Capítulo 66 - Alasca

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Outubro. Um mês havia se passado desde a descoberta da vida de Nathan. Depois que sai da casa dele não falei mais com ele, e toda vez que me permitia pensar a onde ele poderia estar, eu mandava minha mente para outro lugar que não fosse possível pensar em seu suposto reencontro com Alexandra; Victória alega que ele está aqui na cidade, e que apesar de não ter contado a ela a verdade, ela deixou de lado porque entendeu o irmão.

- Fico feliz que tenha voltado, Ala - ouço a voz de Victória e logo em seguida suas mãos em meus ombros.

- Se eu reprovar, posso ter certeza que eu mesma estraguei minha vida.

- Não vai ser reprovada, o professor protege você com garras e dentes. Nossa matéria está ficando maravilhosa, suas fotos são magnificas.

- Liam disse que já podemos fechar a matéria desse hospital - digo respirando fundo enquanto tentava comer uma maçã.

- Hm, verdade - Victória fala com boca cheia de pasta de amendoim, o que me faz dar uma risada discreta.

- Vamos ficar com aquele hospital no fim do mundo? - ela pergunta rindo também.

- Vamos. Ninguém quis ficar com ele, disseram que não tem nada de interessante.

- As pessoas não tem criatividade - ela diz bebendo água – Vamos fechar com esse hospital. E vamos fechar com a maior nota.

- Está querendo vencer a todo custo - digo mordendo mais um pedaço de maçã.

- Quero que você acabe sua faculdade com a melhor da turma, e eu quero continuar como a amiga da melhor da turma.

- Você vai acabar como a melhor matéria. Você vai ser a melhor - digo apontando para ela dando um sorriso logo em seguida.

- Nós vamos acabar como a melhor da turma - falamos juntas batendo as mãos em uníssono.

Quando chegamos ao hospital, tentamos nos despedir de todos e até mesmo dos pacientes. E eu estava a mais de uma hora parada na porta da minha "paciente", tomando coragem para me despedir dela, tomando coragem para enfrentar a verdade de que ela não iria acordar antes de eu ir embora e talvez não acordasse nunca mais. E ela só tinha dezessete anos...

Apesar de estar com raiva de Nathan, sentia falta dele me apoiando nessas situações onde nem mesmo meu cérebro conseguia raciocinar. Ás vezes a raiva é maior do que qualquer outra coisa, e ás vezes... o amor é maior que qualquer morte. Besta. Era assim que eu me sentia em relação a ele, porque eu sei que gosto dele, mas amar? Eu não sabia; mas também não sabia do porque eu ter essa dúvida, já que eu não sentia mais culpa em me relacionar com outra pessoa. E talvez... pela primeira vez, eu não estivesse comparando meus sentimentos por alguém que está morto e assim vai continuar.

- Estou vendo você aí faz mais de uma hora - uma voz masculina me chama, me fazendo parar de pensar.

- Estou tomando coragem para entrar - digo me virando para olhar Liam. Eu não sabia dizer ao certo, mas fazia muito tempo que eu não tinha uma conversa com ele, tudo estava dando errado, o que fez a gente se afastar.

- Não sei o que falar - ele diz colocando as mãos no bolso. Liam estava diferente, tinha deixado a barba crescer e os cabelos também.

- Ela não vai acordar - digo mais para mim mesma, do que para ele – Eu prefiro pensar assim, do que criar alguma expectativa, nem mesmo a família dela tem.

- Você não é família dela, Ala. Pode ter esperanças.

- Não, Liam. Eu sou a família dela, eu fiquei mais tempo com ela do que qualquer outra pessoa, eu que fiquei do lado dela quando a família não podia. Ela não deu um passo que signifique uma melhora.

- Nathan não está certo em tudo - ele diz.

- Não é sobre ele. É sobre ela - digo apontando para a porta a minha frente - Ele é médico, e ele falou para mim como médico que talvez ela não acordasse, e eu entendi como um familiar e não como a possível namorada dele.

- Ele foi seu namorado. Não possível namorado.

- Que diferença faz - digo apertando os braços ao redor do corpo.

- Ala, eu percebi como você se sentia em relação a ele, sei que tentou amar ele, e sei que querendo ou não conseguiu - Liam estava tentando não ser indelicado, e pareceu querer tentar fazer nossa amizade voltar a ser como antes - E também sei que você não se sente mais culpada por ter amado ele, porque talvez esteja parando de amar quem você mais temia esquecer.

Dou uma risada olhando para baixo, e finalmente o olho.

- Engraçado pensar que eu queria vir apenas para estudar, não pensei que minha vida fosse se tornar um avião sem asas.

- Você acha que é um avião sem asas, mas eu acho que é um avião passando por turbulência - dou risada de sua analogia, que apesar de tola, fazia total sentido.

- Vou entrar para o livro dos recordes. A maior turbulência já enfrentada - digo levantando as mãos e fazendo um semicírculo como se o título fosse aparecer entre elas.

- Pegou o senso de humor dele - dei um sorriso para meu amigo. Eu sabia de quem ele falava, e fiquei feliz por ter algo dele presente comigo que não fosse material.

- Quer entrar comigo? - pergunto estendendo a mão para Liam.

- Seria um prazer - ele diz segurando-a de volta.

Minhas mãos quentes vão de encontro a maçaneta gelada, e quando vejo aquela garota na cama meu coração se aperta, e aperto mais forte a mão de Liam, como se fosse minha garantia de permanência no mundo real. Como se aquilo fosse o suficiente para não desabar.

- Pegaram tudo? – Victória pergunta, enquanto fechava a sala de descanso.

- Sim - Liam avisa, colocando a mochila nas costas.

- Eu também, mas quero passar na cafeteria. Preciso de um café extra- forte.

- E eu quero pão de queijo - Victória diz animada.

- Eu pago então - Liam fala, passando pela gente.

Victória olha para mim e logo depois para ele que já estava no final do corredor.

- Ele também foi dar apoio para você - ela pergunta querendo rir. Victória havia me contado a conversa nada agradável que teve com Liam no dia que sai do hospital, e eu sabia que alguma hora ou outra ele iria falar com ela como uma pessoa normal.

- Sim - digo segurando a risada também.

- Pelo menos vou ganhar comida de graça.

Be Free - você vive em mimWhere stories live. Discover now