Capítulo 31 - Alasca

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2° Sessão 

Terça feira. A chuva ainda cai, e está mais forte que ontem, e parece que será assim até o fim da tarde. Apesar de tudo, minha cicatrização já está quase perfeita, mais alguns dias e já posso voltar para a faculdade, e estou bastante nervosa.

A noite foi tranquila, os remédios me dão sono, e isso me ajuda bastante a relaxar. Mas não sei como vai ser quando parar de toma-los.

Como não tinha ninguém em casa, tomo um banho e aproveito para lavar o cabelo. Mas ao me olhar no espelho, vejo que este cabelo não representa mais quem eu sou, nada aqui dentro representa quem eu sou.

Termino e meu banho, e visto uma calça jeans, pego minha blusa frio, e minha bolsa. Desço as escadas e preparo um café com leite e torrada. Me sento, e mexo um pouco no celular, vejo os trabalhos que preciso fazer, e anoto tudo na agenda do celular. Fico passando algumas fotos, até que me deparo com uma foto nossa.

Estávamos na aula prática, semanas antes de brigarmos. Ele estava tão feliz... eu, estava feliz. Seu cabelo estava crescendo naquela época, agora deveria estar enorme. Suas tatuagens estavam cobertas por um casaco preto do Nirvana. Ele ficava lindo com aquele moletom.

Desligo o celular e paro de pensar coisas banais. Pego um guarda-chuva e confiro se as chaves estão comigo. Saio de casa trancando a porta, e decido ir a pé novamente.

Estou com medo que essas sessões não resultem em nada, e que talvez eu viva assim para sempre. Mas vou dar o meu melhor, mesmo que doa, machuque, me faça ficar no fundo do poço, eu vou ser forte por nós três. Mesmo que eu tenha que desistir de lutar por um no meio do caminho.

Chego na recepção, e me dão acesso normalmente. Pego o elevador, e vejo se a alguém para entrar, como não vi ninguém deixei a porta fechar. O elevador era espelhado, então conseguíamos nos ver.

Eu estava nervosa, e como costumava fazer, olho meu reflexo no espelho... mas ele está junto comigo. Nossas mãos estão juntas, igual no dia da briga. Minha respiração acelera, e fecho os olhos, e quando abro novamente, não tinha mais nada lá.

Chego na porta, a bato na mesma. A mesma diz para entrar e eu entro.

- Bom dia, Ala - ela diz, e vem até mim me abraçar.

Dou um sorriso em sinal de resposta e vou em direção ao sofá. Coloco meu guarda- chuva pendurado em um local para sair o resto de água e minha bolsa ponho no chão.

- Tudo bem com você? - ela pergunta, e pega os blocos de papel junto a uma caneta.

Pego eles, e deito no sofá, pensando no que escrever.

- O que fez ontem? Depois que saiu daqui? - ela pergunta.

Escrevo em uma das folhas "trabalhos da faculdade". E então ponho a folha no chão.

- Entendi, normalmente você gritaria comigo ou sairia daqui zangada. Nunca pensei que estaria em casa, fazendo trabalhos da faculdade - ela diz.

Começo escrever na folha, e o que consigo dizer é "eu também não sei porque fiz isso, talvez eu esteja cansada da gritaria".

- Hm, isso é um grande avanço interno Alasca. Talvez você queira sair do fundo do poço - a mesma diz, e cruza as pernas.

"Como você sabe que estou no fundo do poço?". Escrevo e mostro a ela.

- Porque eu já estive nele. E sei que não é fácil sair, quando se está a muito tempo - ela responde.

"Não sei o que dizer a você, sinceramente". Digo a ela, e a mesma ri

- Porque não está falando nada? Está com medo? - ela pergunta.

"Não tenho nada a falar no momento. E sim, estou com medo, medo de falar e desabafar de um jeito incontrolável".

- Talvez, você precise Ala. Não tenha medo de demonstrar isso, demonstre e sinta o que tiver para sentir. E talvez você tenha palavras a dizer a mim e as pessoas que te amam - ela diz isso, e cruza as pernas.

"Essas plaquinhas são chatas, e não quero conversar sobre isso". Escrevo e mostro a ela.

- Você já quer parar? - ela pergunta, com um tom meio surpreso.

"Quero, e agora". Digo curta e grossa.

- Tudo bem. Foi um grande passo, daqui a pouco você vai estar chorando, e não quero rir da sua cara, porque sabe que estou certa - ela diz, sarcástica.

"Cala sua boca. Não é porque não estou falando nem sentindo nada, que vou ser legal com você, e você tem a idade do meu pai, então... " Digo com vontade de rir.

- Eu tenho 55 anos mocinha, e não fale isso para ninguém - ela diz e ri.

"Ok".

Levanto do sofá, e arrumo meus cabelos, pego meu guarda- chuva e minha bolsa. A mesma me leva até a porta e diz:

- Até amanhã Ala.

Volto rapidamente, e pego o papel e uma caneta e escrevo. "Me fala seu nome, odeio te chamar formalmente".

- Tudo bem. Pode me chamar de senhora Monique - a mesma diz.

Dou um sorriso a ela, e saio da sala.

Vou em direção ao elevador, e espero o mesmo chegar no meu andar. Confesso que fiquei receosa depois do que aconteceu. Eu sinceramente não sei se quero lembrar dele, lembrar de seu toque ou de qualquer outra coisa sobre ele. 

Be Free - você vive em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora