Capítulo 26 - Alasca

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Eu nunca pensei um dia ser mãe. Claro que eu pensava em casar, ter filhos e poder compartilhar minha vida com eles.

Mas agora... eu não sei se terá história para contar.

Os gritos de desespero que eu ouvia eram assustadores. Eu não conseguia distinguir quem era quem, mas sabia que havia muitas pessoas. Algum tempo depois, sinto meu corpo sendo colocado em cima de algo, e meu pescoço mobilizado.

Após isso, só consigo pensar no que está acontecendo...

Eu não sabia quanto tempo havia passado, nem sabia o porquê eu estava aqui. Mas conseguia ouvir barulhos de hospital e cheiro de remédios...

Aos poucos meus olhos vão abrindo, e não vejo ninguém dentro do quarto, tento me sentar, mas sinto uma forte dor, tanto em minha barriga, como nas minhas partes intimas. Volto a deitar, e logo entra alguém. Era meu pai, Victória e Liam. O que estamos fazendo aqui?

Suas caras não eram nada boas, e meu pai estava com um olhar decepcionado.

- O que está acontecendo. Porque estão com essas caras? - pergunto ainda meio perdida, devia ser os remédios que me deram.

- Filha, precisamos conversar - meu pai diz sério. Ele fecha a porta, e vem para frente da cama.

- O que foi? - pergunto novamente.

- Victória e Liam, eles foram para casa ver como você estava, quando chegaram lá, encontraram você caída no chão, encharcada de sangue, chamaram a ambulância e imediatamente me ligaram - quando ele termina de falar, minhas mãos vão a minha cabeça, e quando a toco sinto um pouco de dor. Havia vários hematomas, e com certeza teria sido da escada.

- Ala, me desculpa - Victória diz chorando.

- Mas o que aconteceu? - pergunto novamente.

- Filha, você perdeu o seu bebê - meu pai diz.

Quando suas palavras finalmente conseguem chegar ao meu cérebro, eu sinto uma enorme dor de cabeça.

- Mas não foi a queda da escada que fez isso, Alasca. Você não estava comendo direito, e... pelo que o médico psiquiatra disse, você estava desenvolvendo estresse pós- traumático e depressão - suas palavras, em meu coração não fazia sentido, mas quando chegavam a cabeça...

- Por isso, Ala. Por isso, você estava vendo ele, você estava com medo de perde-lo novamente - Victória me diz.

Eu não conseguia dizer absolutamente nada. Minha boca não tinha palavras para descrever o vazio que estava tomando conta de mim, apenas levo minhas mãos a minha barriga, e penso "o que foi que eu fiz".

- Ala, eu sinto muito - ouço Liam dizer.

Minha cabeça continuava baixa, eu não conseguia olhar para eles. Minha cabeça que estava olhando para o teto, agora vira, e olhar para os lados. Nenhuma lágrima conseguia sair, nenhuma emoção... nada.

- Vamos sair, ela precisa ficar sozinha - meu pai diz, abrindo a porta.

- Ala, você vai ficar bem, ok? Eu vou estar aqui com você - Victória diz, e me abraça. Fecho meus olhos com bastante força, mas não consigo abraça-la de volta. Pelo menos não agora.

Eles saem do quarto, e fecham a porta. O vazio do quarto me faz ficar melhor, as luzes acesas me dão esperança de que vou ficar bem. Mas a única coisa que seria meu para sempre, seria Ravi.

Ele seria uma melhora na minha vida, e eu deixei ele ir... como se não valesse nada.

Eu fiz ele me destruir. Ele implorou para que eu ficasse bem, pediu para que eu seguisse, mas eu fiz o contrário. Cai de escadas, briguei com as pessoas, tudo isso porque minha mente achou que ele estava vivo.

Eu não sei o que é pior. Você perder um filho ou perder a si mesma.

Meu filho podia estar aqui, ele podia estar nos meus braços, ou em uma incubadora. Pelo menos estaria protegido da própria mãe.

Eu não sei como vai ser daqui para frente. Não sei se sou capaz de enfrentar tudo isso por alguém novamente. Lidar com as dores psicológicas são piores em qualquer dos sentidos. Porque, querendo ou não, elas ficam sem sua mente para sempre. Lhe fazendo lembrar de todos detalhes.

A dor que eu sentia antes, não está mais aqui. Aquela dor de incerteza, se ele iria ou não aparecer. E agora que sei que não, ela foi embora. Mas meu grãozinho foi embora, ele se foi par sempre. E não sei como lidar com isso.

Mas sei que passei horas com esses pensamentos, e como era de se esperar, um médico entra no meu quarto, acompanhado do meu pai e agora da minha mãe.

- Boa noite, senhorita Tunner - o mesmo falar comigo, mas apenas continuo olhando para o chão.

- Filha, o médico falou com você - minha mãe diz.

Para começo de conversa, nem era para ela estar aqui. Ela conseguiu o que queria, e agora deve estar feliz da vida.

- Tudo bem, senhora. Alasca, eu sou o doutor André, estarei acompanhando você até sair do hospital, e para que isso aconteça, precisarei ver seus pontos - ele diz, como se fosse algo mais normal do mundo.

- Alasca, tire as mãos da sua barriga, por favor - meu pai pede.

Eu continuo sem tirar, e então o próprio médico vai tirando, delicadamente.

O mesmo sobe meu pijama de hospital, e passa as mãos por cima dos meus pontos. Depois vai para a cabeça e tira o curativo que também continha pontos.

- Bom, está tudo certo. Daqui a pouco a enfermeira vem aqui trocar seus curativos e te dar a medicação - ele diz, e guarda sua caneta. Quando percebe que eu não irei agradecer, ele sai da sala. Me deixando sozinha com meus pais.

- Como está se sentindo? - meu pai pergunta, enquanto senta na cadeira. Já minha mãe, senta na outra poltrona, ao seu lado.

- Filha, seu pai está falando com você - minha mãe ressalta.

- Tudo bem, Alasca. Pode ficar brava com quem quiser, quebrar as coisas, igual fez da outra vez. Só não ponha a culpa na gente, a culpa foi totalmente sua! - meu pai aumenta seu tom de voz, a e aponta o dedo em minha direção.

- Seu pai está certo, querida. Então por favor, fale conosco - minha mãe pede.

Eu continuo em silêncio, e meus olhos não desgrudam do chão. Eu não tinha nada a dizer a eles, muito menos dar satisfação.

Tenho total consciência de que a culpa foi minha. E por est motivo não quero falar com ninguém. Não estou brava com ninguém, até porque Victória esteve comigo, quando nem eu mesma estava.

- Vou chamar seus amigos, talvez você fale com eles - minha mãe se levanta, e sai do quarto.

Minhas mãos voltam a minha barriga. E continuo calada, nada merecia ser falado.  

Be Free - você vive em mimWhere stories live. Discover now