Capítulo 57 - Alasca

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As férias estavam indo bem, meus pais estavam em casa e sempre fazíamos algo diferente. Talvez fossem as férias mais longas que tive durante a minha vida toda, mas foram as mais divertidas. Passar este tempo com meus pais foi... diferente, mais para bem do que para mal.

Depois daquilo que aconteceu no apartamento de Nathan, nunca mais nos falamos, Victória disse que ele foi para casa dos pais, mas que contou a ela tudo que aconteceu, e depois eu disse tudo a ela. Ela disse que ele tem coisas que não conta, mais quando ele quisesse contaria tudo a mim, mesmo eu não querendo olhar na cara dele. Mas Victória do jeito que é, deu uma bronca em nós dois, por sermos complicados e burros. Dou risada, porque ela foi a minha única amiga aqui, e sempre me ajuda e fica do meu lado.

Ela e Liam são dois pamonhas, brigam, gritam, beijam, dormem juntos, mas nada de falar sobre o que verdadeiramente interessa ao dois.

Hoje estava pensando em ir ao parque, sozinha mesmo. Ou até mesmo no cemitério, já que amanhã faz meses desde que ele morreu, e seis meses desde que meu bebê se foi também. E a única coisa que estava sentido era saudade, muita saudade. Nathan estava certo, uma hora a dor passa, restando apenas saudades. Talvez era o que ele queria, me ajudar e depois ir embora.

- Onde vai, filha? - meu pai pergunta, enquanto termina de ver uns papéis.

- Vou ao parque, o senhor quer alguma coisa? - pergunto, vendo como meu pai também parecia mais feliz.

- Não, pode ir - ele diz, voltando a prestar atenção nos papeis – É com o seu amigo, que vais sair?

- Não. E ele não é meu amigo - digo, pensando se éramos alguma coisa a não ser colegas.

- Tudo bem. Não chegue tarde.

Como o parque era longe de casa, decido pegar um ônibus, e penso seriamente em tirar a carteira de habilitação. Gastar dinheiro toda vez é muito ruim, mas a gasolina também. Chego ao parque e vou direto para sombras das arvores.

Eu nunca tive momentos assim com Cásper, essa paz, esse mar calmo por alguns minutos. Ou tivemos e não soubemos aproveitar, mas algo que nunca vou me esquecer, é o que ele disse para mim segundos antes de eu dormir em seus braços "te deixarei livre". A única coisa que ele me pediu, foi para nunca olhar para trás, pediu para que eu fosse feliz, e que não chorasse por alguém que não merece a metade do que eu sou. Ele sempre se importou comigo, apenas nunca conseguiu demonstrar.

Com Nathan é tudo diferente, com ele eu dei risada, sai para passeios, mas, nada se compara. Não ficar comparando as pessoas em minha vida, não com ele. Preciso amar o que elas são, não o que possam se tornar. E quando penso nesse sentimento com Nathan, ele age... diferente. E não sei se posso tolerar mais brigas sem fim, ou perder tempo não falando meus sentimentos.

E se gosto mesmo dele... se tenho certeza desse sentimento dentro de mim, eu falarei, mesmo que isso faça a gente se afastar, faça com que achemos ruim um para o outro. Não posso mais guardar sentimento, preciso extravasa-los e dizer o que sinto. Seja para qualquer pessoa. Guardei tanto tempo o amor, que o perdi, fingi não ver o luto em minha frente e fiquei maluca. E senti-lo depois, é a pior coisa que alguém pode fazer a si mesmo.

Talvez ele tenha aparecido para que esse sentimento se, ascende-se novamente. E se ele conseguiu isso, foda-se o resto. Cásper foi a única pessoa que me mostrou a verdade do que é amar outra pessoa mais do que a si mesmo, e morreu para que eu não visse ele se afundar. Então farei de tudo para não afundar também.

Ele me deu a felicidade do que era ser uma mamãe, mas eu me perdi e deixei que acontecesse a mesma coisa com o meu bebê. Eu sempre teria uma parte dele, mas eu queria ele por inteiro, e não me agarrei a esperança. E se de alguma forma, meu filho foi uma aprendizagem em minha vida, ele me ensinou a sempre dar valor ao agora, ao momento, não que poderia ser ou o que não foi. Meses com essa dor no peito, hoje enxergo a verdade por trás de tudo. Lições, é sobre o que é a vida, lições.

Igual a chuva que começara a cair sobre mim, ver as pessoas correndo para debaixo dos pontos de ônibus, ouvir crianças chorando, e até mesmo os pais brigando por estarem brincando na chuva. O engraçado é que você começa a enxergar a verdadeira realidade, quando é obrigada a sair dela.

A chuva não era um lembrete ruim sobre aquele dia, não era uma forma de me punir. Era uma forma de demonstrar que eu ainda estava viva, ainda podia sentir. A chuva caia forte demais, e eu já estava vendo meu resfriado. Mas pegar chuva não era algo que eu fazia com frequência, então aproveitaria até a última gota que fosse oferecida.

Descido levantar do banco no qual eu estava sentada, e andar pelo parque, que agora estava vazio. Confesso que estava com frio, mas ficaria andando até que eu tivesse certeza do que estava pensando. Meus cabelos encharcados grudavam em meu pescoço e tinha minhas dúvidas se meu celular ainda estaria vivo. Quanto mais eu andava, menos pessoas eu via. Todas correndo, desesperadas para não se molharem. Dou risada disso, já que eu sou a única doida naquela tempestade. Ou pelo menos, era, até ver uma pessoa encostada em uma árvore.

Passo normalmente, esperando que não falasse comigo. Mas não é o que acontece.

- Alasca? - minha respiração para naquele momento.

Eu conhecia aquela voz, era quase impossível não reconhecer. 

Be Free - você vive em mimWhere stories live. Discover now