Capítulo 6 - Alasca

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Às vezes precisamos tentar recomeçar, e como dizem, é mais fácil falar do que fazer. Sempre falamos que precisamos ir à academia, mudar o visual, aprender uma língua nova ou até mesmo chegar no crush da escola, fazemos ensaios em frente ao espelho, falamos com paredes, colocamos nossa melhor roupa e achamos que tudo vai dar certo, mas não. Quando chega a hora, você dorme até tarde e esquece a academia, chega no cabelereiro e pede só para cortar as pontas, vai assistir sua série favorita, em vez de coloca-la, em inglês, coloca em português já que está com preguiça de ler a legenda, e na hora que vai falar com o crush, você muda o assunto na hora e todos aqueles ensaios na frente do espelho foram em vão.

Mudar não é tão fácil quanto parece ser, precisa-se de tempo e pratica. Todos os dias são difíceis, e não sei lidar com eles sem gritar com alguém ou chorar a noite. Não sei lidar com despedidas, muito menos com idas sem voltas, e isso é um grande erro. Eu sei que meu pai e minha mãe estavam certos na hora que disseram que eu não podia parar minha vida, mas só preciso de um sinal, apenas um sinal de que ele está morto, e não em outro lugar.

Quero ter certeza para que eu possa continuar minha vida, mesmo que doa e machuque, preciso que tudo tenha se resolvido por completo.

- Chegamos - meus pensamentos se desligam, quando ouço a voz de Victória.

- Olá - digo a mesma.

- Vamos? - pergunta Liam.

- Sim, claro - digo distraída - entramos no carro, e logo partimos para a faculdade.

- Você conseguiu descansar Ala? - pergunta Victória.

- Sim, mas preciso marcar uma consulta de ultrassom - aviso a mesma.

- Podemos fazer isso, e depois ir no shopping, preciso ver algumas coisas - a mesma diz.

- Que coisas? - pergunta Liam, ciumento.

- Depilação, essas coisas seu bobinho. Sem contar que Alasca vai comigo - a mesma diz, e olha para mim pelo retrovisor. Já entendi, ela quer falar sobre o pedido de namoro.

- Vocês estão a esconder algo de mim? - pergunta Liam desconfiado.

- Não né Liam, se estivéssemos escondendo você saberia, Victória é péssima em segredos, né Vic? - digo olhando para a mesma, que segura a risada.

- Cla-Claro, Alasca é outra que não sabe ficar de boca fechada - Victória gagueja e começa a dar risada

- Vocês são loucas - diz Liam rindo junto com a gente. O resto do caminho foi tranquilo, conversamos um pouco sobre a faculdade, e como vamos nos virar depois dela.

Quando chegamos, fomos direto para os auditórios, já que hoje todas as turmas ficariam juntas para uma palestra.

- Será que vão falar sobre as viagens de formatura? - pergunta Victória.

- Tomara, mesmo fazendo bacharelado quero uma viagem - demos risada e voltamos a prestar atenção.

- Bom dia universitários - diz o diretor. Todos nós respondemos e então o mesmo continua – Este ano será diferente de um modo geral. Como? Fácil. Eu e a equipe gestora formamos uma campanha para ajudar pessoas em coma em hospitais afastados da cidade, elas precisam de ajuda, mesmo não respondendo. Onde faremos? Misturaremos os cursos, seus professores falaram as turmas que estão juntas. Onde? Cada semestre será um hospital, serão quatro no total, e assim vão revezando, não é obrigatório, mas lembrem que contam no currículo e pontos em atividades extracurriculares.

- Será que nossas turmas ficaram juntas? - Victória pergunta baixinho.

- Acho que sim, pense comigo, jornalismo e fotografia tem muita coisa em comum - sussurro a mesma.

- Verdade, mas você vai querer fazer? – a mesma pergunta. Na verdade, eu não sabia, já que minhas expectativas vão a mil só de pensar que ele pode estar em algum deles. Mas tem tantas pessoas precisando da nossas ajuda.

- Acho que sim - respondo.

- Eu também - diz a mesma. Olho para Liam que até agora não disse nenhuma palavra, e estava vidrado no celular. Victória olha para mim, como se soubesse o que estou pensando e se vira novamente para o palco onde o diretor falava.

As pessoas precisam de privacidade. Mas será que merecem ela, quando mentem sobre algo, ou não contam a verdade? Talvez não. Já que estão fazendo isso para um bem próprio, mas que machuca outras pessoas.

Eu menti muitas vezes para meus pais, mas eram mentiras bobas, como, não fiz a lição de casa, não estudei. Mas isso não se compara a uma traição ou qualquer outra coisa do tipo. São esses assuntos aleatórios que ocupam a minha cabeça metade do tempo. Me fazendo pensar menos em idas sem voltas, e coisas do tipo. Metade das coisas que passam pela minha cabeça são em relação a ele. E isso me preocupa, já que os pesadelos estão menos frequentes, e tenho medo de esquecer seu rosto, sua voz, seus costumes, tudo. É algo avassalador e assustador, como se meu coração batesse por ele, e só está assim porque ele está vivo, em algum lugar ele está, só preciso achar. Dar um jeito de achar pelo menos seu corpo. É algo que preciso fazer tanto para eu, como para ele ficarmos tranquilos. 

Be Free - você vive em mimWhere stories live. Discover now