Capitulo 30 - Alasca

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1° Sessão 

Segunda feira. Hoje o dia acordou chuvoso. Minha janela cheia de gotas d'água, e um cheiro de grama molhada muito bom. Me levanto com cuidado, e vou até o banheiro, tomo um banho e visto uma roupa quentinha.

Meu pai e Victória já me liberaram para tomar banho sozinha, acho que estão mais seguros.

Arrumo minha cama, e vou até a varanda abrir as janelas. Os respingos de chuva são geladinhos, o que deixa meu rosto gelado e vermelho.

Saio do quarto, e vou andando até ver a escada. O medo que eu estava de descer era um tanto que preocupante, mas então eu lembro que estou bem, e que posso fazer isso. Olho no meu celular e vejo que são oito e meia da manhã. O que significa que não tem ninguém em casa.

Desço cada degrau com muito cuidado, e quando chego no último, uma onda de alivio me toma.

Vou até a cozinha, e preparo pão com queijo e suco de melancia. Espero que possa tomar isso. Como devagar e sem pressa, e quando termino subo novamente para escovar os dentes.

Saio de casa, e em vez de ir de taxi ou ônibus, eu decido ir a pé. Talvez meu pai brigue comigo se descobrir, mas eu preciso ter certeza que estou preparada. Cada esquina, cada rua, cada semáforo, me faziam perceber o quão... doente eu estava. Chegar a este ponto, nunca me imaginei assim.

Quando vejo o prédio, entro e vou direto para a recepção, a recepcionista me vê e me libera para entrar.

Entro no elevador, e aperto o botão. Era estranho vir aqui, parecia muito tempo, parecia que eu estava bem de alguma forma. E acho que era assim que ele queria que eu me sentisse. As portas elevador se abrem, e eu vou até a porta da sala dela.

- Pode entrar - ouço ela dizer.

Então eu abro a porta, e a mesma dá um sorriso de "eu sinto muito". Eu entro em seu consultório, e sento no sofá, a mesma fecha a porta e senta em sua poltrona.

- Como está? - ela pergunta.

Porque estou aqui afinal de contas? Eu nem vou falar nada, não tenho o que falar, apenas vim aqui para tentar conversar.

- Seu pai me disse que você não fala nada, desde do ocorrido. Mas talvez, falaria aqui - ela diz, enquanto anota algo em seu caderno.

Eu não sei por onde começar, tenho medo de começar a desabar quando começar a falar, e não quero isso, eu não quero isso agora.

- Eu posso ficar falando com você, e você respondendo para sim mesma, mas posso ficar calada esperando você falar - ela diz, e se ajeita em sua poltrona.

Como costume, me deito em seu sofá, e fico de cabeça para o teto. Eu preciso falar, mas o que...

- Você quer me responder escrevendo? - a mesma pergunta.

Faço que sim com a cabeça, e a mesma me dá várias folhas de sulfite.

- Como está se sentindo? - ela pergunta.

Na verdade, não sei, eu apenas estou tentando melhoras, e isso de ficar relembrando as coisas está me ajudando... eu acho. "podemos pular".

- Como lidou com o hospital? - ela pergunta.

São perguntas tão... normais, pensei que ela ia perguntar qual era o nome do meu filho, ou como tudo isso aconteceu, mas não, ela está dando toda atenção a mim.

- Alasca, preciso que... você tente, mesmo que seja difícil. Preciso que tente falar comigo, tente falar sobre seus sentimentos

Não é tão fácil como parece. Voltar a ser alguém que você não é a muito tempo, é complicado e as vezes doloroso. Fingir estar feliz por muito tempo, faz com que você pare de sentir as coisas, ou seja, não se abala com nada, e sempre tudo está bom. Mas, tem mentiras que se a gente repete demais, podemos achar que são verdades, e tem verdades que não podemos esconder, por mais que queiramos afirmar que são mentiras. O amor e qualquer uma dessas formas é uma dessas verdades.

- Vamos Alasca, tente isso pelo seu filho - a mesma insisti.

Eu não estava aguentando aquela pressão, era algo estranho e eu ainda não estava preparada para aquilo.

Me levanto rapidamente, e pego minhas coisas, abro a porta e saio rapidamente dali. Como o elevador estava demorando, resolvo pegar a escada. Mas quando lembro do dia que cai, minha cabeça começa a doer muito e começo sentir tudo aquilo novamente.

Porque você não vai de uma vez?... digo dentro de minha cabeça.

Volto a descer as escadas, e quando saio o ar puro me faz ter mais controle da minha respiração.

Tantas pessoas naquelas ruas andando, correndo, sorrindo, tudo era muito perturbador, porque eu não via isso, não via ninguém com esta felicidade.

A realidade pode ser muito pior do que você pensa. A pior realidade, é aquela que você não tem certeza da sua felicidade, e quando entra nas fantasias que sua cabeça criou, fica mais difícil sair. 

Be Free - você vive em mimWhere stories live. Discover now