Capítulo 32 - Alasca

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3° Sessão 

Quarta feira. Hoje o Sol resolveu sair, está garoando mas acho que daqui algumas horas o Sol vai tomar conta. A noite passada foi um pouco mais difícil, o tempo todo fiquei imaginando o que aconteceu no elevador.

Hoje Victória passou aqui no quarto, e perguntou se precisava de sua ajuda. Ela falou sobre como estão sendo as visitas no hospital e diz que falta eu para ficar melhor. Ela e Liam ainda não se resolveram, mas espero que isso aconteça logo.

Como eu já havia tomado banho, só pego minhas coisas e desço para tomar café. E então vejo minha mãe sentada à mesa, provavelmente terminando algo. Vou até a geladeira, e pego minha garrafa de água, e coloco na mochila. Vou tomar café em outro lugar hoje, não estou atrasada mesmo.

- Ah, não vi você querida. Bom dia - ela diz, e me lança um sorriso falso.

Não digo nada, e pego minhas chaves.

- Alasca, volte aqui - ela diz mais rígida.

Paro ao lado do sofá, e me viro para ela.

- Vai ficar nessa frescura até quando? Seu pai está fazendo de tudo por você, e eu também! - ela diz alterada.

Dou uma risada sarcástica e saio batendo a porta. Hoje resolvi pegar um ônibus, talvez me ajude mais na socialização que não estou tendo ultimamente.

Cada farol que passávamos, era algo a ser enfrentado. Pelo menos em minha mente.

Chego no prédio, e nem ligo mais para recepção. Decido pegar o elevador e vejo que um rapaz está vindo também, então decidi esperar.

- Obrigada - ele diz, com a respiração acelerada.

Dou um sorriso para ele, e fico esperando a porta fechar. O mesmo moço que entrou sai, e só fica eu entro do enorme elevador. Olho para o espelho novamente, e ele aparece... é algo estranho, ele não tinha expressão nenhuma e não parecia feliz ao me olhar.

O elevador chega ao meu andar, e eu esqueço o que ouve ali. Bato na porta, e a mesma pede para eu entrar.

- Olá, bom dia Ala - ela diz sorrindo, e vem até mim.

Eu queria muito responder, queria falar o que estava sentindo, mas sem desabar por inteiro. Mas com um pouco de esforço eu tentei:

- Bom dia... - digo baixo. A mesma dá um sorriso, e fecha a porta.

Vou até o sofá, e me sento nele. Hoje vou tentar falar, mesmo que sejam poucas palavras.

- Tudo bem com você? - a mesma pergunta, enquanto se senta em sua poltrona.

Respiro fundo, e tento falar. É um pouco difícil do começo, mas mesmo assim eu tento.

- Eu... eu, estou bem - digo baixo e sem olhar para seus olhos.

- Hm, isto é um avanço e tanto em. Me diga mais, o que você ontem? - ela diz, enquanto anota algo em seu caderno.

- Faculdade - digo a ela. E para me sentir mais confortável, deito em seu sofá e fico olhando para o teto.

- Se puder falar um pouquinho mais alto, ficaria feliz - a mesma diz. E pelo seu tom de voz, parece estar animada.

- Faculdade - tento dizer um pouco mais alto.

- Ah sim. Que saudades da faculdade, nem parece que faz décadas desde que sai - a mesma diz rindo.

Com o nervosismo tomando conta de meu corpo, minhas mãos ficam frias e suadas. Eu não sei o que dizer.

- Sabe de uma coisa? Já ouviu falar em... fardo? - a mesma pergunta para eu.

- Nã-não - digo gaguejando.

- Irei explicar. A mais ou menos, oito anos, eu perdi meu filho - quando a mesma diz isso. Engulo em seco, e aperto minhas mãos – Ele tinha dez anos, e sofria de câncer. Fomos em vários médios, mas já estava muito avançado e ele tinha apenas alguns meses, e isso tirando os riscos. E no dia dezessete de março de dois mil e treze, ele veio a falecer.

Quanto mas ela falava, minha garganta ia fechando, e a vontade de chorar era enorme.

- Foi... uma das piores dores que já senti, literalmente. Eu e meu esposo ficamos arrasados, e com tudo isso que havia acontecido, ele teve um ataque cardíaco e morreu na ambulância. Eu perdi as duas pessoas mais importantes no mundo para eu. Eu fiquei igual a você, não conseguia falar, respirar. Porque sabia que se eu falasse, não pararia de chorar depois.

Naquele momento, meus olhos estavam encharcados, e não sabia com reagir aquilo. Era... terrível.

- Mas com a ajuda do meu irmão, eu fui a psicóloga. Eu sei, pode parecer estranho uma psicóloga indo em outra psicóloga, mas essas coisas acontecem. E com o tempo eu fui voltando a me comunicar. Deixei-me sentir dor, porque se não deixasse, eu não conseguiria viver. A dor do luto precisa ser sentida Alasca - ela diz a mim.

- E o que isso tem haver, com o fardo? - pergunto baixinho e quase chorando.

- Eu comecei a me perguntar porque eu não fui com eles. Eu tinha medo de ir em lugares onde nós íamos, porque me sentia culpada. Então, eu encarei a realidade e fui em todos os lugares, e me diverti, mesmo sabendo de tudo que passei eu segui em frente. Não senti mais medo, então... vá nesses lugares que tem tanto medo, enfrente eles, e assim, você vai poder ficar em paz consigo mesma. E deixar eles descansarem. Porque a sua ficha ainda não caiu - ela diz isso, e levanta da sua poltrona saindo porta a fora.

Meus olhos estavam encharcados, e o teto no qual eu tanto olhava, se tornou um alvo. Eu não estava pronta para tudo isso, mas... tem uma hora certa?

Provavelmente não. Assim como você não tem uma hora certa para nascer, você não tem uma hora certa de estar pronta para viver, você precisa querer viver.

Pego minhas coisas que estavam no chão. Fico um tempo sentada naquele sofá, pensando em tantas coisas, mas ao mesmo tempo não sabendo de nada. Talvez eu precise mudar, ou talvez apenas evoluir.

Levanto rapidamente, e saio para fora da sala. Vou direto para as escadas já que seria mais rápido. O medo me toma em cada degrau, mas não deixo isso tirar minha concentração. Quando chego no hall do prédio, vejo vários taxis estacionados, vou até um deles, e tento falar.

- Oi, poderia me levar à um lugar, por favor - peço, com um tom de voz baixo.

- Claro, moça. Pode entrar - ele diz, abrindo a porta.

Entro no carro, e tento me lembrar o endereço que preciso ir. Eram apenas meio dia, e eu nem havia almoçado ainda.

- Para onde quer ir moça? - o homem pergunta, enquanto entra no carro.

- Este endereço... eu acho – digo a ele.

Ele pega o papel de minha mão, e lê o endereço. Faz uma cara, e me devolve.

- Este endereço não é onde teve um caso de suicídio? - ele pergunta, dando ré no carro.

Fico um pouco chocada, em saber que pessoas aleatórias sabem disso.

- Sim, é lá mesmo - digo olhando para fora da janela.

- Você vai fazer o que lá moça? Desculpa, mas não irei levar uma moça tão jovem lá, para fazer algo deste tipo - ele diz, e para o carro.

Dou uma risada sarcástica, e digo:

- O homem que se matou... era, era o amor da minha vida - digo, e coloco as mãos em meu rosto.

- Moça... eu sinto muito - ele diz.

- Tudo bem, só peço agora que dirija - digo um pouco abalada.

O mesmo concorda, e começa a dirigir. 

Be Free - você vive em mimWhere stories live. Discover now