ser chamado de gordo, merda, de burro, de delinquente, isso não me afetava mais, doeu muito, mas não dói mais, não tenho ódio do meu pai, consigo entender quem ele é e por entender isso tenho pena do ser humano que ele se tornou.
Talvez por ter passado calado por tanta coisa eu entenda o Jae, e por isso eu queira tanto ajudar, mas quero que ele desperte para a verdade, só assim ele vai seguir em frente, quero que ele esqueça sua mãe, as escolhas dela, nem todos nasceram para ser pais, digo e repito, não é vergonha admitir o fracasso na maternidade ou paternidade, nem todos estão prontos para se doar sem querer nada em troca, sem querer cobrar nada. Evito de falar com o Jae sobre mim, porque o sinto tão sobrecarregado que prefiro deixar tudo a meu respeito em segundo plano, assim ele continuará imaginando que eu sou só aquele Sehun, e toda a minha complexidade por enquanto ficará preservada, um dia gostaria que ele me conhecesse de verdade,mas penso e se ele não gostar de quem eu sou?
  Mas, isso é relativo, essa máscara que decidi usar é cansativa, pois sou sempre subestimado, até na escola, sempre acham que as minhas notas são falsas, que eu sou trapaceiro, mas sou melhor hoje, todas as marcas da vida só me fizeram entender que isso é um processo e mais cedo ou mais tarde todas as feridas se tornarão cicatrizes e elas estarão lá para nos lembrar de que foi difícil mas seguimos em frente, não preciso de ninguém, não posso esperar que as outras pessoas me notem, devido a isso aprendi a estar por conta própria afetiva e emocionalmente falando. Por isso preciso estar lá para o Jae, para que ele não sinta dor sozinho, se for preciso sofro por ele para não deixar que ele sofra mais, isso tudo está me incomodando demais, o sr. Park me incomoda demais, seu passado, sua covardia, seu amor confuso pelo Jae, o que mais o Jae precisa fazer para chamar a atenção dele? O quanto mais ele precisa sofrer para ser tomado nos braços e acalentado? Pro Jae dá tempo, ele grita por socorro, ele é muito forte e frágil, seus olhos demonstram isso diariamente diferente de mim, que me entreguei e aceitei que a vida é repleta de gente escrota e que destino é a desculpa preferida dos covardes.