O Diálogo

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Após uma madrugada acordado com receio de voltar a dormir e ter outro pesadelo, passei a noite toda com  milhões de pensamentos que incessantemente passaram pela minha cabeça e me deixaram bem aflito, por algum tempo eu até tentei meditar, mas fracassei nessa tentativa, eu me esforcei muito, eu queria aprender a  me manter em um estado mental de total vazio. Dizem que a meditação é muito boa para quem tem crises de ansiedade ou pensamentos recorrentes, só que eu não consigo parar de pensar, e por mais que eu tente eu não consigo me livrar dos meus pensamentos e dos meus pesadelos, sempre os escondi do meu coroa, acho que porque a gente era muito distante um do outro. Nas nossas outras casas os nossos quartos não eram tão próximos, acho que por isso ele achava que meus pesadelos tivessem acabado, eu tinha muitos quando criança, isso foi o que o meu velho disse, sinceramente eu não me lembro muito deles, mas agora nossos quartos são extremamente próximos e as paredes mais finas o que significa que ao sinal do menor barulho que seja a gente consegue escutar o movimento do quarto vizinho. O fato é de que talvez pelo estresse de querer descobrir mais sobre o meu passado meu subconsciente está se abrindo e devolvendo as memórias que foram por mim escondidas. Acredito que esses sonhos não sejam nada além das minhas memórias, mas eu estou ficando fisicamente exausto, tenso e estressado com essa situação.  Pelo menos quando eu durmo com o Sehun se eu tenho um pesadelo ele está lá pra me ajudar a tentar me acalmar e dormir, mas eu não posso arrastar ele para esse inferno muito menos forçá-lo a dormir aqui, sei que ele não pensaria duas vezes e viria, ele é um namorado incrível, dedicado e muito amoroso, às vezes me pergunto se eu ter me deixado envolver por ele e ter me apaixonado foi uma boa escolha, tenho medo de fazer ele infeliz, principalmente porque eu sempre destruo tudo ao meu redor, uma vez a In Nayeon  me disse que eu era uma granada sem pino, pronto para explodir a qualquer momento, que eu era tão revoltado e inconformado com a minha vida que eu era um perigo não apenas para mim mas para todos ao meu redor, e ela estava certa, mas naquela época eu não havia entendido a correlação, agora eu consigo perfeitamente entender o que ela falou, mais do que nunca acho que eu estou a ponto de explodir, pois por dentro estou me implodindo há anos, a qualquer momento posso desmoronar se vez.
Ahhhhh, mais uma vez tô eu aqui pensando na merda da minha vida, às vezes penso se não seria mais fácil acabar com tudo, desistir e por um ponto final na minha trajetória, tenho certeza de que todos ficariam melhores sem mim, talvez eles até fiquem tristes por um tempo, mas logo eles iriam superar e seguiriam em frente, o grande problema é que eu sou muito apegado a vida, já comecei tudo errado mesmo, se for pensar em religião, ah, já estou no inferno, condenado só por gostar de homens, por não ser heterossexual. Não me encaixo na sociedade, mas quer saber quero que eles se fodam! Todos eles e suas vidas hipócritas, todos tem seu lado obscuro, todos tem seus esqueletos no armário, seus segredos, quantos vivem vidas de aparência, quantos pervertidos escondidos atrás de biblias, de fachadas, quantos gays nos armários vivendo inverdades, sendo uma versão medíocre do que poderia ser a sua vida só para se encaixar nos padrões dessa sociedade de merda.
Ahhhhh, que merda, já estou eu novamente divagando sobre a existência e sobre a bosta de sociedade que é construída encima de preceitos retrógrados, irreais com a nossa sociedade atual, talvez essas regras e moralismo teriam sido até atuais a uma era atrás mas não agora, enquanto a tecnologia e a informação evoluem diariamente com suas tecnologias que vem a conectar o mundo, aproximar a todos o pensamento moral e ético continua distorcido, corrompido por dogmas religiosos, por falsos religiosos, por moralistas escondidos em sua fachada patriarcal religiosa. Essa sociedade de merda se acha no direito de se meter embaixo dos lençóis alheios, apontando certos e errados apenas pelo fato de serem um bando de fantoches, não tentam experienciar nada, vivem a base de um medo de algo que nem sequer sabemos se existe, uma cambada de mal fodidos isso é o que são, realmente estou proximo de colapsar, não consigo parar de pensar.
Tenho péssimas lembranças da última vez que estive assim fiz muita merda, mas agora tenho o Sehun, por ele tenho que controlar meus instintos destrutivos.
Respiro fundo e decido tomar um banho, encho a banheira e fico lá por um bom tempo, as vezes afundo meu corpo embaixo da água, odeio estar debaixo d'água, quase morri afogado, sempre que faço isso sinto que esse poderia ser o meu fim, lá atrás se o meu coroa não tivesse me salvado, era o que a minha mãe queria, será que ela estava certa? Talvez eu teria vivido uma vida curta e feliz, porque tudo que passei até agora foram momentos que eu gostaria de esquecer, de tudo somente o meu coroa e o Sehun me fazem ainda querer ficar. Saio de baixo d'água com o coração disparado,  é louca a adrenalina da sensação de morte eminente, mas não morrerei agora, ainda não, quem sabe em uma próxima vez.
Saio da banheira e me arrumo para ir pra o colégio, hoje estou em meio de uma crise existencial, meus sentimentos estão confusos, tem dias que me sinto um lixo, outros que realmente acredito que eu seja um.
Me olho no espelho e vejo que estou péssimo, passo um pouco de maquiagem no rosto, preciso disfarçar as olheiras que estão bem evidentes depois de uma noite sem sono, não quero que o Segun e o meu coroa se preocupem comigo. Passo uma base e um corretivo, não gosto muito de passar maquiagem pois fico ainda mais feminino mas a verdade é que fico foda demais, já que não tenho pelos no rosto muito menos espinhas, eu cuido muito bem da minha pele, faço skincare sempre que posso. Termino a maquiagem e na minha cabeça só está o fato de que tenho que encarar mais uma semana, tenho que atuar bastante para aturar aqueles alunos de merda e seus dramas superficiais, fingir que sou legal, que tenho interesse no que eles dizem, pro inferno com eles. Haja saco para conviver com quem não tem o mínimo de noção de que a vida não é só estudos e festa, que se fodam em sua superficialidade. Tem dias que eu não quero fingir sociabilidade, hoje quero apenas passar por todos e não ser notado por ninguém, afinal de contas a maioria dos seres humanos não presta pra porra nenhuma mesmo, em sua grande maioria são um grande desperdiço de oxigênio.
Desço as escadas e meu coroa está na cozinha ainda de pijama, olho para o meu relógio e estou uma hora adiantado. Meu velho se assusta ao me ver

Arriscando Tudo Book 1Where stories live. Discover now