Capítulo 50 - Alasca

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Depois que descemos do ônibus, fomos para um restaurante. A viajem demorou um pouco por conta do transito ao chegar na cidade.

- Acho que teremos um dia inteiro juntos - Nathan diz, enquanto atravessamos a rua.

- Que pena, professor - digo, provocando-o.

- Acho que pode me chamar pelo meu nome, senhorita - ele diz, perto de minha orelha.

- Como desejar - digo, sorrindo e rindo quando seus lábios tocam minha orelha – Desculpa, tenho cócegas - consigo dizer.

- Tudo bem - ele diz rindo – Bom, onde quer comer?

- Podemos comer em qualquer lugar, não ligo muito.

Começamos a andar e procurar algum lugar para comer. Mas a maioria estava lotado por ser dia de sábado. Nathan estava calado e parecia aproveitar a vista, mas eu... eu estava tentando entender o que estava havendo comigo. Essa sensação de barganha, como se eu pudesse ter feito algo diferente, diferente de agora.

A sensação de que... o luto, está querendo ou não passando. Mas, ao mesmo tempo eu penso em como poderia ter sido se eu tivesse feito alguma coisa.

- Podemos comer aqui - ouço Nathan falar.

Quando meus olhos vão a fachada do restaurante, todas minhas memórias voltam à tona. A briga com Liam, Benjamin e Cásper, meus pais... tudo.

- Alasca? - Nathan toca em meu braço, me despertando.

- Oi! Claro, claro. Pode ser aqui - digo engolindo em seco.

Entramos no restaurante e nos sentamos em uma das mesas no centro. Minhas mãos estavam tremendo e eu estava soando frio. Porque isso agora?

- Com licença, o casal irá querer o que? - o garçom pergunta, se aproximando da mesa.

- Não somos um casal - digo rapidamente, olhando para minhas mãos. Nathan olha para mim, e desvia o olhar.

- Claro, perdão - o garçom diz.

- Tudo bem. Bom, eu ire querer o prato da casa, e você, Alasca? - ele pergunta, olhando para mim.

- Algo para beber?

- Água - respondo.

- Pode ser suco - Nathan diz, não tirando os olhos de mim.

O garçom se retira de nossa mesa, e Nathan coloca suas mãos em cima da mesa me encarando.

- Aconteceu algo? - ele pergunta.

- Só, estou pensando demais - digo, sem querer prolongar o assunto.

Quando nossa comida chega, começo a comer e tentar ao máximo não dar brecha para assuntos. Nathan parecia entender que eu não queria conversar, então não disse nada. E quando dei minha última garfada, bebi todo copo de água, eu estava com a garganta oscilando, e minha respiração voltara a ficar desregulada. Eu não conseguia entender porque essas sensações aconteciam do nada. Eu estava feliz a horas atrás, e agora... eu só quero ficar sozinha.

- Quero ir embora - digo, me levantando.

Saio do restaurante o mais rápido possível, o ar finalmente havia voltado, mas, eu queria ficar sozinha. Depois de uns minutos, Nathan sai correndo e vem até mim.

- O que aconteceu? - ele pergunta, tentando pegar em minha mão.

Eu não conseguia falar, comecei a olhar para um lado e para outro, até que vi um homem de jaqueta preta e, tatuagens.

- Cásper! - corro até o homem parado, mas quando toco- o, e o mesmo se vira, a decepção vem. O homem me olha como se eu fosse uma maluca e volta andar. Nathan pega em meus braços e diz:

- Alasca, quem é... - ele tenta falar, mas eu o interrompo.

- Casa, quero ir pra casa - digo sem olha-lo.

- Tudo bem. Vamos pegar um táxi e vamos.

O silêncio é umas de piores formas de castigo. Quando você ama uma pessoa, e ela para de falar com você, é como se uma praga caísse sobre você, impedindo de amar aquela pessoa, não podendo dizer e fazer nada, a não sentir o peso do silêncio.

Não faço a mínima ideia do que está acontecendo comigo, essa sensação de vazio... como se batessem e só pudessem ouvir o vazio, o eco que faz ao tentar ouvir a vida que há dentro de mim. Ás vezes você fica feliz, e depois o aperto volta. Um vai e vem cansativo e sem saída.

- Chegamos - ouço Nathan dizer.

Desço do carro, e ando até a porta de minha casa. Nathan vem atrás de mim, como se quisesse perguntar alguma coisa, mas meu silêncio o impedisse.

Quando a porta se abre, olho para ele com uma expressão cansada.

- Pode ir embora - digo ao mesmo.

- Queria ficar para...

- Não. Eu quero ficar sozinha - digo, com a voz embargada.

- Tudo bem. Até segunda-feira - quando o mesmo termina de dizer, entro dentro de casa, batendo a porta com força.

O choro veio até minha garganta, e coloquei a mão em minha boca. A dor era insuportável, o vazio parecia ser eterno. O choro, a dor, tudo estava sendo colocado para fora. Eu só queria, viver, pedir para parar de doer. Nunca pensei que o luto seria tão difícil de superar. Ou talvez, fosse o medo dos sentimentos que eu estava sentindo ao estar... com Nathan.

Eu não fazia ideia. Mas, eu estava com saudades dele. Saudades de nossas brigas, discussões bestas, por motivos bestas, olhares tristes ao estarem separados, mas brilhantes ao se encontrarem. Suas mãos quando tocavam as minhas sem querer, sua voz quando era sarcástico. Seus olhos verdes... ah, seus olhos verdes eram a chave para algo novo. Mesmo que estivesse... mortos, aqueles olhos sempre brilhavam.

Minhas pernas começam a andar pela casa vazia, e decido subir as escadas para poder ir pro quarto. Mas, quando seguro no corrimão, lembro do meu bebê. Nunca irei conseguir... nunca. Eu matei o nosso filho, e ele nunca vai me perdoar por isso, eu, nunca vou me perdoar por isso.

Sem sucesso de conseguir chegar até o quarto, sento em um dos degraus da escada, segurando firme no corrimão.

- Me perdoa... - digo em sussurro. 

Be Free - você vive em mimWhere stories live. Discover now